O telemarketing e a pessoa

AutorMônica Sette Lopes
Páginas121-124
O telemarketing
e a pessoa59
Ela cuida de todos na casa. Sorriso constante. Bom
humor constante. Atenção constante. Uma capacidade de ou-
vir como não há no mundo. Contou um dia a história sobre
como criou os lhos tão perto e tão longe dos problemas da
violência urbana, do tráco, das más companhias. Das notícias
cheias de sangue que saem no jornal sobre o bairro onde mora.
Enchia a mesa de delícias e convocava todos os meninos da
vizinhança para se sentar em volta dela e estudar. Coxinhas,
empadões, salpicão. Bolos. Sua arma era tudo o que a mistura
das receitas na cozinha pode fazer. Um desses meninos hoje
estuda medicina e disse que sua vida ainda está sustentada na-
quela mesa de afagos. Durante o dia, enquanto trabalha, o te-
lefone só toca para ela nas urgências, nas dores, na morte. “Ai,
meu Deus. O que será agora?”, ela se pergunta, numa aição
sincera. Houve um dia em que ela própria atendeu e era um se-
questrador de mentira. A voz de lho estaria gritando do outro
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Prestando as necessárias contas, devo admitir que este trabalho foi in-
uenciado pela pesquisa de meu aluno Filipe de Souza Sickert em torno
da justiça e da ética no consumo. Vai para ele então, como prova do que os
alunos fazem com a gente.

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