Commentary about the article "The risk of asymmetric information on the liquidity of agricultural commodities futures contracts"/Comentarios acerca do artigo "O risco de informacao assimetrica sobre a liquidez dos contratos futuros de commodities agricolas".

AutorCruz, Jose Cesar, Junior

Comentario

O trabalho de Ribeiro et al. (2020), "O risco de informacao assimetrica sobre a liquidez dos contratos futuros de commodities agricolas", investiga a influencia da assimetria de informacoes sobre a liquidez nos mercados futuros agropecuarios (de milho, soja, cafe e boi gordo) da bolsa brasileira, B3 (Brasil, Bolsa, Balcao). Utiliza-se um modelo de dados em painel, em que a liquidez (obtida pelo bid-ask-spread) e a variavel dependente e a assimetria informational, mensurada a partir do VEIN (Volume--Synchronized Probability of Informed Trading), consiste na variavel explicativa de interesse. Como variaveis de controle, foram considerados: numero de negocios, volume negociado e volatilidade do preco. O modelo foi capaz de explicar cerca de 43% da variacao da liquidez, verificando-se uma relacao positiva entre o risco de negociacao com assimetria informacional e liquidez. A partir de tal estudo, esta nota tem o objetivo de pontuar os limites e os cuidados necessarios para analisar a relacao entre liquidez e informacao assimetrica nos mercados de derivativos agropecuarios.

Em geral, os estudos que avaliaram a relacao entre liquidez e assimetria informational focaram mercados de alta liquidez, especialmente acoes, futuros de indices de acoes e cambio. Para mercados internacionais, ver, por exemplo, Easley et al. (2012), Abad e Yague (2012), Andersen e Bondarenko (2014), Poppe et al. (2016), Abad et al. (2018) e Yildiz et al. (2020). Para mercados nacionais, pesquisas de Barbosa (2014) e Siqueira et al. (2017) podem ser citadas.

A analise de Ribeiro et al. (2020) segue, assim, os estudos acima, considerando especificamente os mercados futuros agropecuarios da bolsa brasileira, a B3. A leitura deste artigo provocou, em nos autores, alguns pontos de reflexao especialmente relacionados aos procedimentos e metricas utilizados que, consequentemente, levaram a resultados que precisam ser examinados com cautela. Dois pontos importantes devem ser considerados para um apropriado desenho dos metodos, sua aplicacao e interpretacao dos resultados. O primeiro ponto tem base na liquidez bastante reduzida dos derivativos agropecuarios domesticos frente aos mercados analisados pelos estudos consagrados neste tema (Easley et al., 2012; Abad e Yague, 2012; Andersen e Bondarenko, 2014). O segundo consiste no fato dos ativos analisados se constituirem em contratos futuros sobre commodities, os quais possuem particularidades proprias --especialmente relacionadas a sua dinamica operacional e seu processo de formacao dos precos--frente as acoes e contratos futuros sobre instrumentos financeiros. Ambos os pontos impactam na definicao, construcao e interpretacao das variaveis utilizadas no estudo, como sera apontado a seguir.

Com relacao a liquidez, cabe observar que o volume de contratos futuros de soja, milho e cafe arabica da B3 representou, em 2019, apenas 1%, 24% e 41%, respectivamente, da safra brasileira dos produtos em questao. No mercado de boi gordo, as negociacoes chegaram proximas a 24% do volume de animais abatidos no pais. Aponta-se, ainda, que os mercados futuros de milho e soja da B3 corresponderam, em 2019, a apenas 0,19% e 0,02% das negociacoes efetivadas na bolsa de Chicago (CME, 2019) para estas commodities, respectivamente. Para o cafe arabica, a relacao foi de 0,33%, sendo esta ultima comparacao feita a partir dos negocios feitos na ICE--Intercontinental Exchange (ICE, 2020). A baixa liquidez destes mercados e abordada por Mattos e Garcia (2004), Marquezin (2013), Quintino et al. (2017) e Costa et al. (2018). Esta ultima pesquisa, por exemplo, utiliza dados de alta frequencia nos mercados futuros de milho e boi gordo da B3. Os resultados, de forma geral, mostram a existencia de liquidez no mercado de milho, nao sendo possivel, porem, constatar tal fato no mercado de boi gordo, segundo contrato mais negociado, apos o milho, em que nao houve uma relacao bem definida entre bid-ask spread, volume e volatilidade.

Para ilustrar os pontos acima ressaltados, consideramos o periodo de estudo de Ribeiro et al. (2020), entre 1 de dezembro de 2018 e 30 de novembro de 2019. Neste intervalo de tempo, foram negociados, na B3, 18 vencimentos para o contrato de boi gordo (BGI), 11 para o de milho (CCM), 12 para o de cafe arabica (ICF) e nove para o de soja (SJC). O...

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT