Acórdão Nº 4003274-60.2020.8.24.0000 do Segunda Câmara de Direito Comercial, 22-09-2020

Número do processo4003274-60.2020.8.24.0000
Data22 Setembro 2020
Tribunal de OrigemBlumenau
ÓrgãoSegunda Câmara de Direito Comercial
Classe processualAgravo de Instrumento
Tipo de documentoAcórdão



ESTADO DE SANTA CATARINA

TRIBUNAL DE JUSTIÇA


Agravo de Instrumento n. 4003274-60.2020.8.24.0000

Relator: Desembargador Robson Luz Varella

AGRAVO DE INSTRUMENTO - HABILITAÇÃO RETARDATÁRIA DE CRÉDITO TRABALHISTA - INTERLOCUTÓRIA ATRAVÉS DA QUAL FOI DETERMINADA A SUSPENSÃO DO PROCESSO ATÉ QUE SOBREVENHA NOTÍCIA DO TRÂNSITO EM JULGADO DE RECURSO INTERPOSTO CONTRA DECISÃO DE HOMOLOGAÇÃO DO PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL, BEM COMO RECONHECIDA A NATUREZA TRABALHISTA DOS HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS - INCONFORMISMO DA PARTE AUTORA.

PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE RECURSAL SUSCITADA EM CONTRARRAZÕES - INSUBSISTÊNCIA - IRRESIGNAÇÃO QUE NÃO VERSA SOBRE VALOR DOS ESTIPÊNDIOS PATRONAIS - INAPLICABILIDADE DO ART. 99, §5º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL.

Se o recurso interposto em nome da parte beneficiária da gratuidade judiciária não versa exclusivamente sobre valor de honorários advocatícios, não há falar em incidência do art. 99, § 5º, da Lei Processual Civil. Destarte, sendo essa a hipótese dos autos, restam afastadas as teses de ausência de interesse ou deserção recursal, porque desnecessário o recolhimento do preparo.

RAZÕES RECURSAIS QUE DEFENDEM A IMPOSSIBILIDADE DE SOBRESTAMENTO DA DEMANDA - ARGUMENTADA OFENSA AO ART. 54 DA LEI N. 11.105/2005, QUE PREVÊ O INTERREGNO DE 1 (UM) ANO PARA PAGAMENTO DO CRÉDITO DECORRENTE DE RELAÇÃO DE TRABALHO - TESE ACOLHIDA - CONTEMPLAÇÃO NO PLANO DE SOERGUIMENTO DAS RECUPERANDAS DE ADIMPLEMENTO NO PRAZO LEGALMENTE ESTABELECIDO A CONTAR DA DATA EM QUE DECLARADO HABILITADO O CRÉDITO - CIRCUNSTÂNCIA A SER OBSERVADA - CASO CONCRETO EM QUE RESTOU ULTRAPASSADO REFERIDO LAPSO TEMPORAL - SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA DO PEDIDO DE HABILITAÇÃO TRANSITADA EM JULGADO EM 14/7/2018 - ADEMAIS, AUSÊNCIA DE EFEITO SUSPENSIVO ATRIBUÍDO AO RECLAMO MANEJADO EM DESFAVOR DO PRONUNCIAMENTO JUDICIAL HOMOLOGATÓRIO DO PLANO RECUPERACIONAL - PARALISAÇÃO DO FEITO DESNECESSÁRIA, A DESPEITO DA AUSÊNCIA DE TRÂNSITO EM JULGADO - INTELIGÊNCIA DO ART. 995 DO CÓDIGO DE RITOS - INSURGÊNCIA PROVIDA.

É consabido que o pagamento dos créditos, ainda que trabalhistas, deve respeitar os termos estabelecidos no plano de recuperação judicial, aprovado e devidamente homologado.

No caso concreto, da leitura do "decisum" homologatório, extrai-se que o início do prazo de 1 (um) ano, previsto no art. 54 da Lei n. 11.101/2005, para adimplemento dos créditos trabalhistas, deve ser contado "da data em que forem declarados habilitados".

Sob esse prisma, tendo em vista que a sentença de procedência da habilitação do crédito retardatário transitou em julgado na data de 14/7/2018, tem-se por configurada a ultrapassagem do aludido interregno.

Ademais, a despeito da interposição de recurso contra a decisão que homologou o plano, não houve atribuição de efeito suspensivo, de modo que se mostra desnecessário o sobrestamento da presente demanda, nos moldes do art. 995 da Lei Adjetiva Civil.

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS - CLASSIFICAÇÃO COMO CRÉDITO DE NATUREZA TRABALHISTA PELO MAGISTRADO DE PRIMEIRO GRAU - ALEGAÇÃO DE NÃO SE TRATAR, NA HIPÓTESE, DE VERBA ALIMENTAR - IRRESIGNAÇÃO ACOLHIDA - HIPÓTESE NA QUAL A SENTENÇA RESTOU PROLATADA APÓS A HOMOLOGAÇÃO DO PLANO - EXEGESE DO ART. 49, CAPUT DA LEI 11.101/2005 - CARÁTER EXTRACONCURSAL - NÃO SUJEIÇÃO AOS EFEITOS DA RECUPERAÇÃO.

