Acórdão nº 0010522-81.2018.8.14.0037 do Tribunal de Justiça do Estado do Pará, 3ª Turma de Direito Penal, 16-03-2023

Data de Julgamento16 Março 2023
Classe processualAPELAÇÃO CRIMINAL
Ano2023
Número do processo0010522-81.2018.8.14.0037
AssuntoRoubo Majorado
Órgão3ª Turma de Direito Penal

APELAÇÃO CRIMINAL (417) - 0010522-81.2018.8.14.0037

APELANTE: MARTA DA SILVA SERRAO

APELADO: JUSTIÇA PÚBLICA

RELATOR(A): Desembargadora EVA DO AMARAL COELHO

EMENTA

ÓRGÃO: 3ª TURMA DE DIREITO PENAL

PROCESSO Nº. ApCrim 0010522-81.2018.8.14.0037

ORIGEM: COMARCA DE ORIXIMINÁ – PA

APELANTE: MARTA DA SILVA SERRÃO

DEFENSOR(A) PÚBLICO (A): GIANE DE ANDRADE BUBOLA LIMA

APELADO: MINISTÉRIO PÚBLICO-PA

PROCURADOR (a) DE JUSTIÇA: SERGIO TIBURCIO DOS SANTOS SILVA

RELATORA: DESA. EVA DO AMARAL COELHO

EMENTA: APELAÇÃO. CRIME DE ROUBO MAJORADO. IRRESIGNAÇÃO DO RÉU. INSUFICIÊNCIA DE PROVAS. NEGATIVA DE AUTORIA. ABSOLVIÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. CONJUNTO PROBATÓRIO FARTO. PROVAS DOCUMENTAIS E ORAIS CONSISTENTES. PALAVRA DA VÍTIMA. CREDIBILIDADE. CRIMES PATRIMONIAIS. DEPOIMENTOS POLICIAIS. VALOR PROBANTE. PRECEDENTES DO STJ. RATIFICAÇÃO DA VERSÃO ACUSATÓRIA. DECRETO CONDENATÓRIO. NECESSIDADE. PRECEDENTES DO TJPA. REDIMENSIONAMENTO DA PENA. REDUÇÃO. MÍNIMO LEGAL. IMPOSSIBILIDADE. MENORIDADE. NÃO COMPROVADA. INEXISTÊNCIA DE DOCUMENTO HÁBIL. PRECEDENTES DO STJ. SÚMULA Nº.74/STJ. DOSIMETRIA CORRETA. FUNDAMENTAÇÃO IDONEA. OBSERVÂNCIA DA JURISPRUDÊNCIA SUMULADA DO TJPA (SÚMULAS 17., 19 E 23). REGIME INICIAL DE CUMPRIMENTO DE PENA. ALTERAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. FUNDAMENTAÇÃO IDONEA. SENTENÇA CONDENATÓRIA. MANUTENÇÃO. NECESSIDADE. APELAÇÃO CONHECIDA E IMPROVIDA À UNANIMIDADE.

A C Ó R D Ã O

Vistos, relatados e discutidos os autos.

ACORDAM os Excelentíssimos Desembargadores que integram a 3ª Turma de Direito Penal do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Pará, à unanimidade de votos, em CONHECER E NEGAR PROVIMENTO ao recurso de apelação, nos termos do voto da eminente Desembargadora Relatora.

Sala das Sessões do Tribunal de Justiça do Estado do Pará, aos ____ dias do mês de _____ de 2022.

Este julgamento foi presidido pelo________________.

RELATÓRIO

ÓRGÃO: 3ª TURMA DE DIREITO PENAL

PROCESSO Nº. ApCrim 0010522-81.2018.8.14.0037

ORIGEM: COMARCA DE ORIXIMINÁ – PA

APELANTE: MARTA DA SILVA SERRÃO

DEFENSOR(A) PÚBLICO (A): GIANE DE ANDRADE BUBOLA LIMA

APELADO: MINISTÉRIO PÚBLICO-PA

PROCURADOR (a) DE JUSTIÇA: SERGIO TIBURCIO DOS SANTOS SILVA

RELATORA: DESA. EVA DO AMARAL COELHO

R E L A T O R I O

Cuida-se de recurso de apelação interposto por MARTA DA SILVA SERRÃO contra sentença proferida pelo Juízo da Vara Única de Oriximiná – PA, o qual julgou parcialmente procedente o pedido formulado na denúncia para condenar a apelante à pena privativa de liberdade de 08 (oito) anos, 10 (dez) meses e 20 (vinte) de reclusão, em regime fechado, pelo cometimento do delito previsto no art. 157, §2º, inciso II, do Código Penal c/c art. 244-B caput, do ECA (id nº. 4437495).

