Acórdão Nº 0011987-95.2017.8.24.0033 do Segunda Turma Recursal, 15-09-2020

Número do processo0011987-95.2017.8.24.0033
Data15 Setembro 2020
Tribunal de OrigemItajaí
ÓrgãoSegunda Turma Recursal
Classe processualRecurso Inominado
Tipo de documentoAcórdão



ESTADO DE SANTA CATARINA

PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SANTA CATARINA

Segunda Turma Recursal



Recurso Inominado n. 0011987-95.2017.8.24.0033, de Itajaí

Relatora: Juíza Ana Karina Arruda Anzanello


RECURSO INOMINADO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. TRANSPORTE AÉREO. AUTOR QUE ADQUIRIU POLTRONA COM A RUBRICA "ESPAÇO+" EM DECORRÊNCIA DE ALTERAÇÕES DEGENERATIVAS NA COLUNA E FOI OBRIGADO A VOAR EM POLTRONA COMUM. VIAGEM INTERNACIONAL. APROXIMADAMENTE 8H30MIN DE VOO. DESCONFORTO FÍSICO E DOR. ABALO ANÍMICO. DANO MORAL CONFIGURADO. SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA. IRRESIGNAÇÃO DA COMPANHIA AÉREA. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR DEVE PREVALECER SOBRE O CÓDIGO BRASILEIRO DE AERONÁUTICA. INAPLICABILIDADE DA CONVENÇÃO DE VARSÓVIA E DE MONTREAL AOS DANOS MORAIS, AINDA QUE SE TRATE DE VOO INTERNACIONAL. PREVALECE O DIREITO DOMÉSTICO. FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO QUE NO VERTENTE CASO, ULTRAPASSOU O MERO DISSABOR. DANO MORAL CARACTERIZADO. MINORAÇÃO DO QUANTUM ARBITRADO A TÍTULO DE COMPENSAÇÃO PELO ABALO ANÍMICO. PLEITO NÃO ACOLHIDO. VALOR ELEITO QUE SE AFIGURA COMPATÍVEL COM AS PECULIARIDADES DO CASO CONCRETO E OS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E DA PROPORCIONALIDADE. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso Inominado n. 0011987-95.2017.8.24.0033, da comarca de Itajaí Juizado Especial Cível, em que é Recorrente Tam Linhas Aéreas S/A e Recorrido André Eduardo Campos.


A Segunda Turma Recursal decidiu, por unanimidade, conhecer do recurso, negar-lhe provimento e, por consequência, arca o recorrente com custas processuais e honorários advocatícios, estes fixados em 15% (quinze por cento) sobre o valor da condenação (art. 55 da Lei 9.099/1995).


O julgamento, realizado nesta data, foi presidido pelo Exmo. Sr. Juiz Marco Aurélio Ghisi Machado, com voto e dele participou o Juiz Vitoraldo Bridi.

Florianópolis, 15 de setembro de 2020.


Ana Karina Arruda Anzanello

Relatora


RELATÓRIO

Tam Linhas Aéreas S/A interpôs Recurso Inominado contra sentença que julgou parcialmente procedentes os pedidos formulados por André Eduardo Campos, condenando-a ao pagamento de "R$ 5.000,00 a título de indenização por danos morais ao requerente, cuja quantia deverá ser corrigida monetariamente, pelos índices da CGJ, desde a data do presente arbitramento (Súmula 362, do STJ) e acrescida de juros de mora , de 1% ao mês, contados da citação" (fls. 80-82).

Em suas razões recursais (fls. 88-114), aduziu, em suma, a aplicabilidade da Convenção de Montreal e do Código Brasileiro de Aeronáutica em detrimento do Código de Defesa do Consumidor e ausência de responsabilidade civil já que a pré reserva do assento não garante sua utilização, sendo que é permitido alocar o passageiro em poltrona diversa desde que não seja diferente dos denominados LATAM+. Ainda, sustenta que o fato é indenizável, vez que aborrecimentos e pequenas ofensas não geram tal dever. Por fim, pleiteou a redução do quantum indenizatório.

Com as contrarrazões (fls. 122-127), os autos aportaram a esta Turma de Recursos.

Este é o relatório.





