The leading role of German students in the events of May 1968/ O protagonismo da juventude estudantil alema no Maio de 68.

AutorTeixeira, Sandra Oliveira

Introducao

No ano de 2018, foi comemorado o 50 aniversario do chamado Maio de 68. E preciso lembra-lo, menos pelo sentimento nostalgico e mais pela possibilidade de se inspirar em resistencias e licoes historicas, em seus acertos e erros, para fortalecer e reinventar as lutas contra a exploracao da forca de trabalho e contra as diversas formas de opressao na sociabilidade burguesa. Com esse espirito, este ensaio tem por objetivo sistematizar algumas caracteristicas do movimento estudantil nos anos 1960 em Berlim Ocidental, pais palco central da Guerra Fria. Trata-se de uma primeira aproximacao ao tema e, desse modo, certamente apresentara algumas lacunas sobre esse tempo historico.

A onda Maio de 68 manifestou-se para alem da temporalidade de maio e do ano de 1968, bem como das fronteiras de Paris (Franca). No mundo, os anos 1960 foram palco do enredo concreto da Guerra Fria, de ciclos de ascensao e de curtos lapsos de depressao do capitalismo, bem como de uma diversidade de ondas de protestos contrarios as estruturas sociais, politicas, culturais e economicas. Estas ondas de manifestacoes, constituidas de diferentes ingredientes, sacudiram diferentes partes do mundo: Estados Unidos, Senegal, Franca, Mexico, Alemanha, Argelia, Brasil, Argentina, Japao, Italia, Holanda, Espanha e China, entre outros (DREYFUSARMAND, 2008).

Diferentemente da experiencia vivenciada na America Latina, na qual a participacao de estudantes na vida politica nao era um fenomeno novo, a explosao de Maio "consagrara definitivamente a militancia politica como um dos aspectos mais importantes dos movimentos estudantis modernos" nos paises capitalistas centrais, considerando a politizacao de movimentos estudantis na Franca, Italia, Alemanha e Estados Unidos (MARINI, 2016).

No caso dos movimentos estudantis latino-americanos, a novidade foi o surgimento de novas caracteristicas que os aproximam de elementos que marcaram movimentos dos paises capitalistas centrais, mas que se expressaram segundo as particularidades em cada pais latino-americano. Do conjunto dessas caracteristicas, Marini (2016, p. 140) destaca dois pontos:

a crescente mobilizacao das massas estudantis, rompendo com a acao das minorias vanguardistas de antigamente e tambem uma definicao ideologica mais nitida que, em vez de fundar a acao sobre os problemas sociais em geral, traduzidos em palavras de ordem abstratas e estranhas a consciencia estudantil, da lugar a militancia fundada sobre uma consciencia revolucionaria do papel dos estudantes na luta de classes. Como bem analisou Marini (2016), a politizacao do movimento estudantil na Alemanha foi vivenciada nos anos 1960. Em territorio alemao, a partir de 1965, emergiu uma onda de movimentos de estudantes na Republica Federal da Alemanha (RFA), especialmente na Universidade Livre de Berlim, sob influencia de revolucoes e lutas armadas que ocorriam em Cuba, Congo e Vietna (DUBOIS, 1998), bem como de ideias marxistas (Karl Marx, Che Guevara, Herbert Marcurse). Em sintese, as insurreicoes giravam em torno de oposicoes a guerra americana no Vietna, a ditadura do xa iraniano, ao monopolio da imprensa Springer, as estruturas autoritarias, a ordem estabelecida, a ordem industrial e suas consequencias na sociedade, a reforma universitaria, a coalizao governamental, a legislacao de estado de emergencia (Notstandsgesetze) e ao nao enfrentamento do passado nazista pela sociedade alema. Tais insurreicoes tambem se moviam em prol da solidariedade ao chamado "Terceiro Mundo".

Tendo isso em vista, este ensaio esta organizado em duas secoes, para alem da introducao e consideracoes finais. A primeira parte sistematiza brevemente o contexto historico de eclosao de manifestacoes estudantis nos anos 1960 na Alemanha Ocidental. Em seguida, apresenta-se a dinamica das manifestacoes estudantis nesta epoca em Berlim Ocidental, cidade palco central da Guerra Fria.

Solo historico da vaga de manifestacoes na Alemanha Ocidental

Para apreender as particularidades do Maio de 68 na Alemanha, e preciso situa-lo no contexto politico-economico-cultural alemao ocidental. Neste solo historico, e possivel aproximar-se de algumas razoes que explicam a explosao de manifestacoes estudantis na RFA em 1965.

Ate meados dos anos 1960, a Alemanha Ocidental, territorio dividido em zonas de ocupacao pelos Aliados (Estados Unidos, Franca e Reino Unido) e pela construcao do Muro em Berlim (1961), sob governo do chanceler federal Konrad Adenauer e posteriormente de Ludwig Erhard (1), vinculados a Uniao Democrata Crista (CDU), ainda vivia efeitos do "milagre economico" (Wirtschaftswunder) fundado na ideia de economia social de mercado, um projeto inspirado no ordoliberalismo. O sucesso deste "milagre economico", como analisou Hagemann (2000), contribuiu para o dominio do governo de centro-direita na cena politica dos anos da Guerra Fria.

Ao mesmo tempo, o regime democratico parlamentar, formado pela coalizao CDU e Partido Liberal Democrata (FDP) no periodo 19611966 e, posteriormente, pelo CDU e Partido Social Democrata Alemao (SPD) apos 1966, foi marcado pela quase inexistencia de uma oposicao parlamentar. Alem disso, a direcao do governo se guiou pela convocacao de esforcos coletivos para a reconstrucao da sociedade alema num contexto de despolitizacao do passado nazista e do processo da Guerra Fria (BOROWSKY, 2005).

Nesse tempo historico, o governo foi complacente com o historico nazista quando permitiu que integrantes deste extinto regime ocupassem cargos na politica da Alemanha Ocidental. Um exemplo foi Hans Globke, que se tornou um dos conselheiros do governo Adenauer e, anos antes, em 1936, teceu comentarios sobre as Leis Raciais de Nuremberg, base juridicolegal para o Holocausto (HAUG, 1999; DW, 2016).

O "milagre economico" do pos-Segunda Guerra Mundial, em 1966, foi tensionado por um enfraquecimento do crescimento economico. A timida queda do crescimento economico, no inicio dos anos 1960, foi mais um dos ingredientes que provocaram pelo menos tres efeitos: a formacao da grande coalizao CDU e SPD; a formacao da Oposicao Extraparlamentar (APO--Ausserparlamentarische Opposition) e a revitalizacao de tendencias neonazistas, quando teve sucesso temporario o partido ultradireitista chamado Partido Nacional Democratico (NPD) (BOROWSKY, 1998).

Essa crise foi amortecida por um programa governamental de estabilidade e crescimento, baseado na diretriz de "direcao global"...

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