Consta na denúncia, em resumo, que, no dia 08 de outubro de 2018, por volta das 13h, no município de Oriximiná – PA, a recorrente e o adolescente R. da S. L. abordaram as vítimas Thainar Hipolita dos Santos e Jacqueline Maria da Silva Figueiredo e, mediante grave ameaça exercida com emprego de uma arma de fogo, subtraíram-lhe 01 (um) aparelho de telefone celular, marca Samsung, modelo J5 Prime e uma bolsa, razão pela qual foi a apelante denunciada como incursa nas sanções punitivas inseridas no art. 157, §2º, inciso II e §2º-A, I, do Código Penal c/c art. 244-B, caput, do ECA (id nº. 4437487).

O feito tramitou regularmente, sobrevindo sentença condenatória contra qual a defesa recorreu, pleiteando a absolvição por insuficiência de provas e subsidiariamente, pelo reconhecimento da atenuante correspondente à menoridade da apelante, o redimensionamento da pena e, ainda, a alteração do regime inicial de cumprimento da reprimenda (id nº. 4437496).

Contrarrazões apresentadas pelo Ministério Público de 1º grau, requerendo o provimento parcial do apelo, a fim de que seja reconhecida a atenuante relativa à menoridade da apelante (id nº. 4437497).

De igual forma, em parecer exarado nos autos, o órgão ministerial nesta instância opinou pelo provimento parcial do recurso, no sentido de ser reconhecida a incidência da atenuante da menoridade no cálculo da dosimetria (id nº. 4437499).

É o relatório.

DECIDO.

À revisão, nos termos regimentais.

VOTO

V O T O

Presentes os pressupostos de admissibilidade do recurso, conheço da apelação e passo ao exame do mérito.

Na extensão, friso que, ao contrário do que alegou o recorrente, a materialidade, a autoria e a tipicidade objetiva do delito que lhe foi imputado restaram sobejamente demonstradas nos autos pelas provas orais e documentais produzidas durante a instrução, além daquelas carreadas durante a fase de inquérito, como boletim de ocorrência (id nº. 4437487 - Pág. 25), os autos de reconhecimento pessoal e de objeto (id nº. 4437487 - Pág. 27 – 29) e os depoimentos pessoais colhidos pela autoridade policial (id nº. 4437487 - Pág. 5 – 16).

Em reforço, destaco que, na sentença apelada, além de todos os elementos de prova supramencionados, o Juízo a quo também levou em consideração as declarações prestadas pela vítima Jaqueline Maria da Silva Figueiredo, bem como pelas testemunhas PM Jefre David Rodrigues Duarte, PM Nilton Diego Pantoja Guimarães e IPC Fabiana Gonçalves Lino, cujos depoimentos foram colhidos em audiência de instrução (id nº. 4496691/id nº. 4496699/id nº. 4496714/id nº. 4496902) e que ratificam, a meu ver, com segurança e firmeza necessárias, a versão acusatória no sentido de que, à época do fato, o recorrente praticou o crime descrito na denúncia.

No ponto, importante destacar que, segundo a jurisprudência do STJ, a palavra da vítima adquire especial relevo na apuração dos crimes patrimoniais. Neste sentido, a Corte Cidadão tem, reiteradamente, firmado que, nos crimes contra o patrimônio, em especial o roubo, cometidos na clandestinidade, a palavra da vítima ostenta especial importância e prepondera, especialmente quando descreve, com firmeza, a cena criminosa[1], tal como ocorreu no caso dos autos.

Ademais, importante registrar que, segundo a atual jurisprudência do STJ, os depoimentos dos policiais têm valor probante, já que seus atos são revestidos de fé pública, sobretudo quando se mostram coerentes e compatíveis com as demais provas dos autos[2].

