Controle da pandemia é condição para fazer ajuste fiscal, afirma economista

O risco de descontrole das contas públicas cresceu de forma significativa, devido à relutância do Executivo e do Legislativo em respeitar o teto dos gastos em 2021. Isso tem se refletido em uma desvalorização adicional do real, na contramão da recuperação do valor de outras moedas mundiais, e impede uma queda maior dos juros.

A avaliação é do economista-chefe do Citi Brasil, Leonardo Porto, que falou sobre as novas projeções divulgadas pelo banco em seu relatório global. Segundo ele, o país precisa avançar no controle da covid-19 para encerrar o gasto com o auxílio emergencial e retomar o ajuste fiscal.

Pergunta: O que mudou na visão sobre a economia brasileira no último relatório do Citi?

Leonardo Porto: São três mensagens. O risco fiscal está crescendo de forma significativa nos últimos meses, o que está ligado a uma postura ainda errática e ambígua do governo e do Congresso em relação ao teto de gastos.

A segunda mensagem é que isso está sendo precificado. A taxa de câmbio bateu por volta de 8 de junho em R$ 4,82.

De lá pra cá, os preços das commodities subiram, o dólar perdeu valor em relação às principais moedas, a aversão ao risco global caiu, mas o câmbio está pelo menos 10% mais depreciado do que estaria quando se olha só fatores globais. É evidente que os ativos aqui estão perdendo valor por fatores domésticos.

A terceira mensagem é que a gente revisou o PIB de -6,5% para -6%. A razão é basicamente a previsão do segundo trimestre, que passou de uma queda de 9,5% para -9%. Vai ser uma queda sem precedentes, mas um pouco menor do que a gente imaginava.

Pergunta: É possível cumprir o teto e conter a dívida mesmo com a pandemia?

Porto: Nossa previsão de dívida bruta/PIB está em 97,5% para o final deste ano e 99% para 2021. Na previsão de 2020 a gente incluiu R$ 100 bilhões de renovação para o "coronavoucher", o que pode significar, por exemplo, mais duas parcelas de R$ 600 ou quatro de R$ 300. Também está embutida a hipótese de que, em 2021, muda a chavinha e o governo vai respeitar as restrições do teto de gastos.

A dívida no ano que vem cresceria pouco, você teria uma política fiscal altamente contracionista, as medidas de combate ao coronavírus seriam revertidas, o estado de calamidade pública acaba.

Não está se falando muito, mas nos parece que o controle da doença é uma condição necessária para que você implemente uma política fiscal contracionista. Se não tiver a doença sob controle, o "coronavoucher" vai ter de ser estendido por...

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