Sujeito Idoso na Sociedade Pós-Moderna: Sociabilidades Possíveis

AutorSolange Beatriz Billig Garces
CargoEspecialista em Educação; Mestre em Ciências do Movimento Humano; Doutoranda em Ciências Sociais-UNISINOS. Profª da UNICRUZ - Universidade de Cruz Alta.
Páginas54-71

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Solange Beatriz Billig Garces1

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1 PÓSMODERNIDADE E SOCIABILIDADES POSSÍVEIS

O termo pósmodernismo remonta ao fim da década de 50, usado por Irving Howe e Harry Levin, lamentando a queda de nível do movimento modernista, utilizado pela primeira vez nos anos 60, por críticos literários (Leslie Fiedler e Ihab Hassan), mas foi somente na década de 70 que se aplicou com mais veemência primeiramente à arquitetura e depois à dança, ao teatro, à pintura, ao cinema e à música, como explicita Huyssen(1992).

O mesmo autor reitera que Kristeva e Lyotard passaram a usar o termo pósmodernismo, na França, e Habermas, na Alemanha, quando se adotou então a expressão na Europa, via Paris e Franckfurt., tornandose nos anos 80 um dos “mais disputados campos da vida intelectual das sociedades ocidentais”(p.25)(modernismo /pósmodernismo nas artes e modernidade/pósmodernidade na teoria social).

A pósmodernidade traz o fim das metanarrativas a qual dá lugar aos jogos de linguagem, isto é, o fim das visões totalizadoras e universalistas. A pósmodernidade busca a compreensão sob o foco das sensibilidades e das interações em uma dimensão comunitária e grupal. O que não quer dizer uma recusa da modernidade, mas de uma tensão constante e dinâmica entre estes processos.

A sensibilidade pósmoderna do nosso tempo é diferente tanto do modernismo quanto do vanguardismo precisamente porque coloca a questão da tradição e da conservação cultural como tema estético e político fundamental, ainda que nem sempre tenha êxito. Porém, o que acho mais importante no pósmodernismo contemporâneo é que ele opera num campo de tensão entre tradição e inovação, conservação e renovação, cultura de massas e grande arte, em que os segundos termos já não são automaticamente privilegiados em relação aos primeiros; um campo de tensão que já não pode ser compreendido mediante categorias como progresso versus reação, direita versus esquerda, presente versus passado, modernismo versus realismo, abstração versus representação, vanguarda versus kitsch. Parte da mudança[...] reside no fato de que estas dicotomias, básicas para as análises clássicas do modernismo, tenham caído por terra.(HUYSSEN, 1992, p. 74)

Neste sentido, SchererWarren e Gadea Castro (2005) explicitam que “essas discussões negligenciaram o caráter particular e específico de uma modernidade em tensão contínua” entre um projeto de racionalização objetivando o disciplinamento, a homegeneização e a uniformidade e outra dimensão sociocultural que privilegia a subjetividade.

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O pósmodernismo está longe de tornar o modernismo obsoleto. Pelo contrário, ele joga uma nova luz sobre o modernismo e se apropria de muitas de suas estratégias e técnicas estéticas, inserindoas e fazendoas trabalhar em novas constelações. O que se tem tornado obsoleto, contudo, são as codificações do modernismo no discurso crítico que, embora sublimamente, se baseiam numa visão teleológica do progresso e da modernização. Ironicamente, tais codificações normativas e geralmente redutivas têm preparado o terreno para o repúdio do modernismo que leva o nome de pósmoderno(HUYSSEN, 1992, p. 75)

Gadea Castro, em seu livro Paisagens da Modernidade (2007), sugere que se analise, na pósmodernidade, as sociabilidades e não mais as estruturas, isto porque hoje se analisa as interações sociais que ocorrem no mundo da vida e não mais apenas no mundo sistêmico. Inspirado em Mafesoli, Gadea Castro cita que os diferentes espaços de sociabilidade encontramse nos diferentes espaços de vanguarda artísticocultural, nos movimentos e lutas sócioétnica- indígenas, na prisão, na educação, na violência e no amor. Segundo o autor, compreender a violência, não se leva a tematizála como exceção a ser erradicada pelas instituições sociais, mas como elemento presente nas interações, na sociabilidade. É a compreensão nas forças do conflito e da comunhão.

De fato, vivese uma sociabilidade que é presentista e neotribal, pois na pósmodernidade enfatizase o presente em detrimento do futuro que é valorizado pela modernidade.

