Esquerda e Direita No Judiciário

AutorLuiz Guilherme Marques
Páginas282-283
EsquErda E dirEita No judiciário
Quem mais detalhadamente idealizou e concretizou a hierarquização do
Judiciário foi NAPOLEÃO BONAPARTE há cerca de dois séculos.
Procedeu como autêntico ditador, a quem interessava ter o comando ab-
soluto de todos os setores da máquina estatal, sem lhe escapar um só, por
mínimo que fosse.
Essa estrutura foi posteriormente adotada por vários países, inclusive o
nosso.
Ninguém questiona o fato de as decisões jurisdicionais e administrativas
dos magistrados menos graduados serem reanalisadas pelos mais graduados,
através de recursos próprios, pois essa é uma regra universal.
O que causa certa perplexidade é o tratamento interna corporis muitas ve-
zes dado pelos mais graduados aos menos graduados, por exemplo, no que
pertine à progressão na carreira.
O critério de “antiguidade” não deixa dúvida, pois é simples e automático.
A questão do “merecimento” é que se agura tormentosa, uma vez que, mes-
mo diante de critérios “objetivos”, não há como, em muitos casos, desempatar-se
e ser escolhido quem realmente mereça mais. Em alguns casos, na verdade, ca
a dúvida sobre se houve realmente a intenção de escolher-se o mais merecedor.
Isso é um dos fatores que tem levado muitos magistrados a uma certa
frustração, principalmente aqueles que pretendem “fazer carreira”.
Identicando na estrutura excessivamente hierarquizada dos Tribunais
uma grande diculdade de convivência democrática entre os ocupantes dos
vários níveis da carreira, esses magistrados procuram nas Associações essa
convivência. Nelas não há separação entre chefes e subordinados, pois todos
se nivelam pelo título comum de “associado”.
Pode-se dizer que os Tribunais representam a estrutura de “direita”, en-
quanto que as Associações são segmentos de “esquerda”. Sua convivência
nem sempre é harmônica, mas traduzem-se as duas entidades como os dois
pratos de uma balança: um completa o outro. Os líderes de uma geralmente
não são os da outra. Os acionados de uma não são entusiastas da outra.
Disputam espaço ideológico e lutam por se armar.
As duas estruturas congregam os magistrados utilizando métodos dife-
rentes: os Tribunais exigem obediência, as Associações aceitam participação;
os líderes dos Tribunais são escolhidos apenas pelos seus pares, os dirigentes
das Associações são determinados pela vontade da maioria dos associados.
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