Governanca corporativa e velocidade de incorporacao de informacoes: Lead-Lag entre o IGC e o IBrX.

AutorOliveira Neto, José Carneiro da Cunha
CargoGobernancia corporativa, incorporación de informació, IGC, IBrX - Artículo en portugués

(Corporate Governance and Information Incorporation Speed: Lead-Lag between the IGC and IBrX)

  1. Introdução

    O presente artigo tem como objetivo testar a hipótese de que um melhor nivel de governança corporativa reduz os custos associados à incorporação de novas informações aos preços dos ativos da empresas. Dessa forma, é possível que a velocidade de incorporação de informações associada a ativos de empresas com níveis mais elevados de governança seja superior à de companhias com estruturas de governança mais fracas, fazendo com que os preços das ações das primeiras liderem os preços das ações das segundas, caracterizando um efeito Lead-Lag. Há estudos que tratam da relação entre qualidade da informação, transparência e redução dos custos de processamento de novas informações, mas nenhum trabalho sobre o impacto da governança corporativa na velocidade de incorporação de informações aos ativos e conseqüentes efeitos Lead-Lag foi encontrado pelos autores.

    Para que haja possibilidade de maior velocidade de incorporação de informações, os compromissos de transparência e respeito contratualmente formalizados pelas companhias têm de ser críveis no mercado, o que ocorre através de um processo de construção de boa reputação do próprio mercado de governança diferenciada perante a contraparte: o investidor.

    A velocidade de incorporação de informações do mercado de governança diferenciada será maior quanto melhor for a reputação da estrutura contratual privada que a sustenta. Quanto pior for a legislação corporativa e o sistema jurídico de determinado país e mais eficazes forem os instrumentos contratuais e as instituições que fundamentam o mercado de governança diferenciada, maior será a diferença na velocidade de incorporação de informações entre os mercados; maior será, então, o efeito liderança. Nesse sentido, o efeito Lead-Lag pesquisado não está relacionado apenas a uma eventual liderança entre mercados, mas, também, à avaliação de qual mercado encontra primeiro o equilíbrio após um choque e qual converge posteriormente para esse equilíbrio.

    A estratégia de estimação do efeito adotada é uma variação da utilizada por Brooks et al. (2001) e Pati & Rajib (2010).

    Ela tem como principal objetivo analisar a convergência das séries à relação de equilíbrio de longo prazo.

    O estudo está focado na estimação do efeito Lead-Lag, com base na análise da velocidade de incorporação de informações entre o mercado de governança diferenciada e o mercado convencional. Não foram realizados testes empíricos para relação entre preços e fundamentos. Apesar do uso da teoria neoclássica permitir a extrapolação de algumas conclusões, essas devem ser observadas com cautela.

    A análise do efeito Lead-Lag começa em maio de 2009 e termina em fevereiro de 2010, período no qual o mercado brasileiro de governança diferenciada já pode ser considerado razoavelmente consolidado. Os dados são intradiários na freqüência de 15 minutos, sendo utilizada a cotação de fechamento. Perfazem 5.582 observações de preços e 5.581 observações de retornos. A hipótese é de que os instrumentos contratuais privados que fundamentam o mercado de governança diferenciada aumentam à velocidade de incorporação de informações aos ativos desse segmento, quando comparado com o mercado tradicional. Dessa maneira, deveria existir um efeito Lead-Lag entre o índice de Governança Diferenciada (IGC) e o índice Brasil de Ações (IBrX). Os dados utilizados foram obtidos no sistema CMA de cotação de ativos.

    Para estimativa do efeito liderança, com foco direcionado ao estudo de qual série atinge primeiro o equilíbrio de longo prazo, estimou-se um modelo VECMGARCH-BEKK; adicionalmente foi testada a causalidade de Granger entre o IBrX e o IGC. A evidência do efeito liderança é diagnosticada ou refutada pela significância estatística das variáveis defasadas. Já a avaliação de qual série atinge primeiramente o equilíbrio e qual converge posteriormente para essa posição foi realizada por meio do sinal e da significância estatística do parâmetro estimado para o Mecanismo de Correção de Erro (ECM). A interpretação do coeficiente segue Brooks et al. (2001).

    As evidências encontradas não permitem a rejeição da hipótese proposta e indicam que o mercado de governança lidera o mercado tradicional. Foi encontrada causalidade unidirecional de Granger do IGC para o IBrX, assim como indícios, apontados pelo sinal e significância estatística do Mecanismo de Correção de Erros (ECM), de que o mercado de governança diferenciada encontra seu preço de equilíbrio de longo prazo mais rapidamente que o mercado tradicional, e que o último converge para a relação de equilíbrio apontada pelo primeiro.

