Trabalho não tem preço, tem valor

AutorMarlene Teresinha Fuverki Suguimatsu
CargoPresidente do TRT-PR 9ª região
Páginas14-24
14 REVISTA BONIJURIS I ANO 30 I EDIÇÃO 655 I DEZ18/JAN19
ENTREVISTA
“TRABALHO NÃO
TEM PREÇO,
TEM VALOR”
Marlene Teresinha
FuverkiSuguimatsu
PRESIDENTE DO TRT-PR – 9ª REGIÃO
Apresidente do Tribunal Regional do Trabalho do Paraná (9ª Região), desembarga-
dora Marlene Teresinha Fuverki Suguimatsu, afirma categoricamente, antes do
início da entrevista: dos mais de 106 artigos alterados na nova  (Lei 13.467/2017),
apenas alguns, em torno de 10 ou 12, são por ela bem recepcionados ou reconhe-
cidos como avanços na construção do direito do trabalho. Trata-se de uma con-
vicção sedimentada ao longo dos anos, a partir de estudos e práticas sobre uma
estrutura de proteção ao trabalhador e resistência à modificação de conceitos e
princípios bastante consolidados nas sete décadas de vigência da velha lei traba-
lhista, datada de 1943. “O impacto foi tão intenso que abalou algumas certezas que
magistrados, advogados e doutrinadores possuíam sobre vários temas de direito do trabalho”,
diz. A desembargadora considera improvável que a reforma trabalhista seja revogada. O mais na-
tural, segundo ela, será aguardar os próximos passos do Legislativo ou o devido amadurecimento
da jurisprudência diante da nova lei, que exige tempo para se consolidar e se firmar.
Formada em direito pela Faculdade de Direito de Curitiba (U), Marlene Sugui-
matsu especializou-se em direito público na Universidade Federal do Paraná e em filosofia com
ênfase em ética na , onde também concluiu o mestrado em direito econômico e social e
doutorado em direito econômico e socioambiental, contando com orientação do hoje ministro
do Supremo Tribunal Federal () Luiz Edson Fachin. Integra a corte do Tribunal Regional do
Trabalho do Paraná como desembargadora desde 2001 e a Magistratura do Trabalho desde 1988.
Pode-se afirmar, com certa convicção, que a desembargadora é antes de tudo uma professora de
direito do trabalho, antes mesmo da magistratura e o será depois, porque trata-se de vocação,
sacerdócio e tarefa que divide prazerosamente com as lides judiciais e, desde o ano passado, com
a presidência do .
Marlene Suguimatsu está atenta ao futuro. Há informações, algo apocalípticas, que dizem que
70% a 80% dos empregos desaparecerão nas próximas três décadas. Isso não significa necessaria-
mente o juízo final, mas o começo de um novo tempo. Talvez seja necessário repensar o direito de
trabalho e ela está disposta a participar dessa tarefa. Sim, a reforma trabalhista passou ao largo
dessas preocupações, o que confirma a sua impressão de que a sociedade civil, em geral, e os ope-
radores do direito, em particular, foram alijados do debate. A desembargadora crê, e não é uma
crença gratuita, que o trabalho e a dignidade humana estão intimamente relacionados. Assim
também acreditava o filósofo Immanuel Kant, quando afirmou: “coisas têm preço, pessoas têm
valor”. E sendo o trabalho humano uma projeção da mente e do corpo humanos há que merecer
essa mesma leitura.

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