Banco poderá se alavancar na moeda digital do BC

Os bancos poderão se alavancar nos depósitos que receberem de clientes na moeda digital a ser criada pelo Banco Central (BC), seguindo os mesmos princípios que hoje se aplicam às captações feitas em reais convencionais.

Isso significa que, na prática, os bancos poderão emitir mais de suas próprias moedas digitais (conhecidas como tokens ou “stablecoins”) do que captam de seus clientes sob a forma de depósitos em reais.

Visto de outra forma, nem todo o dinheiro digital a ser emitido pelo sistema bancário terá lastro 100% garantido no real digital, na proporção de um para um. Essa obrigatoriedade de lastro completo só ser exigida para as instituições de pagamento.

Embora, à primeira vista, pareça que a nova moeda digital dos bancos será menos segura, na verdade ela apenas vai reproduzir o padrão adotado nos depósitos hoje feitos com dinheiro convencional - que permite alavancagem dos bancos.

A segurança será garantida por todo o arcabouço regulatório e prudencial do sistema bancário, como os requerimentos de capital mínimo de Basileia, para absorver possíveis perdas, e colchões de liquidez para fazer frente a um possível aperto de caixa, como os provocados por concentração de saques de depósitos.

A supervisão pelo Banco Central é a salvaguarda que vai diferenciar os tokens dos bancos de stablecoins emitidas por empresas fora do sistema financeiro, como a Luna, que sofreu recentemente um colapso porque não era 100% lastreada em dólares.

A intenção de permitir que os bancos se alavanquem no real digital foi revelada na segunda-feira pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em um evento sobre moeda digital.

“Será a alavancagem natural dos depósitos”, explica o coordenador do projeto do real digital do BC, Fabio Araújo. “Haveria a possibilidade de os bancos emitirem ‘stablecoins’ dentro de um ambiente que a gente já conhece, que está bem regulado e sabemos que funciona bem.”

Hoje, os bancos se alavancam nos depósitos convencionais por meio do chamado multiplicador bancário. Quando um cliente faz um depósito, o banco usa o dinheiro captado para fazer um empréstimo, depois de reter uma parcela dele sob a forma de depósito compulsório no BC.

Esse dinheiro emprestado, por sua vez, volta a se tornar um depósito bancário. E o novo depósito, mais uma vez, pode originar um outro empréstimo, depois de deduzido o depósito compulsório. Ou seja, o depósito inicial se multiplica, permitindo fazer vários empréstimos e alavancando as operações do...

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