A velhice, segundo Cícero

AutorRômulo de Andrade Moreira
CargoProcurador de justiça
Páginas262-264

Page 262

Marco Túlio Cícero escreveu, em 44 a.C., a obra “Catão, o velho, ou diálogo sobre a velhice”.

Nela, o filósofo, estadista e orador romano (nascido em 13 de janeiro do ano 106 a.C. e morto em 7 de dezembro de 43 a.C.), faz uma reflexão extraordinária sobre a velhice. Ao contrário do que se esperaria de um velho, Cícero exalta aquilo que é próprio da natureza humana, razão pela qual é uma estupidez achar ruim a velhice, pois “pretender resistir à natureza não teria mais sentido do que querer – como os gigantes – guerrear contra os deuses”.

Escreveu Cícero: “Todos os homens desejam alcançá-la, mas, ao ficarem velhos, lamentam-se. Eis aí a inconsequência da estupidez!” Ora, sendo algo da natureza humana o findar, tanto quanto o nascer, devemos, como um sábio, “consentir pacificamente” com o fim, pois a vida, “espontaneamente”, tal como “as bagas e os frutos”, “chegada sua hora, murcham e caem por terra”.

Page 263

Diz o filósofo que não é à velhice que devemos culpar, mas a nós mesmos, especialmente quando a lamentamos, já que “os velhos inteligentes, agradáveis e divertidos suportam facilmente a velhice, ao passo que a acrimônia, o temperamento triste e a rabugice são deploráveis em qualquer idade”. Portanto, “são suas próprias faltas, suas insuficiências, que os imbecis imputam à velhice”.

Objetando Lélio – um de seus interlocutores – que o seu poder, a sua riqueza e o seu prestígio – Cícero também era senador – tornavam a sua velhice mais suportável, respondeu que “quanto ao imbecil, julgará a velhice pesada mesmo na riqueza”, pois “as melhores armas para a velhice são o conhecimento e a prática das virtudes.

Cultivados em qualquer idade, eles dão frutos soberbos no término de uma existência bem vivida”.

E, lembrando Platão, que morrera aos oitenta anos, “em pleno trabalho da escrita”, afirmou o filósofo romano que “uma vida tranquila, honorável e distinta pode do mesmo modo levar a uma velhice pacífica e suave”.

Mesmo alguns defeitos geralmente apontados nos velhos – o mal humor, a rabugice, a avareza (defeito que Cícero não admitia, achava-o insensato), a irritabilidade fácil, a aflição – são, na verdade, “inerentes a cada indivíduo, não à velhice”, pois “assim como o vinho, o caráter não azeda necessariamente com a idade”.

Então, Cícero aponta quatro razões possíveis para detestarmos a velhice, a saber: 1) o afastamento da vida ativa; 2) o enfraquecimento do corpo; 3) a privação dos melhores prazeres e 4) a aproximação da...

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT