Analise da efetividade de politicas de hedge no mercado de dolar futuro no Brasil.

AutorCabus Klotzle, Marcelo
CargoTexto en portugués

(Hedge Effectiveness in the Brazilian US Dollar Futures Market)

  1. Introdução

    Nos últimos anos, o mercado de dólar comercial experimentou grande volatilidade no Brasil. No ano de 2002, subiu 60% entre maio e outubro, por causa da possibilidade, depois confirmada, de vitória do candidato de esquerda nas eleições presidenciais. Depois disso, acumulou uma queda gradual de mais de 60% entre outubro de 2002 e agosto de 2008. Voltou a subir forte (mais de 60%) entre agosto de 2008 e dezembro de 2008, em função da crise econômica mundial. Os episódios de alta forte e rápida do dólar comercial provocaram prejuízos para diversas empresas brasileiras com dívida em dólar. A queda do dólar entre 2002 e 2008 provocou perdas para o setor exportador.

    As perdas com as oscilações do dólar podem ser compensadas com operações de hedge com os diversos instrumentos derivativos existentes no mercado brasileiro. No mercado futuro, negociado na BM&FBovespa, as empresas podem comprar contratos futuros para se proteger da alta do dólar e vender contratos futuros para se proteger da queda do dólar. Na execução dessas operações, a empresa precisa determinar a razão ótima de hedge. Ou seja, o número de contratos que deve comprar ou vender para executar a operação de hedge da forma mais eficiente possível.

    Alguns estudos já se preocuparam com a determinação da razão ótima de hedge nos mercados futuros brasileiros (p.e., Tanaka (2005); Bueno & Alves (2001); Jorge (2006); Bitencourt et al. (2006)). No entanto, em nenhum deles a assimetria da resposta da volatilidade a choques positivos e negativos foi considerada. Brooks et al. (2002) demonstram que há ligeiros benefícios em considerar a assimetria da volatilidade na determinação de razões ótimas de hedge, trabalhando com proteção de carteiras de ações em mercados futuros de ações.

    Este estudo examina a efetividade do hedge no mercado futuro de dólar comercial, negociado na BM&FBovespa, no período dezembro/2001 a fevereiro/2009. A determinação da razão de hedge foi feita de quatro maneiras alternativas: a) ingênua ou 1 - 1, na qual o hedger toma uma posição totalmente inversa à sua posição à vista; b) MQO - Mínimos Quadrados Ordinários; c) GARCH (Generalized Autoregressive Conditional Heteroscedasticity) Simétrico Bivariado; d) GARCH Assimétrico Bivariado. Assim, é um estudo que inova, ao incorporar as assimetrias encontradas na volatilidade do dólar na determinação das razões ótimas de hedge.

    A assimetria da volatilidade, que é tipicamente encontrada em mercados de ações, associa choques de preços negativos com grandes aumentos da volatilidade, ao contrario do que ocorre quando os choques de preços são positivos. Segundo Glosten et al. (1993), isso é devido à alavancagem presente em muitas das operações que são feitas nesses mercados. Entretanto, para o dólar no mercado brasileiro, a assimetria que se observa associa choques de preços positivos com grandes aumentos na volatilidade e queda do preço com diminuição da volatilidade.

    Na Seção 2, um resumo sucinto da literatura é apresentado. Na Seção 3, apresentamos uma descrição dos dados que serão utilizados. Na Seção 4, a metodologia empregada é discutida. Na Seção 5 apresentamos os principais resultados encontrados. A Seção 6 conclui o artigo.

  2. Revisão da Literatura

    Ederington (1979) propôs o cálculo da taxa de hedge usando o método de Mínimos Quadrados Ordinários. A hipótese básica desse método é a de que a matriz de variância/covariância é constante ao longo do tempo. Na prática, essa hipótese não se sustenta, pois os mercados alternam períodos de maior e de menor volatilidade e as correlações não se mantêm constantes. Com a introdução dos modelos GARGH, propostos porEngle (1982) e Bollerslev (1986) e generalizados para o contexto multivariado por Bollerslev et al. (1988) e Engle & Kroner (1995), tornou-se possível relaxar a hipótese de homocedasticidade, permitindo o cálculo dinâmico das taxas de hedge.

    Switzer & El-Khoury (2007) examinaram a efetividade do hedge no mercado de petróleo durante períodos de extrema volatilidade. Para isso, calcularam quatro taxas de hedge alternativas: a) ingênua; b) Mínimos Quadrados Ordinários; c) GARCH Simétrico Bivariado; d) GARCH Assimétrico Bivariado. Segundo os autores, foi a primeira vez que as assimetrias foram incorporadas num modelo GARCH Assimétrico para contratos futuros de petróleo. Os testes demonstraram uma pequena superioridade do modelo GARCH Assimétrico em relação aos modelos alternativos, incluindo o modelo GARCH Simétrico Bivariado.

    Indo na direção contrária, Lien (2008) argumenta que, apesar das vantagens aparentes dos métodos que incluem a informação condicional na determinação da taxa de hedge, o desempenho desses métodos é inferior ao método de Mínimos Quadrados Ordinários. No artigo, ele explica as condições sob as quais o método de Mínimos Quadrados Ordinários domina o método dinâmico. Na determinação do desempenho de uma forma de hedge comparada com outra, ele invoca a medida de desempenho proposta por Ederington (1979). Essa medida é a percentagem de redução da variância da carteira com hedge em comparação com a posição sem hedge. A estratégia de hedge superior é a que produz a maior redução percentual na variância.

    No Brasil, alguns trabalhos discutiram a questão da estimação das taxas ótimas de hedge (p.e., Tanaka (2005); Bueno & Alves (2001); Jorge (2006); Bitencourt et al. (2006)). No entanto, nenhum deles examinou o desempenho do hedge levando em consideração as assimetrias existentes no mercado de dólar comercial, ou em outros mercados, incorporando-as num modelo GARCH Bivariado Assimétrico.

    Tanaka (2005) estima a razão ótima de hedge no mercado futuro de dólar comercial, com dados do período de 04 de abril de 1995 até 30 de março de 2004. As estimativas foram feitas com base em dois métodos: 1) Mínimos Quadrados Ordinários; 2) GARCH Bivariado - BEKK - Diagonal. Os resultados que obteve mostram que a carteira com razão de hedge variável, estimada pelo método GARCH Bivariado, obteve mais sucesso em reduzir a variância da carteira em relação à carteira sem hedge do que a carteira com razão de hedge estimada por Mínimos Quadrados Ordinários.

    Bueno & Alves (2001) também estimam a razão ótima de hedge no mercado futuro de dólar comercial. Os dados que utilizaram compreendem o período desde 02/01/1995 até 30/10/1998. Compararam-se três casos: ingênua, Mínimos Quadrados Ordinários e GARCH Multivariado (modelo VECH). Os resultados obtidos permitiram inferir as seguintes conclusões principais:

  3. A redução da volatilidade proveniente do uso de técnicas de hedge chegou a 13,3%;

  4. O hedge ingênuo chega a ser mais arriscado, pois, em alguns casos, aumentou a volatilidade ao invés de diminuí-la;

  5. O método GARCH Multivariado é mais eficiente do que o método de Mínimos Quadrados Ordinários;

    Jorge (2006) avalia a efetividade de modelos alternativos de proteção cambial para operações de captação e de aplicação de recursos do exterior por instituições financeiras no Brasil. Ele trabalha com dois modelos de hedge: 1) modelo de proteção integral, estático ao longo do tempo, com razão de hedge igual a um; 2) modelo convencional de Mínimos Quadrados Ordinários, estimado de forma dinâmica, com redefinições diárias da razão de hedge, utilizando uma janela móvel de tamanho fixo de 190 dias. Conclui que o modelo convencional de Mínimos Quadrados Ordinários produziu melhores resultados do que o modelo de proteção integral.

    Bitencourt et al. (2006) analisaram dois métodos para o cálculo das razões ótimas de hedge no mercado futuro de boi gordo da BM&FBovespa: o modelo convencional de regressão e o modelo GARCH BEKK Bivariado Simétrico, que leva em consideração as correlações condicionais da série. Os resultados obtidos apontam no sentido de que a razão ótima de hedge não é constante no tempo, sugerindo que a utilização do modelo GARCH é mais realista do que o de Mínimos Quadrados Ordinários

  6. Metodologia

    Na teoria de carteiras, fazer hedge com futuros pode ser considerado um problema de seleção de carteiras, no qual os contratos futuros podem ser usados como um dos ativos na carteira para minimizar o risco total ou maximizar a função utilidade. Fazer hedge com contrato futuros envolve a compra/venda de futuros em combinação com outro evento, normalmente a expectativa de uma mudança favorável nos preços relativos dos mercados spot e futuro (Castelino, 1992). A idéia básica de se fazer hedge usando mercados futuros é compensar uma...

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