Tradição e interpretação: taxonomias do republicanismo

AutorRicardo Silva, Roger Laureano
CargoProfessor titular do departamento de sociologia e ciência política da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)/Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Ciência Política (PPGSP) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Páginas10-31
DOI: https://doi.org/10.5007/2175-7984.2021.e79149
1010 – 31
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TRADIÇÃO E INTERPETAÇÃO:
TAXONOMIAS DO
REPUBLICANISMO
Ricardo Silva1
Roger Laureano2
Resumo
O objetivo deste artigo é apresentar alguns dos principais modelos de interpretação histórica da
tradição republicana. Partindo de um conceito heurístico de tradição que busca compreender como
as ideias se transmitem e se modicam de geração para geração, focamos nossa análise em três
critérios distintos utilizados para interpretar o republicanismo: 1) o critério genealógico, centrado
principalmente nas origens da tradição e nos valores decorrentes desse caráter fundacional; 2) o
nacional, que busca enfatizar os dilemas e os contextos distintos do republicanismo em cada na-
ção; 3) e o socioconitual, cujo foco se concentra na dimensão sociológica da tradição, dividindo
o republicanismo em dois eixos principais, o aristocrático e o democrático.
Palavras-chave: Republicanismo. Tradição. Genealógico. Nacional. Socioconitual.
1 Introdução
A partir de meados do século XX, o republicanismo despontou no
meio acadêmico como uma corrente emergente e em contínua ascensão no
campo da teoria política. Recuperado inicialmente por autores como Han-
nah Arendt, Hans Baron, J. G. A. Pocock e Alasdair MacIntyre, inuen-
ciados por uma visão aristotélica das virtudes cívicas, o republicanismo foi
1 Professor titular do departamento de sociologia e ciência política da Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC), pesquisador do CNPq e coordenador do Núcleo de Estudos do Pensamento Político da UFSC.
2 Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Ciência Política (PPGSP) da Universidade Federal
de Santa Catarina (UFSC). Pesquisador do Núcleo de Estudos do Pensamento Político e professor titular da
Faculdade Capivari (FUCAP) – Univinte.
Política & Sociedade - Florianópolis - Vol. 20 - Nº 47 - Jan./Abr. de 2021
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aos poucos reestruturando o debate teórico contemporâneo e revisando a
compreensão histórica das ideias políticas. O foco dessa primeira onda de
retomada do republicanismo estava nos ideais de vida ativa, virtude cívi-
ca e ação comunitária, esgrimidos em oposição ao liberalismo atomista,
que passou a dominar o debate político ocidental no pós-Segunda Guerra
(SILVA, 2015a).
A partir dos anos 1980, um segundo grupo de autores, capitaneados
principalmente por Philip Pettit e Quentin Skinner, realizou uma revisão
histórica e teórica na própria tradição republicana (SILVA, 2008). Esse
grupo minimizou – ou até abandonou – alguns dos principais conceitos
até então caros à tradição, como a concepção mais enfática e exigente do
ideal da vida ativa e sua associação com a ideia de liberdade positiva, ao
mesmo tempo em que trouxe outros ideais para o epicentro do republi-
canismo, mormente o ideal da liberdade como não dominação. A partir
de então, o debate se tornou mais denso e difuso e o interesse no repu-
blicanismo manifestou-se tanto na forma de um programa de pesquisas
na história das ideias e na teoria política normativa (PETTIT; LOVETT,
2009), como na forma de uma losoa pública (PETTIT; MARTÍ, 2010).
Seu impacto tem sido especialmente sentido no meio acadêmico. Con-
forme observou Nadia Urbinati (2012, p. 607), uma crítica moderada do
neorrepublicanismo, “[...] a teoria republicana neorromana da liberdade
como não-dominação adquiriu um status de liderança na ciência política e
redesenhou a geograa dos estudos políticos”.
A diversidade interna do neorrepublicanismo deve-se não apenas a dis-
tintas adaptações do ideário republicano clássico para o mundo contempo-
râneo, mas também a novas interpretações acerca do cânone da tradição.
Partindo do reconhecimento dessa diversidade interna ao movimento
neorrepublicano, este artigo pretende apresentar diferentes critérios usual-
mente mobilizados para interpretar o republicanismo: o critério genealó-
gico, centrado na disputa sobre o lócus do momento fundacional do ideá-
rio republicano, conforme se considere sua origem em Atenas ou Roma;
o critério nacional, que busca interpretar a tradição a partir de subdivi-
sões territoriais identicadas com a cultura política de um país ou região;
e, por m, o critério socioconitual, conforme se considere a natureza

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