Síndrome de Burnout

AutorGleibe Pretti, Marcos Oliveira Santos
Páginas115-142
A Nova Segurança e Medicina do Trabalho
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Síndrome de Burnout
M udanças nos processos de trabalho, tanto em nível de produção quanto de organização,
têm ocasionado maiores exigências na qualidade do serviço prestado e, consequen-
temente, necessidade de desenvolvimento de novas habilidades por parte do trabalhador de
diversos setores.
O impacto do trabalho na saúde física e mental dos prossionais tem sido considerado
importante nos últimos anos. A atividade laboral pode ocupar grande parte do tempo e da
vida dos prossionais que, de um modo geral, dedicam oito horas diárias por um período
médio de trinta e cinco anos ao trabalho. O estímulo ou agente estressante é um elemento que
interfere no equilíbrio homeostático do organismo e o estresse é a resposta a este estímulo,
isto é, a necessidade de aumentar o ajuste adaptativo para retornar ao estado de equilíbrio.
Assim, o estresse tem a função de ajustar a homeostase e de melhorar a capacidade do
indivíduo para garantir-lhe a sobrevivência ou a sobrevida. O estresse quando vinculado ao
trabalho, chamado de estresse ocupacional, refere-se à falta de capacidade do trabalhador
de se adaptar às demandas existentes no trabalho e àquelas que ele próprio percebe. O estresse
ocupacional ou laboral pode, ainda, referir-se ao conjunto de perturbações de cunho psi-
cológico e ao sofrimento psíquico associado às experiências de trabalho, cujas demandas
ultrapassam as capacidades físicas ou psíquicas do sujeito para enfrentar as solicitações
do meio ambiente prossional. Nesse sentido, o estresse caracteriza-se como uma respos-
ta adaptativa do organismo diante de novas situações, especialmente aquelas apreendidas
como ameaçadoras.
Muitas são as abordagens que buscam entender e explicar o estresse, mas os principais
fatores de consenso na literatura, que estão associados com reações de estresse ocupacional,
são divididos em seis grupos, conforme explica Rout e Rout (2002) apud Martins (2011):
1. Fatores intrínsecos ao trabalho: envolvem condições inadequadas de trabalho, turno,
carga horária, remuneração, viagens, riscos, nova tecnologia e quantidade de trabalho;
2. Estressores relacionados ao papel no trabalho: envolvem tarefas ambíguas, conitos
na execução de tarefas e grau de responsabilidade;
3. Relações no trabalho: envolvem relações difíceis com o chefe, colegas, clientes e
subordinados;
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4. Estressores da carreira: envolvem falta de perspectiva de desenvolvimento, insegu-
rança devido a reorganizações funcionais ou crises que afetam o emprego;
5. Estrutura organizacional: envolve falta de participação em decisões, estilos proble-
máticos de gerenciamento e pobre comunicação no trabalho;
6. Interface trabalho-casa: envolve os problemas que surgem da relação de conito
entre as exigências do trabalho e familiares.
No entanto, esse processo é individual, com variações sobre a percepção de tensão e
manifestações psicopatológicas diversas. Pode gerar uma diversidade de sintomas físicos,
psíquicos e cognitivos, por requerer respostas adaptativas prolongadas assim como superar,
tolerar ou se adaptar aos agentes estressores, os quais podem comprometer o indivíduo e
as organizações. A saúde mental abrange, entre outras coisas, o bem-estar subjetivo, a autoe-
cácia percebida, a autonomia, a competência e a autorrealização do potencial intelectual e
emocional da pessoa. Tal conceito associado à saúde do trabalhador indica que estar saudável
ou não pode ser determinado pela interação do trabalhador, suas estruturas de suporte
mental e os elementos do processo de trabalho. No mundo do trabalho contemporâneo,
as formas utilizadas de disciplinamento para o aumento da produtividade e da qualidade
dos produtos podem trazer consequências sérias e imediatas à saúde do trabalhador. As
formas de organização do trabalho e as condições de trabalho impostas, caracterizadas pelo
aumento das pressões produtivas, isolamento gerados pelas novas relações competitivas e
de busca de destaque para manutenção do emprego, quanto mais intensas e precárias, mais
desgastam o trabalhador, anulando-os como sujeito e cidadão e sendo responsáveis pelo
aumento de algumas patologias corporais e mentais da atualidade, dentre as quais estão a
Síndrome de Burnout.
O termo Burnout foi primeiramente divulgado pelo médico Herbert Freundenberger
em uma Revista de Psicologia em 1974, porém, Maslach e Pines, psicólogos sociais, foram os
divulgadores do termo em 1977, no Congresso Anual da Associação Americana de Psicólogos.
Burn, em inglês, signica queimar, out, é algo fora, exteriorizado. Herbert Freudenberger
foi um médico psicanalista que começou a observar as pessoas que trabalhavam com ele,
e percebeu que viviam fases graduais de desgaste no humor e desmotivação, começan-
do aí estudos para identicar qual era a origem. Burnout é uma resposta ao estresse laboral
crônico e se trata de uma experiência subjetiva de caráter negativo que é composta por
cognições, emoções e atitudes negativas no ambiente de trabalho. Nos anos de 1975 e 1977,
complementou-os com a inclusão dos comportamentos de fadiga, depressão, irritação, abor-
recimento, sobrecarga de trabalho, rigidez e inexibilidade. O Burnout é caracterizado pelo
conjunto de sinais e sintomas físicos e psíquicos citados no parágrafo anterior, consequentes
da má adaptação ao trabalho e com intensa carga emocional e pode estar acompanhado de
frustração em relação a si e ao trabalho. A Síndrome de Burnout (SB) ou “do Esgotamento
Prossional” é uma síndrome psicológica decorrente da tensão emocional crônica vivenciada
pelo trabalhador, caracterizada por exaustão emocional, despersonalização e baixa realiza-
ção pessoal que pode acometer prossionais cujo trabalho requer contato direto com o pú-
blico, especialmente quando envolve cuidados e atividades assistenciais. Apesar de serem
crescentes os estudos acerca da síndrome, o combate a ela pode ser considerado um fator
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