Criminalizacao da resistencia em Caliba e a bruxa.

AutorMachado, Ana Caroline Gimenes
CargoRESENHA

FEDERICI, S. Calibã e a bruxa. Mulheres, corpo e acumulação primitiva. São Paulo: Editora Elefante, 2017.

Silvia Federici, autora de Calibã e a bruxa, é uma intelectual italiana militante de tradição feminista marxista autônoma. Seu livro foi fruto de uma cuidadosa pesquisa realizada durante quase três décadas, tendo sido idealizado, inicialmente, como uma colaboração para o movimento feminista, o qual se debruçava sobre a luta em favor da libertação das mulheres e, contra à subordinação das mulheres aos homens. Por conseguinte, pretendia revelar, por meio de uma valiosa análise histórica, que o tratamento desigual e injusto que é dispensado às mulheres na sociedade capitalista é resultado da formação do capitalismo, estabelecido sobre diferenças sexuais existentes e recuperado para desempenhar novas funções sociais.

A autora assegura que a exploração do corpo feminino é inerente ao sistema capitalista, visto que, foi e permanece sendo necessária para implantação, conservação e existência da lógica do capital, ainda que conviva com a resistência feminina, consubstanciada em seus corpos e saberes. A investigação mostra que os assassinatos perpetrados contra as mulheres sob a justificativa da chamada caça às bruxas foi uma das ferramentas de opressão às mulheres durante a formação do capitalismo, uma vez que eram detentoras de conhecimentos de métodos contraceptivos e eram "naturalmente", produtoras de mão de obra, ao gerarem aqueles que seriam usados como força de trabalho, além de exercerem gratuitamente os serviços domésticos.

Neste sentido, a obra se ocupa, precipuamente, em revelar o cariz exploratório durante o desenvolvimento capitalista que se utiliza do mecanismo da exacerbação de violência e guerra contra às mulheres para baratear as despesas da produção do trabalho, tendo em vista que estas representavam o sujeito primário, conforme mostra a autora. O livro também expõe o processo de colonização da América, a extrusão dos camponeses europeus dos seus "bens comuns" e a gradativa transformação do corpo proletário em uma máquina de trabalho, com a qual era possível obter parcos recursos para sobrevivência.

Na introdução apresenta que o título "Calibã e a bruxa" advém da peça de William Shakespeare A tempestade (1611), fazendo referência a dois personagens da peça: Calibã e sua mãe, Sycorax. Federici compreende que Calibã representa um símbolo de resistência à lógica capitalista, e sua mãe, a poderosa bruxa argelina, que na peça aparece de forma menosprezada, revela a dimensão sexista que o capital estabelece com os sujeitos femininos.

A autora resgata o processo da passagem do feudalismo para o capitalismo sob a perspectiva das mulheres, do corpo e da acumulação primitiva, tendo em relevo os marcos conceituais feminista, foucaultiano e marxista para elaboração de toda a análise contida no livro. Nele é estabelecida uma relação entre o desenvolvimento do...

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