‘Uma Selic de 20% não me surpreenderia’, diz Ales Knouty, da britânica Janus Henderson

A inflação elevada e os riscos políticos representam o maior desafio para os ativos brasileiros e não estão totalmente incorporados aos seus preços. Com essa percepção, a visão de que o Ibovespa estaria “barato”, que é bastante frequente entre os analistas locais, não é compartilhada pelo gerente de portfólio para mercados emergentes da Janus Henderson Investors, Ales Knouty.

Em entrevista ao Valor, o executivo da gestora britânica, que possui mais de US$ 360 bilhões em ativos sob gestão, revela que não se surpreenderia com níveis ainda mais elevados de taxas de juros no Brasil. De acordo com ele, a depender da retórica do vencedor das eleições e de qual será a abordagem fiscal do novo governo, a taxa Selic pode alcançar patamares entre 18% e 20%.

“Uma Selic de 20% no Brasil não me surpreenderia. Não é meu cenário-base, mas o mercado coloca basicamente zero chance de as taxas de juros subirem mais que 17% ou 18%. Eu diria que há mais ou menos 25% ou 30% de chegarmos entre 18% e 20%”, diz.

Além disso, segundo ele, os episódios recentes na Amazônia relacionados à morte do jornalista britânico Dom Phillips pioram ainda mais a imagem do Brasil em aspectos ambientais, sociais e de governança (ESG), área em que o país passa por processo de deterioração acentuada desde 2019.

Valor: Qual o cenário da Janus para a atividade global em meio ao processo de aperto monetário?

Ales Koutny: A grande discussão não é se vai haver uma recessão, mas quando ela vai chegar, e isso vai ditar muito o comportamento dos bancos centrais e da política fiscal no mundo inteiro. No entanto, os BCs só têm instrumentos para conter a demanda: as taxas de juros, o QT [“quantitative tightening”, aperto de liquidez por meio da redução do balanço], tentar reduzir a velocidade e a quantidade de dinheiro na economia. O problema é que a inflação que vemos no mundo inteiro é 80% relacionada à oferta, causada pelos lockdowns na China, guerra na Ucrânia e os custos de fretes marítimos. Tudo isso leva a uma inflação, de certa forma, estrutural, que o Fed e o BCE não têm como controlar. A única coisa que eles podem fazer é subir as taxas de juros. Assim, o que eles podem fazer é conter a demanda do jeito mais forte possível.

Valor: Quais seriam as consequências deste aperto?

Koutny: Quando eles chegarem a um nível restritivo de política de juros e, na minha opinião, estamos falando de 4% a 4,5%, vai ser justamente quando o consumidor terá dificuldade de arranjar dinheiro, as taxas de...

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