A pósmodernidade é presentista, porque traz a complexidade das relações sociais, onde elementos da modernidade e da pósmodernidade coexistem na cultura, nos modelos referenciais individuais e nas representações sociais havendo uma prioridade pelo presente, onde as condutas individuais e coletivas são imediatas. Também é neotribal, visto que a neocomunidade surge como organização social, com características de heterogeneidade, diferença, reconhecimento social por proximidades e sociabilidades.

Nesta direção Aronowitz (1992) explicita que “a transformação na sensibilidade anunciada por Nietzsche a quase um século, finalmente chegou” (p. 151, 152) e reforça que “ A grande maioria dos discursos pósmodernos se direciona para a desconstrução dos mitos do modernismo, ao mesmo tempo em que mantém a modernidade como o melhor contexto para o florescimento de suas atividades diversas e ecléticas.” (p. 151). Assim, o pósmodernismo marca a renúncia “ao pensamento fundador, às regras que governam a arte e aos „discursos de base‟

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liberal e marxista”. Após a segunda guerra as transformações foram então políticas e culturais. (p. 152)

Além disso, outra característica é o pluralismo dos sujeitos e faz com que haja proliferação de espaços políticos radicalmente novos e diferentes, que se pode chamar, na verdade, de Democracia Radical, baseados por adução, expostos através de Laclau e Mouffe (1987).

Es a esta pluralidad de lo social a la que se liga el proyecto de uma democracia radical, y su posibilidad emana directamente del carácter descentrado de los agentes sociales; de la pluralidad discursiva que los constituye como sujetos, a la vez que los desplazamientos que tienen lugar en el seno de esa pluralidad.(LACLAU; MOUFFE, 1987, p. 204).

Assim, dizse que a nova práxis pósmoderna vem como possibilidade para uma nova política, um novo caminho para a chamada Democracia Radical.

Este movimento surge com Habermas, o qual parte do pressuposto de que a modernidade é um projeto inacabado, onde o pósmoderno rejeita a razão universal, substituindo a sociedade (instituições) pela linguagem (narrativas). É o que Habermas chama de Ação Comunicativa (HABERMAS, 1983). Pondera então Aranowitz (1992, p. 159) que Habermas traz “a rejeição a razão universal como fundamento dos assuntos humanos.”

Laclau e Mouffe(1987) citados por Aranowitz(1992) vão ao encontro desta ideia ao exporem que “a política pósmodernista é o esforço para combinar a substituição da sociedade pela linguagem como objeto do conhecimento, com a identificação de novos agentes políticos que possam substituir as classes” (p. 160), sugerindo então a Democracia Radical como uma nova política de interesses.

Por certo, Aranowitz(1992, p. 161), conclui que:

[...] a expressão Democracia Radical não postula como imaginário futuro um imaginário novo, mas o existente: os movimentos sociais constituídos a partir de posições do sujeito subordinadas sempre lutam pela autodeterminação como campo de suas práticas e prescindem de justificativas mediante categorias transcendentes.

Acreditase, também que o pósmodernismo transita pelo modernismo, onde nada é fora da linguagem, onde as ideias não se encontram apenas na revolução e na política, mas na estética, fazendo surgir novas formas de subjetividade (imagens, corpos, linguagens).

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O pósmodernismo explora assim as contradições, contingências, tensões e resistências internas da unilearidade histórica da modernidade, ou seja, é a sensibilidade pósmoderna colocando em questão a tradição e a conservação cultural como tema estético e político (BEYME, 1994).

Beyme(1994,p. 143) expressa que: “El pensamiento postmoderno se considera a si mesmo popular em contraposicion al elitismo de la modernidade clasica”. Para este autor a pósmodernidade vai ser um estilo de vida, onde o indivíduo possui uma categoria abstrata, com capacidade de reflexão individual. Traz princípios como: a revolução do conceito de tempo e a consciência de viver uma época de transformações históricas; a irreligiosidade da modernidade; a distância irônica pelo prazer e lúdico; a aceitação da sociedade de consumo pósindustrial e o abandono do conceito de sociedade. O que na verdade este autor contribui ao dizer que para ser moderno, primeiro precisa ser pósmoderno e que as críticas à modernidade já eram pósmodernas.

A ação (práxis) pósmoderna é um deslocamento, ou seja, o sujeito pósmoderno desconstrói o já dado para mostrar os interesses do poder, e com isso surgem os chamados novos movimentos sociais (LACLAU; MOUFFE...

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