Entrevista com o ministro Cezar Peluso

AutorFernando de Castro Fontainha/Angela Moreira Domingues da Silva/Fábio Ferraz de Almeida
Páginas27-166
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CEZAR PELUSO
Apresentação; dados biográficos do entrevistado; origem
familiar; memórias da infância em Bragança Paulista, em
Bom Jesus dos Perdões e em São Paulo; vida escolar na
cidade de São Paulo; motivos da ida para São Paulo; o
distanciamento dos pais em relação à política
 Doze de setembro de 2013, nós
estamos aqui em mais um ato de pesquisa, uma entrevista para
o projeto: “O supremo por seus ministros, a história oral do STF
nos 25 anos da Constituição Federal, 1978 a 2013”. Estamos em
Brasília, na casa do ministro Cezar Peluso, nosso entrevistado,
presentes, eu mesmo, Fernando Fontainha, professor da FGV
DIREITO RIO, Angela Moreira, professora do CPDOC, Fábio
Ferraz, assistente de pesquisa da FGV DIREITO RIO, Verônica
Otero, bolsista do projeto pela FGV DIREITO RIO, e Nina, ana-
lista de audiovisual do CPDOC. Ministro, eu poderia pedir para
começarmos a entrevista com o senhor nos dizendo o seu nome
completo, a data e local de nascimento, o nome dos seus pais, al-
guns dados mais gerais sobre o senhor?
 Ah, pois não. A despeito de que reve-
lar a idade não é uma coisa muito agradável [risos], mas en-
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nenhum inconveniente. Meu nome é Antonio Cezar Peluso,
sou nascido em Bragança Paulista, em 3 de setembro de 1942,
meus pais são Daniel Deusdedit Peluso e Maria Apparecida
Bueno Peluso, ambos já falecidos.
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 Minha mãe era o que a gente chama uma pessoa de casa,
até porque naquela época eram poucas as mulheres que tinham

pai foi jornalista, radialista, escritor.
 E o senhor tinha outros irmãos?
28 História Oral dO supremO VOLUME 4

 O senhor poderia nos descrever como era a sua infância?
O senhor passou sua infância em Bragança mesmo, como era
sua casa?
  Parte da minha infância foi em Bragança Paulista, da
qual eu tenho muito pouca coisa na memória, lembranças as-
sim muito esparsas da cidade, de algumas pessoas que já fale-
ceram, evidentemente, de alguns parentes que ainda estão vi-
vos, e depois fui para uma cidade próxima a Bragança Paulista,
chamada Bom Jesus dos Perdões, uma pequena cidade, onde
fui morar com meus avós durante um certo período em que
meus pais estavam de transição para mudança para São Paulo.
Também, nada de anormal, era e é ainda uma pequena cidade,
que naquela época tinha um... vamos dizer assim, um caráter
muito religioso, porque era objeto de festas periódicas de um
padroeiro local. Eu me lembro bem dessas festas e de exibições
folclóricas por conta dessas festas. Ali comecei o meu primá-
rio, que era muito fraco como depois eu vim a revelar quando
me mudei para São Paulo, e tive que me matricular onde é hoje,
até hoje existe um grupo escolar, aliás, hoje é um colégio, na
Rua da Consolação. Foi quando eu percebi que os meus dois
primeiros anos de grupo escolar não foram muito consisten-
tes. Tive que reaprender... Reaprender não; na verdade, apren-
der muita coisa.
 E como foi sua vida escolar, ministro? Nós não consegui-
mos registro de como foi sua vida escolar antes de 1955, quando
o senhor ingressa no Seminário Diocesano São José. Os dois pri-
meiros anos de vida escolar o senhor fez em São Jesus dos Perdões?

Eu não me lembro qual é o nome atual, eu passo por lá olho as-
sim com saudades, mas não me recordo direito o nome do gru-

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CEZAR PELUSO
“olha há um episódio importante...”, nada, normal. Uma certa
 
nos dois primeiros anos. Recordo-me que uma certa professora
disse para minha mãe: “Olha, matemática para ele é grego”. Eu
não sei se isso me marcou um pouco, porque dali para frente a
minha convivência com matemática e aritmética não foi muito
agradável. Mas senti. Acabei me interessando por matemáti-

vamos dizer, o curso adequado para aprender ciências exatas.
Mas nada, nada de anormal, nada de relevante e nenhuma lem-
brança assim muito  que merecesse ser mencionada.
 E o senhor lembra o que levou os pais do senhor a São Pau-
lo? São Paulo, estamos falando de São Paulo, capital?
 São Paulo, capital.
 E o senhor lembra o que os levou a São Paulo?
 Meu pai parece que teve um convite da então Rádio São
Paulo, onde ele tinha um programa chamado Terra sempre ter-
ra, às sete horas da manhã, no qual ele apresentava músicas do
interior do estado, em geral. A gente chamava na época música
caipira, não com as músicas de hoje, mas música caipira. Tinha
um programa, Terra sempre terra, e lhe pareceu interessante
essa mudança, ele foi para São Paulo e aí mais tarde eu fui mo-
rar com eles novamente em São Paulo.
 Os seus pais tinham algum tipo de
envolvimento político? Se interessavam por questões políticas?
 Nenhum deles, nenhum deles. Meu pai... Minha mãe era
uma pessoa de interesses políticos normais, acompanhava a
vida nacional como qualquer outra pessoa, mas não tinha ne-
nhum envolvimento. Meu pai era um homem mais preocupa-
do com coisas intelectuais, gostava de escrever poesia, foi um
bom poeta, publicou até alguns livros, e gostava de escrever,

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