Entre esquerdas renovadoras e refundadoras: os sistemas partidários brasileiro e venezuelano no contexto da 'maré rosa

AutorWanderley dos Reis Nascimento Junior
CargoDoutorando em Relações Internacionais pelo Programa de Doutorado Interinstitucional (IRI/PUC RIO e UNILA)
Páginas99-118
Wanderley dos Reis
Nascimento Júnior
Cadernos Prolam/USP, v.16, n.31, p.99-118, jul./dez.2017
DOI: 10.11606/issn.1676-6288.prolam.2017.134200
99
ENTRE ESQUERDAS RENOVADORAS E REFUNDADORAS: OS SISTEMAS
PARTIDÁRIOS BRASILEIRO E VENEZUELANO NO CONTEXTO DA
“MARÉ ROSA”
BETWEEN LEFTIST RENOVATORS AND REFOUNDERS: THE BRAZILIAN
AND VENEZUELAN PARTY SYSTEMS IN THE CONTEXT OF THE “PINK
TIDE”
Wanderley dos Reis Nascimento Júnior*
PUC-Rio e UNILA, Foz do Iguaçu, PR
Resumo: O artigo tem por objetivo analisar as características dos sistemas partidários
brasileiro e venezuelano no contexto da “maré rosa”. A conformação de diversos
governos que se definem como esquerda ou centro-esquerda, progressistas de uma
maneira geral, representou um momento ímpar para a historiografia política Latino-
Americana e fez emergir uma vasta literatura sobre as trajetórias e características destas
forças políticas. Independentemente das categorizações utilizadas, as forças políticas
que emergiram no Brasil e na Venezuela são inseridas, consensualmente, em categorias
distintas. De modo mais amplo, lançamos mão da metodologia comparativa e, em
sentido estrito, nos fundamentamos no diálogo com as unidades de análise de sistemas
partidários (MAINWARING; TORCAL, 2006 e HUNTINGTON, 1968). Isto posto,
defende-se que distintos sistemas partidários foram responsáveis pela conformação de
diferentes tipologias de esquerdas.
PALAVRAS-CHAVES: Sistemas Partidários; Maré Rosa; América do Sul.
ABSTRACT
Abstract: The article aims to analyze the characteristics of the Brazilian and
Venezuelan party systems in the context of the “Pink Tide”. The conformation of
several governments that define themselves as left or center-left progressives in general,
represented a unique moment for the political history of Latin American and sprouted a
vast literature on the paths and characteristics of these political forces. Regardless of
used categorizations, the political forces that emerged in Brazil and Venezuela are
inserted consensually in different categories. More broadly, we used the comparative
methodology and, strictly speaking, we base on the dialogue with the units of analysis
of party systems (MAINWARING; TORCAL, 2006 and HUNTINGTON, 1968). That
said, it is argued that distinct party systems were responsible for forming different types
of lefts.
Keywords: Party Systems; Tide Rose; South America.
* Doutorando em Relações Internacionais pelo Programa de Doutorado Interinstitucional (IRI/PUC RIO e
UNILA). Mestre em Integração Contemporânea da América Latina pela Universidad e Federal da
Integração Latino-Americana. Bacharel em Relações Internacionais pe la Pontifícia Universidade Católica
de Goiás. Email: wjunioreis@gmail.com
Wanderley dos Reis
Nascimento Júnior
Cadernos Prolam/USP, v.16, n.31, p.99-118, jul./dez.2017
DOI: 10.11606/issn.1676-6288.prolam.2017.134200
100
1. INTRODUÇÃO
O advento do século XXI apresentou para a historiografia política Latino-
Americana um fato sem precedentes: a ascensão de partidos e coalizões que se definem
como esquerda ou centro-esquerda a governos nacionais em diversos países da região.
Tal fato fez emergir uma vasta literatura visando explicar as trajetórias e características
destas forças políticas.
O fator inédito deste acontecimento é corroborado por Roberts (2008, p. 86) ao
afirmar que Este giro político sin precedentes ha ubicado a casi dos tercios de la
población latinoamericana bajo algún tipo de régimen de izquierda y ha hecho trizas el
llamado ‘Consenso de Washington’ ”.
Este fenômeno foi definido por Panizza (2006) como “maré rosa” e faz
referência à ascensão de partidos de centro-esquerda na Europa em meados da década
de 90. Apesar das especificidades distintas entre o caso europeu e o latino-americano, a
expressão foi mantida e a variável “onda rosa” (Silva, 2011) também tem sido utilizada.
Neste período ocorre o empreendimento de diferentes experiências de governos
“progressistas”1 em países como Argentina, Bolívia, Brasil, El Salvador, Chile,
Equador, Nicarágua, Paraguai, Uruguai e Venezuela. À vista disto, autores como
Panizza (2006), Castañeda (2006), Lanzaro (2008), Roberts (2008), Silva (2011),
Levitsky e Roberts (2011) debateram suas trajetórias e apresentaram possíveis
tipologias para o fenômeno.
Dessa forma, assim como demonstraram as características comuns que
possibilitaram a ascensão destes movimentos ao poder central de seus países, estes
autores apresentaram tipologias possíveis e apesar das divergências e convergências,
constata-se, de maneira geral, a existência de dois grupos dentro destas esquerdas.
Panizza (2006), Castañeda (2006) e Lanzaro (2008) defendem a existência de
uma esquerda “populista” e outra “socialdemocrata”, já Silva (2011) apresenta que a
tipificação de uma esquerda “populista” e outra “socialdemocrata” é polissêmica e
acusatória, pois caracteriza, respectivamente, uma como boa e outra como má, portanto,
defende a caracterização de um grupo de esquerdas “refundadoras” e outro de
“renovadoras”.
1 Entendido como governos que buscam “mudanças/transformações”, em maior ou menor medida de
acordo com o caso, em relação ao status quo anterior (SILVA, 2011).

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT