O futuro das relações de trabalho (inclusive coletivas)

AutorGeorgenor de Sousa Franco Filho
Páginas579-588
CAPÍTULO VII
O FUTURO DAS RELAÇÕES DE TRABALHO (INCLUSIVE COLETIVAS)
1. ORIGENS DO FUTURO
O que é futuro? Passado? Presente? Muitas vezes, perguntamos a nós mesmos se existem diferenças entre esses
momentos. Concluímos que o passado é infinito, que o futuro é o presente, e que o presente não existe.
Expliquemos: no momento em que falamos no presente, ele, que antes era futuro, imediatamente passou a
passado. Logo, o presente é apenas a menor parte de um milésimo de segundo que apenas serve de comunicação
entre o que foi (o passado) e o que será (o futuro). Não sabemos o começo do passado como não sabemos o final
do futuro. Sabemos o que é o passado, mas apenas podemos supor o que será o futuro. Podemos presumir sobre
o que vem, e afirmar sobre o que foi. Num mesmo instante, vivemos a transposição do futuro em passado: este
instante é o presente.
Santo Agostinho, nas suas Confissões, escritas entre os anos 397 e 398, bem situou as três espécies de tempo:
passado, presente e futuro. No Livro XI, escreveu:
digo com segurança que sei que, se nada passasse, não existiria o tempo passado, e, se nada adviesse, não existiria o tempo
futuro, e, se nada existisse, não existiria o tempo presente. De que modo existem, pois, esses dois tempos, o passado e o futuro,
uma vez que, por um lado, o passado já não existe, por outro, o futuro ainda não existe? Quanto ao presente, se fosse sempre
presente, e não passasse a passado, já não seria tempo, mas eternidade.(180)
Ao discorrer sobre questão tão delicada, Santo Agostinho acentua que o passado já não existe e o futuro ainda não
existe(181), e arremata, na linha do que igualmente imaginamos, que até essa mesma única hora decorre em instantes
fugazes: tudo o que dela escapou é passado; tudo o que dela resta é futuro(182).
Por isso, vivendo estes primeiros tempos de uma profunda reforma trabalhista no Brasil, cuidemos do sentido
do futuro, do que vem agora para tentar alinhavar pontos e identificar a possível capacidade de transição que temos
nesses instantes de profundas alterações.
Em 1943, quando foi aprovada a CLT, foram reunidos os diversos textos legais esparsos que existiam no Brasil.
A comissão responsável garimpou a legislação que estava vigendo e a sistematizou de modo a facilitar seu enten-
dimento e sua aplicação pela sociedade.
Logo começaram a surgir mudanças e não demorou para termos, como temos ainda hoje, uma fartíssima legis-
lação trabalhista extravagante que se confunde com a CLT e, o pior, confunde quem quer aplicar a CLT.
(180) SANTO AGOSTINHO. Confissões, Livros VII, X e XI. Trad.: Arnaldo do Espírito Santo, João Beato e Maria Cristina Castro-
-Maia de Sousa Pimentel. Covilhã, Universidade da Beira Interior, 2008, p. 111. Disponível em: <http://www.lusosofia.net/textos/
agostinho_de_hipona_confessiones_livros_vii_x_xi.pdf>. Acesso em 27 out. 2019.
(181) SANTO AGOSTINHO. Idem, p. 112.
(182) SANTO AGOSTINHO. Ibidem, p. 114.

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT