Trabalho e educação: Relações a partir do informacionalismo e do construtivismo

AutorFrancisco Coelho Cuogo - Luciana Backes
Páginas97-112
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Trabalho e educação: relações a partir do informacionalismo e do construtivismo
Cadernos de Pesquisa Interdisciplinar em Ciências Humanas Vol. 16 N. 10 8, jan./jun. 2015
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/1984-8951.2015v16n108p97
Trabalho e educação:
Relações a partir do informacionalismo e do construtivismo
Francisco Coelho Cuogo
Luciana Backes
Trabalho e educação: relações a partir do informacionalismo e do construtivismo
Resumo: O presente artigo analisa a relação entre trabalho e educação, considerando os reflexos
dos interesses capitalistas nas práticas educativas, a partir da sociedade industrial. Neste
contexto, as demandas das organizações industriais, visando atender a lógica de acumulação do
capital, afetaram a formação dos indivíduos através de uma educação de cunho positivista e
pragmática. No entanto, a constituição de uma nova economia informacional e a emergência de
uma sociedade com características discordantes da sociedade industrial, potencializadas pelo
uso das tecnologias da informação e comunicação, contribuíram para a manifestação e para a
expressão dos interesses do cidadão, ainda que não estivessem sob a lógica do capital. Mesmo
sendo uma sociedade capitalista, a sociedade informacional, constituiu características que
ampliaram as capacidades de comunicação, interação e relação entre os indivíduos, construindo
relacionamentos em rede e possibilitando a emergência da subjetividade e, consequentemente, o
desenvolvimento da abordagem construtivista na educação. Abordagem esta que se mostra
relevante no contexto sobre o qual discorre-se neste artigo, tendo em vista a valorização de um
sujeito em ação na construção do conhecimento, sendo um alicerce para as novas formas de
interação social e para os processos de aprendizagens presentes na era informacional.
Palavras-chave: Sociedade informacional. Era industrial. Educação; Ciberespaço.
Work and education: relations from informationalism and constructivism
Abstract: This paper examines the relationship between work and education, considering the
consequences of capitalist interests in educational practices, from the industrial society. In this
context, the demands of industry organizations, to meet capital accumulation logic, affect the
formation of individuals through a positivist and pragmatic nature of education. However, the
establishment of a new information economy and the emergence of a society with discordant
characteristics of industrial society, potentiated by the use of information and communication
technologies, contributed to the manifestation and expression of the interests of citizens, even if
they were not under the logic of capital. Even being a capitalist society, the information society,
constituted characteristics that increased communication skills, interaction and relationship
between individuals, building network relationships and allowing the emergence of subjectivity
and hence the development of the constructivist approach to education. An approach which is
shown relevant in the context on which discusses in this article, in view of the appreciation of a
subject in action in the construction of knowledge, and a foundation for new forms of social
interaction and the present learning processes in information era.
Keywords: Informational society. Industrial era. Education. Cyberspace.
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Trabalho e educação: relações a partir do informacionalismo e do construtivismo
Cadernos de Pesquisa Interdisciplinar em Ciências Humanas Vol. 16 N. 10 8, jan./jun. 2015
1. Introdução
O desenvolvimento deste artigo contemplou a análise sobre o capitalismo e o
trabalho cuja relação se mostra relevante para a compreensão das tendências da
educação, bem como de suas práticas ao longo do século XX. O capitalismo no
processo de industrialização, as características do trabalho nesse período e as práticas
educativas na era industrial são abordadas no tópico dois deste artigo. No tópico três
analisamos o surgimento da sociedade informacional. Nesse contexto discorremos sobre
a revolução tecnológica e sobre o uso das tecnologias da informação e comunicação -
TIC´s - que estabelecem novos paradigmas na interação social e nos relacionamentos
humanos, mediados pela potencialidade das TIC´s na construção de uma sociedade
emergente que, embora sendo capitalista, apresenta características distintas da sociedade
capitalista da era industrial. Consideramos, ainda a relação dessa nova sociedade com o
ciberespaço e sua contribuição para o fortalecimento das relações em rede, para a
horizontalização do conhecimento e para a ampliação da abordagem construtivista na
educação do último quartel do século XX e início do século XXI.
As metamorfoses do sistema capitalista ao longo das décadas de 1960 e 70, a fim
de superar a crise pela qual o capital passava, proporcionaram o surgimento de novas
formas de produção e de processos produtivos, novas formas de acumulação do capital e
uma nova economia. Paralelamente a revolução tecnológica da segunda metade do
século XX, sustentada pelas mudanças do capitalismo - na década de 70 - contribuiu
para o surgimento de uma nova sociedade: a sociedade informacional. Nesta, o
desenvolvimento e o uso das TIC´s, a adoção de novas práticas de comunicação e a
troca constante de informações foram favoráveis à expansão do construtivismo na
educação no último quartel do século XX.
O construtivismo, diferentemente do empirismo - onde o sujeito é condicionado
ao objeto, contribuindo para que o capital esteja no centro do processo de formação do
sujeito -, prevê um sujeito em ação na construção do conhecimento. Um conhecimento
que pode transformá-lo e/ou emancipá-lo, desenvolvendo sua autonomia. Portanto, o
construtivismo não atende as necessidades demandadas pelo capital, visto que o foco é
o sujeito em ação e o capitalismo, por sua vez, não tem interesse na emancipação dos
sujeitos, a fim de manter influência na sua formação. Por isso, numa tentativa de seguir
a tendência acadêmica que exaltou o construtivismo, evidenciamos a emergência de
diferentes interpretações dadas em relação ao construtivismo na tentativa de adaptar a
teoria para atender ao capital, ressignificando a sua compreensão de maneira
contraditória, ao colocar os interesses do “capital” como o centro no processo de
construção do conhecimento.
2. Industrialização e educação
O sistema econômico hegemônico na contemporaneidade - o capitalismo
neoliberal - se caracteriza pela lógica da acumulação flexível do capital, tendo como
objetivo o lucro em todos os setores da economia. Suas origens se fundem, há pelo
menos trezentos anos, com questões políticas e socioculturais, quando a revolução
industrial afetava, no século XVIII, as estruturas sociais, os processos produtivos e a
distribuição de riqueza. Naquele momento, ocorreram transformações no modo de
produção quando o capital empresarial passava a empregar trabalhadores assalariados. E
os detentores do capital incrementavam seus lucros através da compra do trabalho

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