VOTO

Inicialmente, encontram-se presentes os pressupostos intrínsecos e extrínsecos de admissibilidade recursal, o reclamo merece ser conhecido, passando-se, desta forma, à respectiva análise.

Quanto a aplicação do Código Brasileiro de Aeronáutica, essa Turma Recursal já decidiu sobre sua inaplicabilidade, devendo o Código de Defesa do Consumidor prevalecer.


RECURSO INOMINADO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. SERVIÇO DE TRANSPORTE AÉREO. CANCELAMENTO DE VOO INTERNACIONAL. ATRASO DE MAIS DE 24 (VINTE E QUATRO) HORAS NA CHEGADA AO DESTINO FINAL. EXTRAVIO TEMPORÁRIO DA BAGAGEM. MÁ PRESTAÇÃO DO SERVIÇO CONFIGURADA. SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA. CONDENAÇÃO DA RÉ AO PAGAMENTO DE DANOS MORAIS NO VALOR DE R$ 10.000,00 (DEZ MIL REAIS). IRRESIGNAÇÃO DA EMPRESA AÉREA. RECURSO SUSTENTA, EM SUMA, APLICAÇÃO DO CÓDIGO BRASILEIRO DA AERONÁUTICA E DAS NORMAS E TRATADOS INTERNACIONAIS; DEVOLUÇÃO DA BAGAGEM ANTES DE 30 (TRINTA) DIAS; INEXISTÊNCIA DE DANO MORAL; VALOR EXCESSIVO DA CONDENAÇÃO. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR DEVE PREVALECER SOBRE O CÓDIGO BRASILEIRO DE AERONÁUTICA. INAPLICABILIDADE DA CONVENÇÃO DE VARSÓVIA E DE MONTREAL AOS DANOS MORAIS, AINDA QUE SE TRATE DE VOO INTERNACIONAL. NESSE SENTIDO A JURISPRUDÊNCIA: "Os acordos internacionais disciplinam a responsabilidade das companhias aéreas apenas no que diz respeito a danos materiais (v. STF, RE nº 636331/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes), de modo que, quanto a danos morais, também pela inaplicabilidade do Código Brasileiro de Aeronáutica (v. (STJ, AgRg nos EDcl no AREsp nº 418875/RJ, Rel. Min. João Otávio de Noronha), aplica-se o diploma nacional protetivo do consumidor." (TJSC, Recurso Inominado n. 0000106-71.2018.8.24.0103, de Araquari, rel. Juiz Luís Paulo Dal Pont Lodetti, Quinta Turma de Recursos - Joinville, j. 24-04-2019). FALHA MECÂNICA NA AERONAVE. FORTUITO INTERNO QUE NÃO EXIME A EMPRESA AÉREA DE RESPONSABILIDADE. RISCO DA ATIVIDADE. ADEMAIS, EXCLUDENTE DA RESPONSABILIDADE NÃO COMPROVADA. PRAZO DE 30 DIAS (ART. 35, § 2º, DA PORTARIA N. 676/GC5 DA ANAC) QUE SERVE APENAS PARA INDICAR O MOMENTO EM QUE A BAGAGEM DEVE SER CONSIDERADA DEFINITIVAMENTE EXTRAVIADA. DANO MORAL PRESUMIDO. DEVER DE INDENIZAR. "O extravio de bagagem, mesmo que temporário, causa transtornos e dissabores que ultrapassam o mero incômodo, ocasionando dano moral indenizável. O aborrecimento, o transtorno e o sofrimento que essa circunstância gera no espírito do passageiro é inegável, situação que certamente escapa da condição de dissabor cotidiano" (TJSC, AC n. 0316053-46.2015.8.24.0023, da Capital, Rel. Des. Luiz Cézar Medeiros). PARÂMETROS PARA FIXAÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO. VALOR ARBITRADO QUE ATENDE A FUNÇÃO PEDAGÓGICA E RESSARCITÓRIA. OBSERVÂNCIA DOS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. SENTENÇA IRRETOCÁVEL, MANTIDA POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. (TJSC, Recurso Inominado n. 0001502-49.2018.8.24.0082, da Capital - Continente, rel. Juiz Marco Aurélio Ghisi Machado, Segunda Turma Recursal, j. 20-02-2020).


Em relação ao pedido de aplicação da Convenção de Montreal, tal apelo não merece acolhimento.