Consoante entendimento do Superior Tribunal de Justiça, "em exegese lógica e sistemática, se a sentença que arbitrou os honorários sucumbenciais se deu posteriormente ao pedido de recuperação judicial, o crédito que dali emana, necessariamente, nascerá com natureza extraconcursal, já que, nos termos do art. 49, caput da Lei 11.101/05, sujeitam-se ao plano de soerguimento os créditos existentes na data do pedido de recuperação judicial, ainda que não vencidos, e não os posteriores. Por outro lado, se a sentença que arbitrou os honorários advocatícios for anterior ao pedido recuperacional, o crédito dali decorrente deverá ser tido como concursal, devendo ser habilitado e pago nos termos do plano de recuperação judicial" [...] (REsp 1841960/SP, Rela. Mina Nancy Andrighi, rel. p/ Acórdão Min. Luis Felipe Salomão, j. em 12/2/2020, DJ 13/4/2020).

De tal sorte, considerando que a sentença de procedência do pedido de habilitação retardatária de crédito foi prolatada após a homologação do plano de soerguimento, que data de 30/10/2013, a quantia referente aos honorários advocatícios arbitrados não se submete aos efeitos da recuperacional.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento n. 4003274-60.2020.8.24.0000, da comarca de Blumenau 2ª Vara Cível em que é/são Agravante Marcos Revelino Rodrigues e Agravado Teka Tecelagem Kuehnrich S/A - Em Recuperação Judicial e outros.

A Segunda Câmara de Direito Comercial decidiu, por votação unânime: a) rejeitar a prefacial suscitada em contraminuta; b) dar provimento ao recurso a fim de determinar a retomada da marcha processual do feito e reconhecer o caráter extraconcursal do crédito decorrente dos honorários advocatícios sucumbenciais. Custas legais.

Participaram do julgamento, realizado em 22 de setembro de 2020, os Exmos. Srs. Des. Rejane Andersen e Newton Varella Júnior.

Florianópolis, 25 de setembro de 2020.

Desembargador Robson Luz Varella

Relator


RELATÓRIO

Trata-se de agravo de instrumento interposto por Marcos Revelino Rodrigues contra interlocutória proferida nos autos de habilitação de crédito n. 0316721-62.2015.8.24.0008, promovida contra Teka Tecelagem Kuehnrich S/A - Em Recuperação Judicial e outros, a qual determinou o sobrestamento do presente feito até que sobrevenha notícia do trânsito em julgado de recurso interposto contra decisão de homologação do plano de recuperação judicial e reconheceu a natureza trabalhista dos honorários sucumbenciais sob fundamento de que detém característica alimentar.

Nas razões de insurgência, sustenta que respectiva ordem judicial de paralisação do processo inobservou o prazo máximo para adimplemento dos créditos trabalhistas contemplados na Lei de Recuperação Judicial. Acrescenta que o recurso manejado em face do comando judicial que homologou o plano de soerguimento sequer foi recebido no efeito suspensivo. Por outro lado, defende que os estipêndios patronais possuem a classificação de natureza extraconcursal, pois arbitrados após pedido recuperacional, não se sujeitando, portanto, às regras do plano. Por fim, pugna pelo provimento do recurso.

O almejado efeito suspensivo deixou de ser concedido (fls. 252/255).

Regularmente intimada, a parte agravada apresentou contraminuta, sendo que, como questão prejudicial, afirmou-se a imprescindibilidade de adimplemento do preparo recursal pelo causídico da parte insurgente, sob alegação de que "a reforma buscada é interesse exclusivo do advogado", por tratar apenas sobre estipêndio patronal; no mérito, requereu-se o inacolhimento do reclamo (fls. 260/265).

Lavrou parecer pela douta Procuradoria-Geral de Justiça o Exmo. Sr. Dr. João Fernando Quagliarelli Borrelli, manifestando-se pelo provimento do reclamo na integralidade.

Este é o relatório.


VOTO

Inicialmente, afasta-se, de plano, a questão prejudicial de mérito suscitada nas contrarrazões, acerca da ausência de legitimidade recursal ou de ausência de recolhimento do preparo, com fulcro no art. 99, § 5º, do Código de Processo Civil.

É que o tema discutido neste agravo de instrumento refere-se tão somente ao peculiar aspecto dos efeitos da justiça gratuita deferida às recuperandas, e não, sobre valor de honorários advocatícios, como afirmam as agravadas.

Portanto, resta claro o interesse recursal da parte agravante, ficando isenta do recolhimento do preparo, tendo em vista o deferimento do benefício da justiça gratuita na origem, sendo, pois, incabível falar na aplicabilidade do mencionado dispositivo processual.

Nesse sentido, vale citar os precedentes a seguir: TJSC, Apelação Cível n. 0302065-37.2018.8.24.0092, da Capital, rel. José Carlos Carstens Köhler,...

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT