Seis propostas de Ítalo Calvino para o próximo milênio

AutorMaria de Lurdes Stuani Fontana
CargoProfessora; graduanda do curso de Administração de RH na Faculdade da Serra Gaúcha; cursos técnicos em Matemática Financeira, Recursos Humanos, Rotinas Trabalhistas
Introdução

O processo de modernização transforma não só o perfil pessoal, mas todas as formas de linguagem, que, em meio às crises agudas do comportamento humano, são fatalmente atingidas na sua essência, trazendo profundas mudanças sociais e culturais em diferentes níveis de linguagem. Na linguagem contemporânea, volatilizada pelos meios de comunicação social, e ao mesmo tempo confusa no entendimento do ser universal, muitos autores buscam trazer à tona situações já citadas pela literatura do século passado, fazendo analogias e conclusões acerca de fatos cíclicos, repetitivos de situações óbvias vivenciadas em cada tempo.

Se a linguagem literária para o nosso tempo requer rapidez, leveza, exatidão, multiplicidade, visibilidade e consistência, conforme a afirmação do autor Ítalo Calvino, certamente o mesmo contextualiza o fato de que a velocidade e os recursos visuais são palavras de ordem nos processos de comunicação. Nós, leitores, temos que buscar novas posturas frente às exigências das mais diversas formas de comunicação com rapidez e de maneira mais leve e eficaz.

O autor traz à nossa realidade fatos que não são novos, porém, da maneira com que o mesmo trata cada assunto, traz à cena uma imagem literária, com sinais indefinidos, mas que podemos falar deles. Os sinais que o autor usa são paradoxos, com pontos diferentes, mas que podem ser distinguidos de outros pontos, por serem sinais, com imagens possíveis de entender cada sinal dentro das suas narrativas.

Acreditamos que Ítalo Calvino redimensiona o tempo dentro das expectativas de que, neste milênio, a nossa história tem que ser enriquecida pela leitura. Se o passado passa a ser o futuro que começa, e assim a história se faz no diaadia no seu acontecer, sempre com possibilidades de novos desafios, novos problemas e novas contribuições à sociedade, com princípios éticos de valorização, em que tudo é linguagem na descrição de quem vive e vê.

Leveza

Ao nos deparamos com alguns conceitos que definem critérios e fazemos suposições de como seria um determinado tema, nos deparamos com situações contraditórias e muitas vezes paradoxais. Ora vejamos: se a leveza é o contrário de peso, temos que conviver com a idéia de que, quando sentimos a leveza é porque já experimentamos o peso. É, de fato, bíblica uma das idéias mais compreensíveis sobre leveza. Vinde a mim vós todos que estais sobrecarregados sobre o peso dos vossos pecados... eu vos aliviarei... meu peso é leve. Com certeza, os pecados que hoje enfrentamos não são os mesmos a que Jesus se referiu há mais de dois mil anos. Mas o fato de que para sermos leves temos que dominar o peso nos faz ter a convicção, e aí concordamos com Calvino, que o conhecimento nos torna leves, e, por conseguinte, é um grande desafio da nossa época, principalmente voltado para dentro das organizações.

Levemos em conta um determinado cidadão sem experiência, ini¬ciando um trabalho numa empresa. No início, o trabalho é pesado, mas com o tempo adquire confiança, conhecimento, o seu trabalho deixa de ser penoso e dá lugar à leveza. Imaginemos que esse indivíduo tornese fundamental na organização, tornese um homem de peso, e por ele estar satisfeito sentese leve, porque conhece o que faz, domina as regras do jogo, pois o conhecimento lhe dá poder. E aí chegamos à conclusão que leveza se adquire com o tempo. Mas são ambíguas as possibilidades de não falar da leveza e do peso juntos, porque ambos se tornam paradoxos, e um não existe sem a presença do outro. Ora, vejamos: É o caso da neve, é leve. Com o passar do dia nevando, tornase pesada, densa. É o caso dos romances em que a mulher anseia pelo peso do homem e, depois, sentese leve. É o caso da brisa suave na manhã e o vento em dia de temporal. É o caso do humor, prazeroso, e da raiva, inconseqüente. Nada é admirável em sua beleza se não conseguimos igualmente entender o seu peso.

O autor Ítalo Calvino, na sua proposta sobre Leveza, vai além dos conceitos terrenos, mensuráveis, contrapondo ao peso a idéia da leveza do pensamento. Dando asas imaginárias às diversas formas de linguagem, onde nem o tempo nem as coisas terrenas são importantes.

Tratase da leveza do despojamento da linguagem, trazendo à tona de forma visível o que muitos não vêem, mas sentem, do raciocínio criando formas mentais e psicológicas com elementos sutis e altamente abstratos, trazendo à tona os sentimentos imperceptíveis ao mundo externo, mas fortemente presente nas suas formas de pensar. É latente o sentimento imaginário que nos leva a lugares jamais vistos, sem censura, sem receio, sem medo. E, por fim, a imagem figurativa da leveza que assume a forma, que outros possam decifrálos e ser cúmplices dos mesmos raciocínios. Os processos mentais, para estabelecer formas de comunicação, são fundamentais para atingirmos os níveis de linguagem. A leveza é, sem dúvida, um desses processos de que o mundo carece. Um dia, talvez, a carência seja suprida quando entendermos que existem muitas formas de criar e de imaginar. Indo além dos sentimentos descobrimos o que nos torna leves. As massas, através do conformismo, comprimem e levam a lugares desconhecidos e pesados. O prazer está na simplicidade da leveza, do sonho e da realidade de cada dia, na forma como ousamos usar a nossa linguagem de comunicação com o nosso mundo.

Rapidez

Quando alguém pronuncia a palavra rapidez, logo nos vem à mente a velocidade de algo, alguma coisa no tempo e no espaço de forma material. Nos tempos modernos, muito se tem falado da rapidez como forma de ser ágil, versátil, porque parece que o tempo nos cobra se não formos assim: Pensar rápido, fazer rápido, comer rápido, escrever rápido, sentir rápido... É como se vivêssemos num tempo, só agora, que é fugaz. Se...

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