O ver e o mostrar: a importância da orientação visual em Crash

AutorRosângela Fachel de Medeiros
CargoDoutora em Literatura Comparada pela UFRGS.
Páginas198-226
Cad. de Pesq. Interdisc. em Ci-s. Hum-s., Florianópolis, v.11, n.98, p. 198-226, jan/jun. 2010
198
O ver e o mostrar a importância da orientação visual em Crash
The see and the show the importance of visual orientation in
Crash
Rosângela Fachel de Medeiros1
RESUMO
Esse artigo aborda a importância da orientação visual em Crash, romance escrito
por James Ballard em 1973, e em sua adaptação cinematográfica realizada por
David Cronenberg em 1996. Para tanto, analisa-se a forma como cada uma das
obras trata a questão em suas respectivas linguagens: literatura e cinema, e como
elas se entrecruzam e distanciam. Dando atenção à configuração dos processos de
ver e de mostrar mediados por espelhos e câmeras, que funcionam como próteses
do olhar.
Palavras-chave: Cinema. Literatura. David Cronenberg, J ames Ballard. Orientação
visual
ABSTRACT
This paper discuss es the importance of visual orientation in Crash, a novel written by
James Ballard in 1973, and its film adaptation by David Cronenberg in 1996. For this,
analyze how each one works address the issue in their respective languages:
literature and cinema, and how they intersect and distance. Paying attention to the
configuration of the processes of s ee and show mediated by mirrors and cameras,
which function as prosthesis of look.
Keywords: Cinema. Literature. David Cronenberg, James Ballard. Visual orientation.
1 Doutora em Literatura Comparada pela UFRGS.
Cad. de Pesq. Interdisc. em Ci-s. Hum-s., Florianópolis, v.11, n.98, p. 198-226, jan/jun. 2010
199
1 CRASH
Lançado em 2006, o filme Crash, do diretor canadense David Cronenberg,
adaptação do romance homônimo de James G. Ballard, escrito em 1973, casou
muita discussão, ao apresentar personagens que reconhecem uma carga erótica
nos acidentes automobilísticos, que os excitam por seu poder de transformação
sobre as ferragens dos carros e sobre o corpo humano.
1.2 O filme: acidentes automobilísticos e sexo
Catherine Ballard faz s exo com um homem em um hangar. Em uma sala do
set de filmagens de um comercial, James Ballard faz sexo com uma garota. Depois,
na sacada do apartamento dos Ballard, o casal calmamente comenta s uas
experiências extraconjugais e mantêm uma relação sexual. Uma noite, voltando para
casa, James sofre um acidente automobilístico que envolve outro veículo no qual
está o casal Remington. Helen Remington sobrevive ao acidente, mas seu marido
morre. James e Helen tornam-se amantes e ela lhe apresenta o estranho Vaughan,
obcecado por acidentes automobilísticos e pelas modificações que eles causam no
corpo humano. Ele é uma espécie de cientista e também líder de um pequeno grupo
de aficionados (formado por Seagrave, a esposa e Gabrielle) por desastres
automobilísticos, que organiza a encenação de acidentes f atais sofridos por pessoas
famosas. Em uma performance ilegal, eles recriam o acidente fatal de J ames Dean
ao volante de seu carro de corrida. James, sua esposa e Helen integram-se ao
grupo e passam a fazer parte dos jogos promíscuos que envolvem sexo, carros,
acidentes automobilísticos, corpo e morte. O automóvel se torna o lugar recorrente
dos intercursos sexuais hetero e homossexuais do grupo. Gabrielle, vítima de um
acidente, tem o c orpo marcado por cicatrizes e sustentado por próteses metálicas e
James faz de uma enorme cicatriz na perna dela um novo órgão sexual. Seagrave
acaba morrendo em um desastre no qual recria a morte de Jayne Mansfield. James
se distancia de Vaughan, que começa a perseguir Catherine com seu carro e acaba

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT