Trabalho e Recreação: uma visão panorâmica dos fundamentos, da organização e das realizações do Serviço de Recreação Operária (1943-1945)

AutorAngela Brêtas
CargoProfessora da Escola de Educação Física e Desportos da Universidade Federal do Rio de Janeiro, membro do Grupo de Pesquisa ANIMA/UFRJ. Doutorado em Educação, em andamento, no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Páginas199-220
199
Prof.ª Angela Brêtas
labretass@hotmail.com
Professora da Escola de Educaçãosica e Desportos da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, membro do Grupo de Pesquisa ANIMA/UFRJ.
Doutorado em Educação, em andamento, no Programa de Pós-Gradua-
ção em Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Resumo
Este artigo tem por objetivo apresentar uma breve análise de três dos dez itens que
compõem a publicação “Trabalho e Recreação: fundamentos, organização e re-
alizações do Serviço de Recreação Operária (SRO)”. Este documento foi elabo-
rado com base no relatório sobre os primeiros dezoito meses de atividade do Serviço
e, segundo seu autor, entregue ao Ministro do Trabalho, Indústria e Comércio Ale-
xandre Marcondes Filho em março de 1946. Compreende as atividades desenvolvi-
das de 23 de maio de 1944 até 31 de dezembro de 1945 e foi redigido por Arnaldo
Lopes Süssekind, um de seus idealizadores e seu primeiro presidente. Neste docu-
mento encontramos justificativas teóricas e informações sobre as ações desenvolvi-
das e, além disso, é possível perceber o esforço do Órgão de conformar sua atuação
ao que era divulgado com relação ao projeto político do Estado Novo.
Palavras-chaves: Estado Novo, Serviço de Recreação Operária, fundamentos, ativida-
des desenvolvidas.
Summary
This article intends to present a brief analysis of two from the ten items that make up the
publication “Work and Recreation: Fundamentals, Organization and Actions of the Worker’s
Recreation Service (WRS)”. This document is based on the report of the first eighteen
months of activity of the Service and, according to the author, delivered to the Minister of
Labor, Industry and Commerce Alexandre Marcondes Filho in March of 1946. It consi-
ders the activities developed from the 23rd of May 1944 till the 31st of December 1945
and was written by Lopes Sussekind, one of its inventors and first president. In this
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document we find theoretical justifications and information regarding the actions that were
developed and, also, it is possible to notice the effort from the Office to act according to
what was being publicized regarding the political project of the New State.
Keywords: New State, Factory Worker’s Recreational Services, fundamentals, actions.
Uma das áreas de pesquisa que tem se desenvolvido sensivelmente nos
últimos anos é aquela relacionada aos estudos do lazer e da recreação. Muito se
tem produzido e diversas são as perspectivas teóricas que embasam as discus-
sões, como resultado, variadas são as possibilidades de entendimento acerca da
atuação nos momentos de lazer.
A cidade do Rio de Janeiro tem sido palco de i númeras intervenções no
campo do lazer, muitas delas visando atingir crianças pobres, consideradas ex-
cluídas. Projetos de cunho assistenciais e compensatórios, fundamentados em
perspectivas funcionalistas, salvacionistas e moralistas são continuamente cria-
dos e têm grande apelo junto à sociedade. Os professores de Educação Física
têm participado ativamente destes empreendimentos, na medida em que o discur-
so corrente trata as atividades da c ultura corporal e do esporte como uma espé-
cie de ‘vacina de prevenção da marginalidade’.
Em nossa visão todos têm o direito de acesso a conhecimentos q ue foram
historicamente construídos, inclusive aqueles referidos ao que chamamos de cul-
tura corporal. Por isso, não pretendemos assumir uma postura crítica rígida em
relação a tais projetos, nosso objetivo é discutir seus limites e contradições de
modo a colaborar para uma maior compreensão acerca deste fenômeno. Neste
sentido, não cremos que as crianças/jovens a quem são destinados possam ser
considerados como elementos passivos neste processo, pois temos, ainda, a chan-
ce de pensar que estes jovens ‘excluídos’ criam e pertencem a outros espaços,
isto é, estão ‘incluídos’ em espaços próprios cujas características e universo cul-
tural – músicas, jeito de falar, modo de vestir etc. são, em grande parte, apropri-
adas por aqueles que vivem em ambientes de classe média/alta.
Nosso entendimento é de que há uma expressiva interação entre os modos
de vida considerados moral, social e culturalmente aceitáveis, baseados nos valo-
res das classes dominantes e os estilos de vi da dos jovens moradores de favelas
e da periferia das grandes cidades, calcado num cotidiano considerado, por vári-
as razões, inadequado.
Bakhtin2 ao discutir os elementos da cultura cômica popular medieval que
estão presentes nas obras de Rabelais, Shakespeare e Cervantes, ensina sobre a
impossibilidade de se demarcar rígidos limites para as manifestações culturais con-
sideradas, isoladamente, como eruditas e populares. Esta interação marca uma
REVIS TA ESBOÇOS Nº 16 — UF SC

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