Um fantasma ronda a Lava-Jato

AutorRodrigo Chemim
CargoProcurador de Justiça
Páginas20-24
REVISTA BONIJURIS I ANO 30 I EDIÇÃO 650 I FEVEREIRO 2018
20
ENTREVISTA
Um fantasma
ronda a Lava-Jato
Rodrigo Chemim
PROCURADOR DE JUSTIÇA
Em pa
lestra no Teatro Positivo, em Curitiba, no fim de 2016, o juiz Sérgio
Moro definiu Rodrigo Chemim, procurador de Justiça do Ministério Públi-
co do Paraná, como o maior especialista em Operação Mãos Limpas do
Brasil. Referia-se à investigação de combate à corrupção deflagrada em
1992, na Itália, que desvendou propinoduto em grande escala naquele país.
Em anos posteriores, ela se revelaria a antecessora quase perfeita da Lava-
Jato. A mesma forma, o mesmo método, o mesmo conteúdo e o mesmo
perfil dos envolvidos: empresários, políticos e agentes públicos das mais
altas esferas do governo.
A Operação Mãos Limpas começou pequena, em um asilo público para idosos. A La-
va-Jato começou pequena, em um posto de gasolina nos arredores de Brasília. Ambas
desnudaram-se e ganharam grande dimensão, expondo um esquema de alta sofisti-
cação e complexidade. Não fosse o expediente da delação premiada e muito pouco se-
ria conhecido.
No entanto, há motivos de preocupação. Passado o período de denúncias e prisões,
a Mãos Limpas foi ganhando paliativos no parlamento italiano, com punições bran-
das, leis de anistia e de prescrição penal que acabaram quase por anulá-la. Hoje, diz
Chemim, a população italiana está anestesiada, sem capacidade de reagir aos escân-
dalos de corrupção que retornaram ao mesmo nível de 26 anos atrás. A legislação foi
tão deturpada que punir um corrupto é quase um ato heroico. No Brasil, não há um
caso marcante ou catalisador da Lava-Jato que tenha provocado reação contrária à
investigação. Após quatro anos de sua deflagração, o indicativo é o de confiança e de
expectativa de resultados positivos (e punitivos).
Mas um fantasma ronda o parlamento, e é o fantasma da impunidade. Autor do livro
Mãos Limpas e Lava Jato – A corrupção se olha no espelho (Editora Citadel, 288 págs.),
Chemim acredita que, uma hora ou outra, a necessidade de se salvaguardar pode fazer
com que os legisladores ajam em causa própria. É o momento do divisor de águas, de saber
para onde os brasileiros vão daqui para frente.
Revista_Bonijuris_NEW.indb 20 23/01/2018 21:05:22

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