Acórdão nº 0875840-88.2020.8.14.0301 do Tribunal de Justiça do Estado do Pará, 2ª Turma Recursal Permanente, 2023

Número do processo0875840-88.2020.8.14.0301
Ano2023
Classe processualRECURSO INOMINADO CÍVEL
AssuntoDIREITO ADMINISTRATIVO E OUTRAS MATÉRIAS DE DIREITO PÚBLICO
Órgão2ª Turma Recursal Permanente

RECURSO INOMINADO N° 0875840-88.2020.8.14.0301

RECORRENTE: MARCO ANTONIO SILVA ROCHA

RECORRIDO: ESTADO DO PARÁ

ORIGEM: 1º JUIZADO ESPECIAL DA FAZENDA PÚBLICA DE BELÉM

RELATORA: JUÍZA PATRÍCIA DE OLIVEIRA SÁ MOREIRA

EMENTA: RECURSO INOMINADO. AÇÃO ORDINÁRIA DE COBRANÇA DE REAJUSTE SALARIAL. IMPOSSIBILIDADE. LEI Nº. 7.807/2014. POLÍTICA DE REMUNERAÇÃO DOS OFICIAIS DA POLÍCIA MILITAR E DO CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO DO PARÁ. NÃO SE APLICA AOS PRAÇAS. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO.

1. Cuida-se de Recurso Inominado interposto pelo autor, em face de sentença proferida pelo Juízo da 1ª Vara do Juizado Especial Cível da Fazenda Pública de Belém, nos autos da Ação Ordinária de Cobrança de reajuste salarial, ajuizada por MARCO ANTONIO SILVA ROCHA em face do Estado do Pará.

2. O Autor alega que é praça da polícia militar e que, desde o ano de 2016, vem recebendo seu soldo abaixo do previsto em lei e que têm direito ao recebimento do aumento do soldo, conforme previsto nas leis estaduais 6.827/2006, 7617/2012 e 7.807/2014, nos termos apontados na inicial.

3. O Juízo a quo, aplicou a Súmula Vinculante 16 e julgou liminarmente improcedente o pedido, nos seguintes termos (ID 5984875): “Súmula Vinculante 16 Os artigos 7º, IV, e 39, § 3º (redação da EC 19/98), da Constituição, referem-se ao total da remuneração percebida pelo servidor público. 6. Assim, analisando o caso concreto atinente à situação exposta na inicial, impertinente a pretensão autoral, sendo decreto que se impõe a improcedência da pretensão. 7. Ante o exposto, JULGO IMPROCEDENTE O PEDIDO, com resolução de mérito, com base no art. 332, I do CPC, nos termos da fundamentação”.

4. Inconformado, o autor interpôs o presente Recurso Inominado, onde urge pela reforma total, alegando que a sentença julgou em desconformidade com os fatos e a legislação estadual, fazendo jus o recorrente ao reajuste de soldo em cumprimento às Leis Estaduais nº 6827/2006, 7617/2014 e 7807/2014.

5. O Recorrido não apresentou contrarrazões.

6. É o relatório. Voto.

7. Entendo que não merece reforma a sentença do Juízo a quo, pelos seguintes fundamentos, vejamos.

8. Em 20/04/2014, o Governo do Estado do Pará promulgou a Lei Estadual nº 7.807 onde estabeleceu a “Política de Remuneração dos Oficiais da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Pará” que abrange os exercícios dos anos de 2014 a 2018.

9. A referida legislação determina que o reajuste do soldo dos Oficiais da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiro, se dê de forma progressiva, para o exercício dos anos de 2014, 2015, 2016, 2017 e 2018, em observância à tabela apresentada como Anexo I daquela mesma lei.

10. Nesse sentido, verifica-se que a parte autora não faz jus ao reajuste do pretendido soldo, contido na inicial, em face da Lei Estadual nº 7.807/2014, disciplinar o reajuste do soldo aos militares Oficiais e não aos praças.

11. No que se refere aos Praças, a Lei Estadual n. 6.827, de 07 de fevereiro de 2006, que dispõe sobre o Soldo dos Efetivos das Corporações Militares do Estado do Pará, em seu art. 2º, estabelece que, o soldado não poderá ter o valor do seu soldo abaixo do salário-mínimo.

12. Contudo, de acordo com o entendimento do STF, inclusive entendimento sumulado( Súmula vinculante 16) tal dispositivo deve ser interpretado de acordo com os art. , IV, e 39, § 3º, ambos da Constituição Federal, de onde se extrai que a remuneração total dos servidores não pode ser inferior ao salário mínimo, mas não o soldo, que corresponde a uma parte de seus vencimentos. Nesse sentido, jurisprudências a seguir:

AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. POLICIAL MILITAR. SOLDO FIXADO EM VALOR INFERIOR AO SALÁRIO MÍNIMO. POSSIBILIDADE. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal entende que a garantia do salário mínimo é aplicável à remuneração global do policial militar e não ao vencimento básico ou soldo. Precedentes. Agravo regimental a que se nega provimento. (STF - AI 547623 RS - Orgão Julgador: Primeira Turma. Relator Min. ROBERTO BARROSO Publicação – DJE 25-03-2014. Julgamento 25 de Fevereiro de 2014).

SERVIDOR PÚBLICO. BRIGADA MILITAR. VENCIMENTO BÁSICO. SOLDO INFERIOR AO SALÁRIO MÍNIMO. POSSIBILIDADE, DESDE QUE O TOTAL DA REMUNERAÇÃO SEJA SUPERIOR. O vencimento básico do servidor público militar não se vincula ao valor do salário mínimo por expressa vedação constitucional. Deve-se considerar o total de seus vencimentos para aferir a garantia do valor mínimo posto no art. 7º, IV, da CF-88. A matéria foi enfrentada pelo Tribunal Pleno do Supremo Tribunal Federal (RE 198.982), dirimindo a controvérsia sobre o tema. Orientação referendada no verbete nº 16 de sua Súmula Vinculante. Entendimento pacificado no seio desta Corte. Improcedência mantida. APELAÇÃO IMPROVIDA. (Apelação Cível Nº 70043346394, Terceira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Nelson Antônio Monteiro Pacheco, Julgado em 28/08/2014).

13. Destarte, pela análise do comprovante de pagamento apresentado, verifica-se que o autor percebe valor bruto de R$ 6.539,34 e o valor líquido de R$ 4.537,08, conforme contracheque de outubro de 2020, valores que são superiores ao salário mínimo vigente, portanto, dentro dos ditames legais, razão pela qual não deve ser modificada a sentença, a qual aplicou corretamente a Súmula Vinculante 16.

14. Ante o exposto, conheço do recurso e nego-lhe provimento, para manter a Sentença em todos os seus termos e por seus próprios fundamentos.

15. Sem custas processuais e honorários ante o deferimento da justiça gratuita.

16. A súmula de julgamento servirá de acórdão, conforme regra do art. 46 da Lei nº. 9.099/95.

Belém/PA, 16 de março de 2023.

PATRÍCIA DE OLIVEIRA SÁ MOREIRA

Relatora – 2 ª Turma Recursal Permanente dos Juizados Especiais

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT