Decisão Monocrática Nº 0300556-23.2017.8.24.0087 do Terceira Vice-Presidência, 09-11-2020

Número do processo0300556-23.2017.8.24.0087
Data09 Novembro 2020
Tribunal de OrigemLauro Müller
ÓrgãoTerceira Vice-Presidênci
Classe processualRecurso Especial
Tipo de documentoDecisão Monocrática


Recurso Especial n. 0300556-23.2017.8.24.0087/50002, Lauro Müller

Recorrente : Caixa Seguradora S/A
Advogado : Luiz Augusto Moojen da Silveira (OAB: 43964/SC)
Recorrido : Donivaldo Leopoldo
Advogados : Odirlei de Oliveira (OAB: 28013/SC) e outro

DECISÃO MONOCRÁTICA

Caixa Seguradora S/A, com base no artigo 105, inciso III, alíneas "a" e "c", da Constituição Federal, interpôs o presente recurso especial alegando violação aos artigos 757, 760, 767 e 801 do Código Civil; 489 e 1.022 do Código de Processo Civil; 3º da Resolução n. 107/04 da SUSEP; além de divergência jurisprudencial no que diz respeito à inexistência de abusividade quando a seguradora informa o estipulante acerca das condições contratuais do seguro de vida em grupo.

Cumprida a fase do artigo 1.030, caput, do Código de Processo Civil.

Inicialmente, cumpre destacar que o recurso especial em análise envolve questão afeta ao direito do segurado de ser informado a respeito das cláusulas contratuais restritivas/limitativas compreendidas em contrato de seguro de vida em grupo, temática comum a demandas análogas, tanto que, em setembro de 2018, foi alçada ao Superior Tribunal de Justiça, após a seleção de dois recursos representativos de controvérsia (REsp n. 1.784.662/SC e REsp n. 1.782.032/SC), nos termos dos artigos 1.030, inciso IV, e 1.037, do CPC/2015, e artigo 256, § 2º, inciso VI, do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça - RISTJ.

Os aludidos recursos representativos de controvérsia não foram afetados à sistemática dos recursos repetitivos, já que, segundo o eminente Relator, "o tema não está suficientemente discutido, tampouco há entendimento amadurecido sobre ele" (STJ, Decisão monocrática, REsp 1.784.662/SC e REsp 1.782.662/SC, Rel. Min. Marco Buzzi, DJe 21.05.2019). Daí porque, no exame de admissibilidade dos recursos especiais que versavam sobre a matéria, reputava-se inaplicável a análise à luz da Súmula n. 83 do Superior Tribunal de Justiça, que pressupõe entendimento sedimentado dessa Corte.

Sucede que, recentemente, as Terceira e Quarta Turmas da Corte da Cidadania (que compõem a Segunda Seção) estabilizaram a matéria, firmando orientação no sentido de que, em contratos de seguro de vida em grupo, compete à seguradora esclarecer os segurados/consumidores acerca do produto oferecido, suas condições, cobertura e limitações, não sendo suficiente que preste informações apenas ao estipulante.

A propósito, colhe-se a ementa do acórdão proferido pela Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, sob a lavra da Ministra Nancy Andrighi:

"DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COBRANÇA DE INDENIZAÇÃO SECURITÁRIA. SEGURO DE VIDA EM GRUPO. SÚMULAS 5 E 7/STJ. INAPLICABILIDADE. DISCUSSÃO SOBRE QUESTÃO EMINENTEMENTE JURÍDICA. SEGURADORA. DEVER DE INFORMAÇÃO SOBRE AS DISPOSIÇÕES CONTRATUAIS EM FACE DOS SEGURADOS-CONSUMIDORES.

1. Cuida-se, na origem, de ação de cobrança de indenização securitária, relativa a seguro de vida em grupo.

2. Debatendo o recurso especial sobre questão eminentemente jurídica, bem delimitada no acórdão recorrido, não há que se falar na incidência dos óbices das Súmulas 5 e 7/STJ.

3. No seguro de vida em grupo, a seguradora deve esclarecer previamente tanto os segurados-consumidores como o estipulante acerca do produto oferecido, suas condições, cobertura e restrições, de modo a não os induzir em erro. Precedentes da 3ª e 4ª Turmas deste Tribunal. 4. Agravo interno não provido." (STJ - Terceira Turma, AgInt no REsp 1834913/SC, Relª. Ministra Nancy Andrighi, j. 10/08/2020, DJe 14/08/2020 - grifou-se).

