José Hernández e o gaúcho Martin Fierrro

AutorMárcio Bobik Braga
CargoPROLAM/USP
Páginas171-172

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Conforme destaca o crítico literário contemporâneo Julio Ramos “Escrever, a partir de 1820, respondia à necessidade de superar a catástrofe — o vazio de discurso, o cancelamento das estruturas — que as guerras tinham provocado. Escrever, nesse mundo, era dar forma ao sonho modernizador; era civilizar, ordenar o sem-sentido da barbárie americana”.(1) A fala de Ramos destina-se a Domingo Faustino Sarmiento e sua obra Facundo ou Civilização e Barbárie. Muitos autores, como Sarmiento, defendiam, no século XIX, uma modernização da América tendo como referência as cidades europeias, o liberalismo de Adam Smith e David Ricardo e uma educação universal. Alguns autores, entretanto, perceberam que esse processo civilizatório excluía os gaúchos e o interior de boa parte da América do Sul. Tratava-se de uma “modernização” que privilegiava apenas uma classe interessada nos lucros do comércio internacional. Um desses autores foi o argentino José Hernández (1834 — 1880), um dos representantes do gênero da poesia gauchesca. Sua obra maior foi o poema Martin Fierro, que apareceu pela primeira vez em 1872 e que relata o sofrimento de um pobre gaúcho dos pampas argentinos que é recrutado pelas forças do exército para lutar contra os índios “selvagens” da fronteira. Mais do que a obra, a arte e a estética, existe a denúncia. Hernández era também jornalista e defensor da causa federalista contra o poder e arbitrariedade do Partido Unitário de Buenos Aires. Foi crítico dos conflitos da Região do Prata e opositor de Sarmiento, que ocupou a presidência da Argentina entre 1868 e 1874. De certa forma, Martin Fierro pode ser considerado a antítese de Facundo. Conforme destaca nossa crítica literária Bella Jozef, “Por sobre as lutas entre unitários e federais, agiganta-se, ao lado do Facundo, de Sarmiento, representando, ambas, as duas faces da nacionalidade argentina. Muita tinta terá corrido para explicar as posições de seu autores”.(2) A seguir, apresentamos

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fragmentos do poema...

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