    Os resultados encontrados têm implicações positivas para o atual movimento de melhoria das práticas de governança nas empresas brasileiras de capital aberto, pois referendam os esforços feitos pela BM&F Bovespa, assim como pelos órgãos regulatórios e demais participantes do mercado, para o aperfeiçoamento do mercado de capitais brasileiro. Embora o presente artigo não tenha a pretensão nem a possibilidade de demonstrar categoricamente, é possível que a redução dos custos de processamento da informação esteja associada à redução de problemas de assimetria de informação e à percepção pelo mercado de melhorias na qualidade das informações prestadas e do ambiente legal.

  2. Referencial Teórico

    A informação possui papel central na Teoria Financeira. Entre diferentes correntes de pensamento, tais como a abordagem neoclássica e finanças comportamentáis, existem divergências sobre como ela é incorporada ao preço dos ativos, ou na forma como os indivíduos a transformam em ação efetiva, mas todas concordam com sua importância.

    Usualmente, os estudos sobre a dinâmica da incorporação de informações ao preço, à estrutura e ao design do mercado, que inclui a relação entre formas contratuais e formação de preços, e a habilidade dos participantes em observar informações relevantes ao processo de negociações são concentrados em uma subárea científica conhecida como Microestrutura do Mercado (Madhavan, 2000). Não só mercados de capitais em vários países possuem microestruturas diferentes, como o mesmo mercado de capitais pode ter consideráveis distinções com relação à transparência e à estrutura contratual entre as diversas classes de ativos nele negociadas.

    Fama (1991) argumenta que para qualquer discussão sobre equilíbrio é necessário que se leve em conta a maneira como a informação é incorporada ao preço. Lucas (1978, 1986) defende que o processo de aprendizagem e os demais incentivos existentes na economia são suficientes para que os indivíduos façam o melhor uso possível da informação disponível. Por sua vez, Byrne & Brooks (2008) acreditam que nem sempre os investidores processam as informações disponíveis de maneira correta ou, quando o fazem, podem, ainda assim, assumir comportamentos questionáveis.

    A qualidade e a complexidade da informação são fundamentais para seu uso efetivo e têm conseqüências diretas sobre o custo de capital e o valor de mercado de uma empresa, assim como sobre a velocidade de incorporação de informações pelo mercado. Easley & O'Hara (2004) encontraram evidências de que empresas que estejam em mercados com grandes níveis de informação privada possuem maior custo de capital, que cai na medida em que a informação pública se torna dominante. Botosan et al. (2004) apontam para uma relação inversa entre a precisão das informações públicas e o custo de capital, enquanto, na medida em que a precisão das informações privadas aumenta, o custo de capital da empresa também aumenta. Em ambos os casos, quanto maior a assimetria de informação entre os agentes econômicos, maior o custo de capital das empresas.

    Para Bushman et al. (2004), uma gestão pouco transparente dificulta o processo de acompanhamento da empresa, o que aumenta a demanda por melhores níveis de governança, que, em última instância, deve melhorar o nível de transparência.

    Plumlee (2003) analisou o impacto da complexidade da informação em seu uso prático. Segundo a autora, na medida em que a informação ganha complexidade torna-se mais difícil sua incorporação nas estratégias adotadas pelos investidores; em casos extremos, onde a informação é exageradamente complexa, ela não é sequer processada. Essa conclusão segue Jensen (1978), para quem uma informação só é utilizada quando seu benefício marginal supera seu custo de processamento. Nessa linha, há forte coerência com o apontado por Easley & O'Hara (2004) e Botosan et al. (2004): na presença de dificuldades para processar informação, o custo do capital cresce para compensar o risco adicional.

    Ainda em Plumlee (2003), a autora evidencia que informações mais complexas demandam mais tempo para serem incorporadas. Diferenças entre tempo de incorporação de informação também são encontradas por Brenanneí al. (1993), onde firmas maiores, acompanhadas por maior número de analistas, incorporam novas informações a seus preços de mercado de maneira mais rápida do que empresas menores, acompanhadas por menos investidores.

    Sunders (1992) questiona a idéia de que, em um equilíbrio competitivo, os ativos financeiros revelam a informação de maneira que o fluxo de caixa descontado de se produzir a informação é zero. Para o autor, quando o custo da informação é fixado em um patamar suficientemente alto, agentes informados e desinformados se distribuem no mercado de tal forma que os informados conseguem recuperar seus investimentos.

    Oliveira & Medeiros (2009) procuraram evidenciar o efeito Lead-Lag entre os mercados acionários norte-americano e brasileiro, o que propiciaria previsibilidade aos preços das ações negociadas no Brasil, indicando uma segmentação entre esses mercados e trazendo possibilidade de arbitragem. Embora os autores tenham constatado que o Ibovespa é, em grande parte, explicado pelo movimento antecedente do índice Dow Jones, os resultados mostraram que a realização de arbitragem não é...

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