Vale ressaltar que, no corpo do v. aresto, a eminente Ministra Relatora registrou expressamente que a não afetação do tema relacionado ao dever de informação em contratos de seguro de vida em grupo à sistemática dos recursos repetitivos não significa "ausência de jurisprudência".

Nesse norte, merece destaque o seguinte excerto:

"Por fim, a respeito das demais alegações trazidas pelo agravante, convém salientar que a simples rejeição de proposta de afetação do tema em análise não significa a ausência de jurisprudência do STJ a ser observada pelas instâncias ordinárias. Como cediço, a afetação de tema para o rito dos recursos especiais repetitivos possui requisitos especiais - dado, evidentemente, a maior vinculatividade do precedente a ser formado -, juízo esse que não impacta, de forma alguma, o julgamento 'comum' realizado por esta Corte." (grifou-se).

Em reforço, salienta-se que os recursos especiais admitidos por esta Terceira Vice-Presidência foram parcialmente providos a fim de que os autos retornassem ao Colegiado de origem para análise do cumprimento do dever de informação pela seguradora.

Nesse sentido:

"[...] O TJSC entendeu que o dever de prestar informações ao consumidor seria apenas da estipulante. Confira-se:

No entanto, a hipótese trata de seguro de vida em grupo, contratado pela empregadora da parte autora/Apelante, cujas condições de contratação e principalmente de aderência por parte dos empregados são específicas, já que entabuladas diretamente entre seguradora e estipulante, não tendo como se exigir da Apelada a cientificação prévia e expressa dos segurados acerca das cláusulas previstas nas condições gerais.

Em outras palavras, 'a característica principal deste tipo de contrato de seguro (em grupo) é justamente a existência de um ajuste entre o estipulante (pessoa física ou jurídica), neste caso a empregadora do autor, e a seguradora, em favor de terceiro (beneficiário), sem participação direta deste dos termos e condições contratados'. (TJSC, Apelação Chiei n. 0300378-04.2015.8.24.0036, de Jaraguá do Sul, rel. Des. Helio David Vieira Figueira dos Santos, Quarta Câmara de Direito Civil, j. 28-11-2019).

Aliás, conforme se extrai da leitura do contrato em questão, a responsabilidade de comunicação e repasse dessas informações aos segurados é da estipulante, motivo pelo qual não pode a seguradora ser responsabilizada por eventual desídia da contratante, neste sentido (fls. 117/118 - item '27', alíneas 'c', 'f' e 'i', das condições gerais do contrato) (e-STJ, fls. 385/386).

A jurisprudência do STJ orienta, porém, que o dever de informação a respeito das condições do contrato de seguro é da própria SEGURADORA, que não o pode transferir para o estipulante.

Nesse sentido:

AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL - AÇÃO CONDENATÓRIA - DECISÃO MONOCRÁTICA QUE DEU PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO ESPECIAL. INSURGÊNCIA DA DEMANDADA. 1. Nos termos da jurisprudência desta Corte, a seguradora tem o dever de prestar informações ao segurado, mesmo nos contratos de seguro de vida em grupo. Precedentes de ambas Turmas de Direito Privado. 2. Tal responsabilidade não pode ser transferida, eximindo a seguradora, integralmente à estipulante, pois essa, segundo o artigo 801, § 1º, do Código Civil, 'não representa o segurador perante o grupo segurado, e é o único responsável, para com o segurador, pelo cumprimento de todas as obrigações contratuais'. (AgInt no REsp 1.835.185/SC, Rel. Ministro MARCO BUZZI, Quarta Turma, DJe 27/11/2019)

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. SEGURO DE VIDA EM GRUPO. CLÁUSULAS LIMITATIVAS. AUSÊNCIA DE INFORMAÇÃO ADEQUADA. AGRAVO INTERNO IMPROVIDO. 1. O entendimento da Corte local sobre o dever da seguradora informar ao segurado consumidor sobre cláusula restritiva está em conformidade com a jurisprudência do STJ no sentido de que 'a seguradora deve sempre esclarecer previamente o consumidor e o estipulante (seguro em grupo) sobre os produtos que oferece e existem no mercado, prestando informações claras a respeito do tipo de cobertura contratada e as suas...

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