Responsabilidade pessoal e social do profissional

AutorValdir Cimino
Páginas155-180
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RESPONSABILIDADE PESSOAL E SOCIAL
DO PROFISSIONAL
A par dos termos discorridos sobre a formação do profissional,
ponto de partida para nossas reflexões sobre a responsabilidade pessoal e
social do profissional, diante da busca em coadunar nossos pensamentos à
linha proposta pela Política Nacional de Humanização, não se permite
engessar em regras estanques. Há a necessidade de, sobretudo, pensarmos
este importante viés quanto à essa prática da medicina.
Como qualquer outra atividade, caracteriza-se pela relação de
consumo, portanto, seria legítimo indagar se houve algum ponto dessa
trajetória em que os responsáveis pelo sistema de saúde perderam de
vista o objetivo que se traduz nas responsabilidades assumidas ainda ao
tempo da formatura, enquanto prestaram juramento solene, colocando
seu serviço à disposição de atendimento prestativo. Pergunte-se se terá
sido a atividade de consumo que nos fez perder a humanidade?
Essa sugestão inicial encontra razão em questionamentos que
remontam ao ano de 2003, registrados na obra “Viva e Deixe Viver:
histórias de quem conta histórias”, de autoria de Maria Helena Gouveia,
escrita sob nossa coordenação frente à Associação Viva e Deixe Viver.72
72 GOUVEIA, Maria Helena; CIMINO, Valdir (coord.). Viva e Deixe Viver: histórias
de quem conta histórias. São Paulo: Globo, 2003.
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VALDIR CIMINO
Pensemos a partir do que naquela obra se encontra registrado:
Tudo pode ser comprado e, portanto, vendido. Logo, é tudo uma ques-
tão de marketing? É assim também com o trabalho na área da saúde? É
apenas um produto, ou tornou-se um produto? E, em caso de ter se
tornado, por que a desconsideração por um tratamento humanizado?
Permitindo-nos uma pequena digressão a partir dessa reflexão,
fazendo até certo ponto uma relação com a atividade de consumo,
tomemos de empréstimo a lição de Maria Helena Gouveia em con-
sonância com nossa voz, a qual temos procurado fazer-se ouvir:
“Vivemos em uma sociedade de consumo cujo foco essencial é o
consumidor. Sem este não há mercado, ainda que haja oferta”. É em
torno desses fatores que gira o mercado. E, por isso, surge o marke-
ting: pesquisam-se as necessidades, as vontades que geram a procura
e alimentam a oferta.
Dito isso, lembrem-se também de outra importante lição de Ma-
ria Helena Gouveia, por tudo registrado em uníssono com nosso enten-
dimento: “Essa é uma via de mão dupla. Somos, ao mesmo tempo,
consumidores (do mercado) e consumidos (pelo mercado)”. O modo
como tratamos o consumidor reflete sem sombra de dúvida em nós
mesmos e na qualidade do produto que oferecemos.
Marketing, segundo a Profa. Aylza Munhoz73 em sua tese de
mestrado apresentada à FGV, “é o conjunto de atividades que têm por
objetivo a facilidade e realização de trocas, isto é, mercado em ação.
Rudimentar ou avançado existe desde sempre”. E continua a professo-
ra: “E pode e deve ser usado a favor do ser humano e não apenas usar
o ser humano como ferramenta para movimentar o sistema”.
Cumpre ressaltar que, por diversos motivos, o marketing passou
a ser acusado de ser o grande causador de um decréscimo no nível de
qualidade de vida, levando o homem a distanciar-se de um modo de
vida solidário, o que vale também para as atividades na área da saúde.
73 MUNHOZ, Aylza M. Pensamento em Marketing no Brasil: um estudo exploratório.
(1982) Dissertação de mestrado. FGV, São Paulo, p. 94.

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