A somar, ressalto que a jurisprudência desta Turma é firme no sentido de que, em havendo nos autos conjunto probatório firme e harmônico a ratificar a narrativa contida na denúncia, especialmente porque marcado pela consonância das declarações da vítima com os depoimentos testemunhais e demais provas indiciárias, resta evidenciada a autoria a materialidade delitivas, devendo ser afastadas as hipóteses de negativa de autoria ou insuficiência de provas[3].

Rejeito, portanto, a tese de insuficiência probatória.

No que tange ao pedido de redimensionamento da pena, de igual sorte, não assiste razão ao recorrente por duas razões.

A uma porque inexiste nos autos documento pessoal de identificação que comprove a alegada menoridade da recorrente, o que afasta a aplicação da atenuante versada no art. 65, I[4], do CP. É sabido que o reconhecimento da menoridade, para fins penais, exige prova por documento hábil, orientação esta, inclusive, sumulada na jurisprudência do STJ (súmula nº 74[5]/STJ).

A duas porque, na dosimetria, todas as circunstâncias judiciais foram valoradas de forma consistente e fundamentada pelo Juízo a quo, não havendo a utilização de ponderações ou referências vagas, genéricas, imprecisas ou inerentes ao tipo penal imputado a recorrente, sendo observadas as orientações fixadas nas súmulas de jurisprudência deste Tribunal (súmulas nº. 17[6], nº. 19[7] e nº. 23[8] TJPA).

Por fim, no que diz respeito ao regime inicial de cumprimento de pena, verifico que a sentença apelada contém fundamentação satisfatória, amparada na lei de regência e na jurisprudência sumulada dos tribunais superiores, razão pela qual a pretensão de reforma não merece prosperar no particular.

Em suma, o apelo não comporta provimento.

Ante o exposto, conheço e nego provimento à apelação, mantendo a sentença recorrida na íntegra.

É como voto.

Belém-PA, __ de _________de____

Desa. Eva do Amaral Coelho

Relatora



[1] Ementa: PENAL. PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. ROUBO MAJORADO. VIOLAÇÃO AOS ARTS. 619 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. CPP E 1.022 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. CPC. INEXISTÊNCIA. PALAVRA FIRME DA VÍTIMA SOBRE O EMPREGO DE ARMA DE FOGO. VIOLAÇÃO AOS ARTS. 156 DO CPP E 157, § 2º-A, I, DO CÓDIGO PENAL. CP. PALAVRA DA VÍTIMA. ESPECIAL CREDIBILIDADE JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE. ELEMENTOS SUFICIENTES PARA ATESTAR O EMPREGO DO ARTEFATO. SÚMULA N. 7 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. STJ. ART. 156 DO CPP. AUSÊNCIA DE POTENCIALIDADE LESIVA. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. ART. 157, § 2º-A, I. TESE DE NÃO UTILIZAÇÃO OSTENSIVA DO ARTEFATO. PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA. ÓBICE DAS SÚMULAS N. 282 E N. 356 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. STF. DISSÍDIO PRETORIANO NÃO CONHECIDO. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. Processo (STJ – AgRg no AREsp 1871009 DF 2021/0111395-2. Órgão Julgador: T5 - QUINTA TURMA. Relator: Ministro JOEL ILAN PACIORNIK. Publicação: DJe 07/04/2022. Julgamento: 5 de Abril de 2022).

.

[2] Ementa: PENAL E PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO PRÓPRIO. TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES E ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO ILÍCITO DE DROGAS. AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO A TODOS OS FUNDAMENTOS DA DECISÃO AGRAVADA. OFENSA AO PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE. SÚMULA 182 DO STJ. AGRAVO REGIMENTAL NÃO CONHECIDO. PEDIDO DE ABSOLVIÇÃO DA PRÁTICA DO DELITO DE ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO. IMPOSSIBILIDADE. ELEMENTOS DE PROVA A SUSTENTAR O JUÍZO CONDENATÓRIO. MODIFICAÇÃO. NECESSIDADE DE REEXAME DE PROVAS. CREDIBILIDADE DOS DEPOIMENTOS DOS POLICIAIS. VALOR PROBANTE. PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL PARCIALMENTE CONHECIDO E, NESTA EXTENSÃO, DESPROVIDO. I –[...]. IV – Pedido de...

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT