Aspectos básicos da comunicação no processo mediador
Autor | Maria De Nazareth Serpa |
Ocupação do Autor | Mestre e Doutora em Direito pela UFMG |
Páginas | 50-66 |
1. TERMO
Ato ou efeito de comunicar, do latim communicatione, do verbo latino
communicare: estabelecer ligação entre. Transmitir ideias, pensamentos, pro-
pósitos, sentimentos; Pôr em relação ou contato.; Transmitir, difundir, dar,
conceder; Travar ou manter entendimento, conversação1.
Todos esses vocábulos se aplicam ao trabalho da ciência da comunicação
nos processos resolutivos de conito. No movimento das partes, fazer saber é,
antes de mais nada, esclarecer, informar. É a força que leva pessoas a se enten-
derem e entabularem conversações com objetivos comuns. Estabelecer ligação
é redirigir essa força, eventualmente invertida numa relação em conito, com
o objetivo de impulsionar as pessoas envolvidas para uma direção singular
e contrária a direção do conito, ou seja, para aproximá-las uma das outras
e distanciá-las do conito, rumo à resolução do conito. Transmitir é tirar
conceitos da seara individual para partilhar a utilização desses conceitos pelo
outro. Travar ou manter entendimento e/ou conversação signica desimpedir
os canais de transmissão das verdades ou valores entre indivíduos utilizando
parâmetros que permitam a equiparação e reconhecimento de elementos vari-
áveis existentes em suas relações fazendo-os compatíveis e aceitáveis.
2. CONCEITO
Como vimos, a comunicação é o instrumento essencial e primordial para
o desenrolar da mediação. Nesta arena, aquela é o princípio e o m. Sem ela
1 Hollanda, Aurelio Buarque. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Editora Nova
Fronteira. Rio de Janeiro, 1975.
TÍTULO ÚNICO
ASPECTOS BÁSICOS DA COMUNICAÇÃO
NO PROCESSO MEDIADOR
INTRODUÇÃO
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MEDIAÇÃO – Uma solução judiciosa para conflitos
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não há como se falar em resolução de conitos propriamente dita. Ela é a mola
mestra dos sistemas não adversariais e a bússola orientadora para o acordo.
Na mediação, comunicação signica utilização de aparelhamento técnico
ligado à escuta do outro, que encerra habilidade em questionamento, expli-
cações, clareamento de linguagem não explícita, entendimento de emoções e
de personalidades, redirecionamento de mensagens truncadas ou lacunosas,
tudo talhado para realizar a devida troca de informações que leva pessoas em
conito a resolverem suas questões.
As técnicas de comunicação, usadas pelo mediador, têm o condão de que-
brar as barreiras criadas pelo arcabouço de conceitos, crenças, presunções e sen-
timentos dos envolvidos para identicar, revelar e facilitar o reconhecimento e
entendimento recíproco. Estas técnicas são talhadas para permitir a liberdade
do essencial, muitas vezes escondido ou desconhecido pelas partes, em meio a
posicionamentos rígidos ou necessidades dos conitantes. O desconhecimento
ou desconsideração desse arcabouço é fator determinante da perda de esponta-
neidade, de vontade e disposição de se relacionar ou receber o outro.
Sob a luz dos ensinos de psicologia, entende-se que o medo ou receio re-
cobrem e oprimem os reais interesses das pessoas, fazendo-os inexistentes e
dicultando a comunicação. Sem esta as pessoas imobilizam-se dentro da es-
trutura de suas personalidade e não conseguem negociar, ou seja, não dispõem
de material psicológico para transacionar. As pessoas nas suas relações, quan-
do em conito, seja de ordem pessoal, familiar, comercial ou pública, abraçam
posições e tentam impô-las umas às outras. Nesse momento e lugar, sem as-
sistência, de per si, ignoram ou repudiam eventuais movimentos em direção a
qualquer facilitação. Os recursos internos de cada um cam bloqueados.
No processo de mediação a comunicação é o mecanismo utilizado pelo
neutro, que tem por bem a restauração da conança no outro para permitir
o trabalho de utilização do essencial comum extraído do âmago do conito e
liberado para formar a base do entendimento.
Como mencionado, o medo ou receio, que é a falta de oxigênio no pulmão
da conança, recobre e oprime os reais interesses existentes nas relações hu-
manas em conito. E existe sempre uma camada desses interesses alternando
o querer e as necessidades ou posições das partes envolvidas.
Assim sendo, o desao consiste em separar as camadas geradoras do con-
ito e buscar, através da comunicação o desvendamento e clareamento desses
interesses. Este é o caminho que percorre o mediador no processo mediador
para chegar ao acordo.
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