Imagético e História: o visível e o invisível no cotidiano laboral da perícia criminal

AutorNeusa Rolita Cavedon
CargoDoutora e Mestre em Administração pelo PPGA/EA/UFRGS
Páginas4-31
http://dx.doi.org/10.5007/1984-8951.2012v13n103p4
Imagético e História: o visível e o invisível no cotidiano laboral da
perícia criminal
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Imagery and History: the visible and invisible in the daily work of
criminal expertise
Neusa Rolita Cavedon
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Resumo
O objetivo do trabalho consiste em proceder a uma análise das fotografias
constantes nos laudos elaborados pelos peritos que integram o Departamento de
Criminalística, de modo a desvelar o visível e invisível do cotidiano laboral e urbano
desde uma perspectiva histórica, tendo por método a etnografia sustentada pelas
técnicas de análise de documentos, entrevistas e observação participante. A
fotografia como documento integrante do laudo pericial traz, além do real, a
representação do perito sobre a dinâmica do crime. Essa ambiguidade faz com que
desde 1947 a posição das fotos no laudo venha sendo objeto de discussão pelos
profissionais da área.
Palavras-chave: Imagético. História. Perícia Criminal. Etnografia.
Abstract
The aim of this work is to analyze the photographs contained in reports prepared by
the experts of the Department of Criminology in order to reveal the invisible and
visible on daily urban and labor, from a historical perspective. Ethnography is the
method used, and it is supported by the technique of documents analysis, interviews
and participant observation. The photography as a document related to the expert
report also brings, besides the real aspect, "the representation" of the expert about
the crime dynamics. This ambiguity provokes that, since 1947, the position of the
photos in the report became subject of debate among the professionals of this field.
Key words: Imagery. History. Criminal Expertise. Ethnography.
1
Trabalho originalmente apresentado no VII Encontro de Estudos Organizacionais da ANPAC,
Curitiba, 20 a 22 de maio de 2012.
2
Doutora e Mestre em Administração pelo PPGA/EA/UFRGS, Mestre em Antropologia Social pelo
PPGAS/UFRGS. Bacharel em Ciências Econômicas pela UFRGS e Bacharel em Administração de
Empresas e Pública pela UFRGS. Professora Associada da Escola de Administração da UFRGS e
Pesquisadora do CNPq. E-mail: nrcavedon@ea.ufrgs.br.
Esta obra foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição 3.0 Não Adaptada
5
Cad. de Pesq. Interdisc. em Ci-s. Hum-s., Florianópolis, v.13, n.103, p.04-31, ago/dez 2012
1 Introdução
A linguagem imagética adquire status diferenciado em face do contexto em
que se insere. No campo das artes, a fotografia ganha destaque por seu caráter
estético; no jornalismo, a fotografia documental tenciona dar credibilidade à narrativa
escrita; no âmbito acadêmico, a foto pode tanto servir como ilustração, como
granjear a condição de substituta da palavra ou, ainda, como sendo capaz de
retratar o cotidiano que fica registrado de maneira visível e também invisível.
O presente artigo tem por objetivo, com base nos pressupostos das Ciências
Sociais e da História, compreender e analisar o papel da fotografia no trabalho da
perícia criminal para além da perspectiva documental que ela possui, na medida em
que o imagético auxilia na reconstituição da dinâmica da violência impetrada de
forma a recriar/representar a realidade do crime.
A análise realizada tomou como foco central 40 documentos datados de
épocas diferentes. A cena no local de crime, a vítima, o entorno, os pertences da
tima, todos esses registros foram observados nas descrições e fotografias que
integram os laudos. Cumpre destacar que esses materiais foram analisados de
forma contextualizada, uma vez que o método empreendido na pesquisa foi o
etnográfico, portanto, observação participante e entrevistas aliam-se ao conjunto de
documentos para efeitos de análise.
Cumpre destacar que a fotografia, independentemente das técnicas
empregadas para obtê-las ou dos equipamentos utilizados, pode ser entendida
como matéria prima para gerar conhecimento, seja conhecimento técnico ou social.
No caso da perícia, a ênfase recai sobre o trabalho técnico necessário para a
elaboração dos laudos.
Para que o leitor se aproprie do saber que se quer problematizar, inicialmente
serão tecidas considerações teóricas sobre o uso da fotografia nas Ciências Sociais
e na História, posteriormente discorrer-se-á sobre o trabalho da perícia, para
posteriormente analisar as fotografias constantes nos laudos desde uma ótica
histórica e social do cotidiano laboral e citadino.

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