Uma Heurística do Sentido para a Tecnologia: a busca do bem estar

AutorAfonso Vieira
CargoPsicólogo, especialista em Administração e Mestrando no Programa de Mestrado Interdisciplinar em Organizações e Desenvolvimento FAE
Páginas202-223
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/1984-8951.2012v13n102p202
Cad. de Pesq. Interdisc. em Ci-s. Hum-s., Florianópolis, v.13, n.102, p.202-223 jan/jun 2012
Uma Heurística do Sentido para a Tecnologia:
a Busca do Bem Estar
A Heuristics Sense for the Technology: the Quest for Wellness
Afonso Vieira1
Resumo
A discussão que permeia este artigo está associada à proposta de um tipo de agir
científico que tange à produção de tecnologia baseada na ética da responsabilidade.
Tem como objetivo, através de um estudo exploratório, a busca de uma heurística
de sentido para a tecnologia, ou seja, refletir sobre a técnica na vida do ser humano
como um impulso de sua curiosidade tendo em vista a satisfação de suas
necessidades objetivas e àquelas que transcendem. Procura-se por fim,
compreender que a “era tecnológica” é fruto de uma Weltanschauung2,
compreendida por Immanuel Kant (1724-1804), na Crítica do Juízo, como a
capacidade humana de perceber a realidade sensível, isto é, como concepção de
mundo em que o domínio da natureza através da tecnologia se agiganta de modo a
criar obstáculos para o aprofundamento ontológico do saber e para que o agir
humano possa voltar a maravilhar-se por tudo aquilo que faz, desde que todas as
atividades por ele engendradas visem, como ponto causal, ele próprio.
Palavras-chave: Tecnologia. Ética da responsabilidade. Curiosidade. Necessidade.
Sentido.
Abstract
The discussion that permeates this article is associated with the proposal for a
scientific kind of act with respect to production technology based on the ethics of
responsibility. It aims, through an exploratory study, the search for a heuristic sense
for the technology, that is, reflect on the technique in human life as an impulse
of curiosity in order to satisfy their objective needs and those that transcend. We try
to finally understand that the "technological age" is the result of a Weltanschauung,
understood by Immanuel Kant (1724-1804), in the Critique of Judgment, as the
human capacity to perceive the sensible reality, i.e., a world view in which the
domination of nature through technology looms to create obstacles to the deepening
ontological knowledge and that human conduct can come back to marvel at for all
1 Psicólogo, especialista em Administração e Mestrando no Programa de Mestrado Interdisciplinar em
Organizações e Desenvolvimento FAE. E-mail para contato: studiocompasso@gmail.com.
2 Weltanschauung é a orientação cognitiva fundamental de um indivíduo ou de toda um a sociedade.
Essa orientação abrange tanto sua filosofia natural quanto os seus valores fundam entais, existenciais
e normativos. E também seus postulados ou temas, emoções, e sua ética. Outro sentido do termo é o
de uma imagem do mundo imposta ao povo de uma nação ou comunidade, isto é, uma ideologia. É
uma visão de mundo. (Conf. Wikipédia online).
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Cad. de Pesq. Interdisc. em Ci-s. Hum-s., Florianópolis, v.13, n.102, p.202-223 jan/jun 2012
that is provided that all activities engendered by it as aimed at causal point himself.
Key words: Tecnology. Ethics of responsibility. Curiosity. Need. Sense.
Que o bra de arte é um homem, quão nobre em razão, quão infinito
em faculdades, quão expressivo e admirável na ação, quão como um
anjo em apreensão, quão como um deus: a beleza do mundo,
paradigmas entre os animais (Shakespeare, Hamlet, 1604).
1 Introdução
Estão abertas as cortinas para o espetáculo do terceiro milênio onde o ator
principal se chama tecnologia. As possibilidades de inovações e conhecimento no
campo da ciência e tecnologia, os instrumentos conceituais e metodológicos que são
utilizados para conhecer a natureza humana e ambiental estão em permanente
mudança e evoluem em velocidade impressionante. Com isso, desafia as
competências humanas nos aspectos de gestão, de escolha e tomada de decisão
para geração de tecnologias que visem à mudança social e a qualidade de vida das
pessoas, isto é, produção de uma riqueza tecnológica geradora de felicidade, de
bem estar.
Gerar tecnologia mais sensível aos direitos humanos, que possam satisfazer
não somente as necessidades estimuladas pelo déficit de sobrevivência, de
segurança e outras carências humanas básicas, mas também as mais elevadas
como a de autorrealização, conforme elencadas por Maslow (apud FADIMAN, 1986)
em sua hierarquia das necessidades. Sabemos da importância da inovação
tecnológica, da “reforma que o homem impõe à natureza em vista da satisfação de
suas necessidades (ORTEGA Y GASSET, 1991, p, 12). Daí a importância do
estudo das necessidades humanas fundamentais e daquelas “fundantes” , onde a
vida humana não é só a luta com a matéria, mas também luta do homem com sua
alma” (ORTEGA Y GASSET, 1991, p, 78). E por isso Ortega y Gasset encerra o seu
livro Meditação sobre a técnica com um questionamento sobre a possibilidade de
vislumbrar no mundo ocidental um claro repertório de técnicas da alma. Eu
acrescentaria de técnicas de sentido, onde haveria uma mudança de paradigma em
que a relação inter-humana e com a natureza seja mediada pelo absoluto e não pela
tecnologia. Absoluto aqui compreendido por uma reflexão ética que busque o
princípio fundamental que dê sentido ao homem e suas relações com todos os que o

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