Tal Convenção é utilizada apenas para disciplinar quanto aplicação de danos materiais em voos internacionais, não sendo aplicada em caso de danos morais (STF, RE nº 636331/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes).

Segundo entendimento das Turmas Recursais deste Tribunal:


RECURSO INOMINADO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS. VOO INTERNACIONAL. ATRASO NO VOO DO PRIMEIRO TRECHO. PERDA DA CONEXÃO SEGUINTE. REALOCAÇÃO EM VOO COM DECOLAGEM MARCADA PARA 12 (DOZE) HORAS APÓS O HORÁRIO ADQUIRIDO. ALEGAÇÃO DE QUE O CANCELAMENTO DO VOO SE DEU EM DECORRÊNCIA DAS CONDIÇÕES CLIMÁTICAS DESFAVORÁVEIS. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO. RESPONSABILIDADE CONFIGURADA. 2 (DOIS) IDOSOS ENTRE OS AUTORES. DANOS MATERIAIS COMPROVADOS E NÃO IMPUGNADOS. SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA. CONDENAÇÃO DA RÉ AO PAGAMENTO DE DANOS MATERIAIS NO VALOR DE R$ 1.781,95 (UM MIL, SETECENTOS E OITENTA E UM REAIS E NOVENTA E CINCO CENTAVOS), RELATIVOS A DESPESAS COM HOSPEDAGEM E ESTACIONAMENTO, E DE DANOS MORAIS NO VALOR DE R$ 7.000,00 (SETE MIL REAIS) PARA CADA AUTOR. IRRESIGNAÇÃO DA EMPRESA AÉREA. RECURSO SUSTENTA, EM SUMA, PRESTAÇÃO DE ASSISTÊNCIA MATERIAL; APLICAÇÃO DA CONVENÇÃO DE MONTREAL, POR SE TRATAR DE VOO INTERNACIONAL; INEXISTÊNCIA DE DANO MORAL; VALOR EXCESSIVO DA CONDENAÇÃO. DEMORA NA PRESTAÇÃO DE INFORMAÇÕES E ALIMENTAÇÃO. ASSISTÊNCIA FORNECIDA PELA COMPANHIA AÉREA INSUFICIENTE PARA NEUTRALIZAR O ABALO ANÍMICO. INAPLICABILIDADE DA CONVENÇÃO DE MONTREAL AOS DANOS MORAIS, AINDA QUE SE TRATE DE VOO INTERNACIONAL, NESSE SENTIDO A JURISPRUDÊNCIA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SANTA CATARINA: No caso de transporte aéreo internacional, aplicam-se as normas e os tratados internacionais, especialmente as Convenções de Varsóvia e de Montreal, mas apenas quanto aos danos materiais, pois os danos morais e, em ambos os casos, o transporte aéreo doméstico ou nacional têm regência, em regra, pelo Código Civil e, em se tratando de relação de consumo, pelo Código de Defesa do Consumidor (Ap. Cív. n. 0323339-75.2015.8.24.0023, rel. Des. Henry Petry Junior, j. 3.10.2017) (Grifou-se) [...] (TJSC, Recurso Inominado n. 0302599-50.2019.8.24.0090, da Capital - Norte da Ilha, rel. Juiz Davidson Jahn Mello, Primeira Turma de Recursos - Capital, j. 07-11-2019) (g.n.).


A companhia aérea defende ainda, que não pode ser responsabilizada pela alteração das poltronas, vez que a pré reserva não garante sua utilização.

Em que pese o esforço argumentativo, a insurgência não prospera.

A responsabilidade da empresa aérea – fornecedora de serviços de transporte – é objetiva e independe da comprovação de dolo ou culpa, nos termos do artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor.

Na hipótese é incontroverso que o autor adquiriu poltronas Espaço+ para poder voar com mais conforto, já que acometido de alterações degenerativas na coluna (fl. 14). Contudo, ao embarcar, a poltrona escolhida já estava ocupada e a tripulação da aeronave se recusou a acomodá-lo em outra poltrona mais confortável, sendo obrigado a realizar a viagem em poltrona comum, mesmo tendo pago pelo serviço do Espaço+. Salienta-se ainda que a recorrente não informou que realocou o autor em poltrona da mesma classe que o Espaço+.

Assim, tem-se que no caso tem-se que as...

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT