Acórdão Nº 0003128-36.2013.8.24.0064 do Quarta Câmara de Direito Comercial, 09-02-2021

Número do processo0003128-36.2013.8.24.0064
Data09 Fevereiro 2021
Tribunal de OrigemTribunal de Justiça de Santa Catarina
ÓrgãoQuarta Câmara de Direito Comercial
Classe processualApelação
Tipo de documentoAcórdão










Apelação Nº 0003128-36.2013.8.24.0064/SC



RELATOR: Desembargador TORRES MARQUES


APELANTE: OI S.A. - EM RECUPERACAO JUDICIAL APELADO: JOSE DULCENIR DA SILVA


RELATÓRIO


Oi S/A (em recuperação judicial) interpôs recurso de apelação cível contra a sentença proferida nos autos da ação ordinária de adimplemento contratual ajuizada por Jose Dulcenir da Silva, nos seguintes termos:
Ante o exposto:
1) Com fulcro no artigo 487, inciso I, do Código de Processo Civil, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTES os pedidos formulados por José Dulcenir da Silva contra BRASIL TELECOM S.A. para:
a) CONDENAR a ré a complementar a diferença relativa à subscrição das ações da Telesc Celular S.A. (telefonia móvel) já emitidas em número menor, valor a ser apurado em liquidação de sentença, observando-se o valor patrimonial das ações na data da integralização, tomando por base o valor apurado no balancete mensal aprovado. Anote-se no livro de subscrição do capital acionário da ré e emita-se o certificado de propriedade em nome da autora.
b) CONDENAR a ré, a título de indenização, ao pagamento dos valores correspondentes aos dividendos, bonificações, juros sobre o capital próprio e outras vantagens apuradas, se aplicáveis ao caso, desde a integralização do capital, e que não foram recebidos, no que se refere à Telesc Celular S.A. (telefonia móvel), acrescidos de correção monetária a partir da data que seriam devidos, e de juros de mora de 1% ao mês desde a citação. Na impossibilidade de ser efetuada a subscrição da diferença das ações e a emissão do certificado de propriedade, a obrigação converter-se-á em perdas e danos, cujo cálculo será feito conforme acima determinado.
c) CONDENAR a ré, a título de indenização, ao pagamento dos valores correspondentes aos juros sobre o capital próprio das ações da Telesc S.A. (telefonia fixa), cuja subscrição foi determinada nos autos n. 0015631-02.2007.8.24.0064, se aplicáveis ao caso, desde a integralização do capital, acrescidos de correção monetária, a partir da data que seriam devidos, e de juros de mora de 1% ao mês a partir da citação.
2) JULGO EXTINTO sem julgamento do mérito o pedido de ressarcimento da eventual diferença de tributação decorrente da conversão da obrigação de emitir as ações em indenização por perdas e danos, nos termos do art. 485, inciso I, do Código de Processo Civil.
Tendo em vista que a parte autora sucumbiu da parte mínima, CONDENO a requerida ao pagamento das despesas processuais e de honorários advocatícios ao patrono da parte autora, estes que fixo em 15% (quinze por cento) sobre o valor atualizado da condenação, o que faço com fundamento no artigo 85, § 2º, incisos I a III, do CPC.
P.R.I.
Transitada em julgado e nada sendo requerido, arquive-se.
Nas razões recursais, sustenta, em síntese: a) a sua ilegitimidade para responder pela complementação acionária derivada da telefonia móvel; b) a prescrição do direito autoral, inclusive com relação aos dividendos; c) a inaplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor e da inversão no ônus da prova; d) a diferença entre os regimes contratuais denominados PCT e PEX, a legalidade das portarias ministeriais e a responsabilidade do acionista controlador pela correção monetária dos investimentos; e, e) a aplicação da cotação prevista da data do trânsito em julgado para a conversão das ações em pecúnia. Ao final, postula a inversão da sucumbência, o prequestionamento de dispositivos legais e o provimento do recurso.
Com as contrarrazões (evento 89), os autos ascenderam a este Tribunal de Justiça

VOTO


Trata-se de apelação cível interposta por Oi S/A (em recuperação judicial) em face da sentença que julgou parcialmente procedentes os pedidos formulados por Jose Dulcenir da Silva nos autos da ação ordinária de adimplemento contratual.
Diante da pluralidade de teses sustentadas no reclamo, em atenção à melhor técnica, passo à análise de forma individual.
Agravo retido
Analisando o caderno processual, verifico que a apelante interpôs agravo retido (evento 85, doc. 99/114) contra a decisão proferida no evento 85 (doc. 36), na forma do art. 355 do Código de Processo Civil de 1973, vigente à época.
Na presente apelação, a recorrente formulou pedido de exame do referido agravo, em atenção ao art. 523, § 1º, do Código Buzaid.
No agravo retido a apelante alega: a) a ausência de documentos indispensáveis à propositura da ação; b) a inconsistência do pedido de exibição de documentos; c) a inaplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor ao caso; e, d) o não cabimento da inversão do ônus da prova.
No tocante às matérias relacionadas à aplicação do CDC e à inversão do ônus da prova, por terem sido reiteradas no apelo, serão objeto de análise conjunta.
De outro tanto, com relação às alegações de ausência de documentação indispensável à propositura da demanda, bem como no que tange à inconsistência do pleito exibitório formulado pelo apelado, carece de razão a recorrente.
Isso porque, extrai-se dos autos prova mínima da relação jurídica existente entre as partes, a qual consiste em documento com informações societárias juntado pela parte apelada (evento 85, doc. 153).
Dessa forma, a inconformada deixou de cumprir o determinado no art. 373, II, do Código de Processo Civil.
Portanto, resta superada a discussão em torno da sua responsabilidade pela exibição dos documentos pleiteados pela demandante, já que a obrigação contratual inerente ao negócio jurídico entabulado passou a ser da recorrente, atualmente denominada Oi S/A, em virtude dos diversos eventos corporativos ocorridos entre as suas antecessoras.
Com base nessas considerações, nego provimento ao agravo retido no que tange à ausência de documentos indispensáveis à propositura da ação, bem como no tocante à inconsistência do pedido exibitório.
Ilegitimidade passiva
Defende a operadora de telefonia não possuir legitimidade para figurar no polo passivo da demanda, uma vez que a responsável pela emissão das ações é a empresa Telebrás S/A.
Aduz, também, a ilegitimidade no tocante à telefonia móvel, ao argumento de que tais ações decorrem de cisão empresarial da qual surgiu a Telesc Celular S/A, que foi adquirida pela empresa Tim Telefonia Celular, sendo desta a responsabilidade pela emissão ou indenização dos valores devidos.
Inicialmente, enfatizo que o contrato de participação financeira objeto da presente ação de adimplemento foi pactuado com a Telesc S/A, operadora sucedida pela Brasil Telecom S/A, atualmente denominada Oi S/A.
Sobre o referido evento, colho da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça:
RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC. BRASIL TELECOM. INCORPORAÇÃO DA TELESC. EXTINÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA DA INCORPORADA. DIREITOS E OBRIGAÇÕES TRANSMITIDOS À INCORPORADORA. BRASIL TELECOM TORNOU-SE SUBSTITUTA, POR INCORPORAÇÃO, DA TELESC. LEGITIMIDADE PASSIVA RECONHECIDA. CONSOLIDAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA SOBRE A COMPLEMENTAÇÃO DE AÇÕES DECORRENTE DE CONTRATO DE PARTICIPAÇÃO FINANCEIRA.1. Para fins do art. 543-C do CPC:1.1. A sucessão, por incorporação, de empresas, determina a extinção da personalidade jurídica da incorporada, com a transmissão de seus direitos e obrigações à incorporadora.1.2. Legitimidade passiva da Brasil Telecom S/A para responder pelos atos praticados pela Telesc, quanto a credores cujo...

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT