?Que significa pensar desde America Latina?

AutorBachini, Natasha
CargoResena de libro

Juan Jose Bautista S.

?Que significa pensar desde America Latina?

Ediciones Akal, S.A., 2014.

Juan Jose Bautista e um sociologo e filosofo boliviano, reconhecido pelos seus trabalhos criticos a racionalidade moderna e ao eurocentrismo. De origem indigena, formou-se em Sociologia pela Universidad Mayor de San Andres, e fez mestrado e doutorado em Filosofia na UNAM, no Mexico, onde conheceu Enrique Dussel e Franz Hinkelammert, autores dos quais se tornou discipulo. Dentre as suas obras, destacam-se Hacia una critica etica de la racionalidad moderna (2013), Hacia la descolonizacion de la Ciencia Social Latinoamericana (2012), Hacia una dialectica del desarrollo de la vida (2012) y Critica de la razon boliviana (2010).

Em ?Que significa pensar desde America Latina?, Bautista propoe a elaboracao de uma filosofia transmoderna, que tenha como horizonte cognitivo a America Latina e pense a realidade por meio de uma dialetica do desenvolvimento e da reproducao da vida.

Inserido no debate pos-colonial, o autor e influenciado pelas obras de Heidegger (O que significa pensar, 1972), e especialmente, pelos pensamentos de Marx, Dussel e Hinkelammert. A partir desse aporte teorico, Bautista reflete sobre as mazelas produzidas pela modernidade no territorio latino-americano, que se estendem do ambito economico a esfera intelectual na visao do autor.

Sob uma perspectiva muito proxima as de Maldonado-Torres (2008) e Mignolo (2010) (1), Bautista entende a criacao da Filosofia moderna como uma estrategia de dominacao e negacao dos povos nao-ocidentocentricos, suas culturas e seus saberes. Sua pretensao a universalidade, a racionalidade e a superioridade sao apontadas pelo autor como fundamentais aos processos de consolidacao do sistema capitalista e de colonizacao dos povos nao-europeus, cujas consequencias sao a desigualdade, a pobreza, a exclusao e o racismo.

Por isso, Bautista entende que ao refletirmos sobre a realidade a partir de teorias e conceitos da ontologia moderno-ocidental, estamos produzindo um pensamento situado e local, e reproduzindo esses processos de dominacao e colonizacao.

A respeito do processo de colonizacao do conhecimento, Bautista observa como diversas obras acerca do pensamento filosofico mundial, como a de Randall Collins (The Sociology of Philosophies. A Global Theory Of Intellectual Change), possuem milhares de paginas, mas nenhuma sequer dedicada ao pensamento latino-americano, como se ele nao existisse. Bautista destaca tambem como propositalmente a Filosofia moderna estabelece o marco do comeco da historia na Grecia Antiga, desconsiderando que esta fora uma colonia egipcia e que houve centros de sistema-mundo anteriores aos gregos, como a China, por exemplo.

Outra critica feita pelo autor nesse ambito se refere a periodizacao ideologica da historia como antiga, medieval e moderna, que afirma a "inevitabilidade modernizadora", como se a modernidade fosse o estagio superior alcancado pela humanidade ao qual todos povos estao predestinados a chegar.

Segundo Bautista, isso ocorre porque a ontologia moderna parte do Ser europeu, do seu territorio e de sua realidade, excluindo a realidade dos demais povos que foram explorados para possibilitar o desenvolvimento e o progresso das economias capitalistas do Norte. Aqui observamos a convergencia de Bautista com os teoricos dependentistas e com os autores do grupo Modernidade/Colonialidade, no sentido que o subdesenvolvimento nao e uma condicao para um processo evolucionista, mas esta, na realidade ligado a expansao dos paises industrializados, de modo que "nao existe modernidade sem colonialidade, ja que esta e parte indispensavel da modernidade". (QUIJANO, 2000, p. 343)

Portanto, para que se construa uma pensar critico sobre a realidade e para que seja possivel supera-la, Bautista defende que a etica da libertacao (2) seja a base da fundamentacao de um pensamento critico latino-americano transmoderno, pois essa parte de uma historia anterior a modernidade, da historia que foi negada pelo processo de colonizacao.

Mas o que seria o pensamento critico transmoderno ou a filosofia transmoderna? Discipulo de Dussel, Bautista define esse conceito dialogando com o livro El encubrimiento del outro (1992) deste autor. Observa, assim, que o prefixo trans nao e sinonimo de pos, visto que nao parte de conceitos modernos para a critica a modernidade, nem significa a negacao niilista da modernidade e do conhecimento por ela desenvolvido, mas a elaboracao de um pensamento e de novas categorias para alem desta, que tenham como locus o que foi sistematicamente negado pela modernidade nos ultimos 500 anos. Nesse sentido, para que de fato se construa uma compreensao total da realidade, o autor entende que e necessario partir nao apenas dos territorios e conhecimentos invisibilizados pelo projeto moderno, mas de uma nova concepcao de etica que valorize, sobretudo, a vida.

O livro se estrutura em tres partes e nove capitulos.

Na primeira parte, intitulada Do pensar, Bautista discute os conceitos e categorias centrais da obra de Enrique Dussel, defendendo-a como um empreendimento filosofico exemplar do que significa pensar desde a America Latina e do pensar ana-dia-letico, que se...

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