Tobias Barreto de Menezes

Páginas197-271
tobias garretio De JVIenezes (1)
OCRITICO
Charles Marlato, falando corajosamente da
evolução dos sentidosque nos põem em con-
tacto, por si epor seus órgãos, com omundo
exterior,diz que oseu numero, e, por conse-
quência, as impressões physicas ou as ideias
que delles decorrem, não podem ser limitados.
Emquanto nós possuímos cinco sentidos per-
feitamente caracterisados, outros seres, muito in-
feriores na escala da zoologia, não têm appa-
rentemente senão um—otacto, que éosentido
primordial, gerador de todos os outros.
Se aphysica moderna poude estabelecer
que todos os phenomenos da natureza :aluz,
osom, ocalor, aelectricidade, são apenas ma-
nifestações do movimento ;do mesmo modo
(1) Orresente artigo faz parte de um livro sobre oautor
dos Estudos Allemães. Em números anteriores desta Revistei
foram publicados dois outros capítulos hoje refundidos e
augmentados.
114 Revista ficademica
podemos affirmar que avista, aaudição, oolfacto,
ogosto não são mais do que modalidades de
um sentido primitivootacto.
Os primeiros organismos vivos que, ha
centenas de milhões de séculos, foram nossos
antepasssados, como oprotoplasma eas mo-
néras, contentavam-se com osentido do tacto
para oexercício das funcções alimentares.
Foi muito depois, devido principalmente
áinfluencia da luz, que osentido da visão se
formou, e, assim, em proporção, os outros.
Vê-se do exposto que os sentidos não se
fizeram para todos os animaes em um dia bí-
blico do Génesis eque elles soffrem, por sua
vez, ainfluencia da lei da evolução ;e, dahi, se
alguns seres simples os possuem em menor nu-
mero, os mais desenvolvidos na serie podem
tel-os em gráo maior, na intensidade ena ex-
tensão.
E' certo, accrescenta Charles Marlato, que
amaior parte das pessoas, não imaginando
quaes seriam esses novos sentidos, se obstinam em
recusar asua possibilidade, oque pouco importa,
porque alógica não deve ser oresultado da
somma de opiniões.
Eoillustre escriptor conclue sinceramen-
te :«E' fácil de conceber que, se os cegos e
os surdos de nascença não têm uma ideia da
vista edas ouças, esses outros cegos não podem
também entrever os novos sentidos em for-
mação. •>
Entretanto, não éum absurdo.
Os pombos, soltos em regiões desconhe-
cidas, encontram adirecção dos seus pombaes
de que estão muitas vezes separados por dis-
tancias enormes ;as andorinhas, que emigram
em certo período edepois voltam ao seu paiz
Faculdade de Direito do Recife 115
de origem, devem obedecer aum sexto senti-
do de que aexistência não pôde ser posta em
duvida.
Para oauctor citado, embora seja uma opi-
nião toda pessoal, como elle próprio confessa,
os phenomenos de ordem psycho -physiolo-
gica que deram nascimento ao espiritismo, ás
theorias theosophistas eoutras, são, talvez, a
revelação de um sexto sentido, em gérmen,
numa parte dos seres humanos, aquella que
comprehende os indivíduos mais vibrateis ou
mais aquinhoados de sensibilidade nervosa, dos
quaes, fora as explorações da ignorância edo
charlatanismo, se destaca por vezes uma força
productora de effeitos mechanicos.
Nossos sentidos, portanto, originados de um
só, podem engendrar outros e, assim como as
ideias que são oresultado das relações entre
onosso meio interno eomundo exterior,
augmentam proporcionalmente ao numero dessas
relações, do mesmo modo succede com os sen-
tidos que servem para as estabelecer.
D'ahi, conclue Marlato, éclaro que indi-
víduos dotados de seis, sete, ou dez sentidos
abrangeriam muito maior numero de conheci-
mentos do que nós, ou, accrescento eu, teriam,
por isso mesmo, aesphera de acção muito mais
larga.
Mas averdade éque elles existemefor-
mam ocontigente dos intellectuaes, indivíduos
que, dispondo de elementos de conquista para
vencerem as resistências da hereditariedade e
do meio pelos impulsos da intelligencia edo
caracter, constituem as forças vivas da civili-
sação.
Elles apparecem, na expressão do auctor
citado, como os seres que apaleontologia de-

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT