A política econômica brasileira e o combate à inflação na segunda metade da década de 90

AutorAdriane Maria Silocchi
Páginas21-32

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1 Introdução

A superação1 da crise brasileira, após a segunda metade da década de 80, passou por várias tentativas de combate à inflação através de tratamentos de choque. Fracassadas, uma após outra, essas tentativas agravaram as distorções na economia e provocaram frustração e desconfiança na sociedade. Esse fracasso tornava ainda mais difícil a superação do problema, pois o sucesso de um plano governamental depende de algumas exigências básicas.

Diagnóstico correto, com identificação dos problemas e dos recursos e mecanismos para enfrentá-los; adequação e coerência das medidas adotadas, e sua compatibilidade com os recursos disponíveis; credibilidade e eficiência do governo; apoio políticoparlamentar; comportamento favorável dos agentes econômicos (banqueiros, empresários, trabalhadores); confiança e apoio da sociedade. (BRUM, 1999, p.452-453).

Na segunda metade da década de 90, a economia brasileira mostra um grande empenho do Governo na condução de uma política econômica estabilizadora e no combate à inflação, principalmente na sustentação da saúdePage 22 econômica do país baseada na retomada dos investimentos produtivos, no crescimento da economia e na manutenção dos baixos índices de inflação verificados no início deste período. Este trabalho visa sintetizar alguns conceitos e tipologias da inflação pertinentes ao entendimento deste momento econômico em análise, bem como analisar as linhas gerais desse novo projeto nacional com bases consistentes e possibilidade real de implementação - Plano Real.

2 A política econômica brasileira e o combate à inflação
2. 1 Conceitos fundamentais

Em economia o termo inflação é amplamente utilizado para interpretação de um fenômeno considerado, tradicionalmente, agregado. Fusari (1981, p.20) define a inflação como “a representação da alta contínua dos preços dos bens de consumo (duráveis e não duráveis ou imediatos), bens de capital (ou de produção), insumos (ou bens intermediários), mão-de-obra e recursos naturais.” Já para Pereira (1982, p.123), inflação significa “o processo de aumento contínuo e geral de preços no tempo”. Esses dois conceitos podem ser fundidos na definição:

Extremamente a inflação se apresenta como o aumento geral e cumulativo de preços. Geral no sentido de que a elevação de preço de um só produto não configura surto inflacionário. Para que exista, é indispensável que estejamos diante de um fenômeno generalizado. (MAGALHÃES, 1982, p.39)

Desta forma, podemos dizer que um simples aumento de preços de um produto, não significa, necessariamente, a ocorrência da inflação. Exceto se o produto for insumo que compõe o custo da maioria dos bens econômicos. Na prática, os índices de preços são utilizados para medir a inflação e para efetuar ajustamentos temporais, no confronto de valores de períodos anteriores aos preços atuais.

2. 2 Tipologia das inflações

A tipologia das inflações é uma das formas de classificá-las de acordo com sua magnitude em relação ao índice geral de preços agregados;

  1. Inflação lenta - indica pequenos aumentos de preços, não ultrapassando um dígito ao ano;

  2. Inflação moderada - a taxa inflacionária chega a dois dígitos anuais; e

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  3. Inflação galopante - atinge três dígitos ao ano. Nesse tipo de inflação, também chamada de hiperinflação, os preços dos bens econômicos aumentam de forma exagerada e excessiva, como foi o caso dos aumentos de preços da América Latina nos anos 80 e 90.

2. 3 Causas da inflação e as explicações teóricas

Podemos destacar dois grandes grupos de teóricos com pontos de vista distintos que abordam as causas da inflação. No entanto, é importante primeiramente, discriminar numa demonstração mais abrangente, os motivos pelos quais as taxas inflacionárias são alimentadas:

  1. Inflação estrutural: decorrente do desequilíbrio da estrutura produtiva. Surgem certos “pontos de estrangulamento” caracterizados por escassez anormal de alguns fatores de produção e de algumas matérias-primas. É através da menor oferta de insumos básicos em relação à demanda que sobem os preços dos bens intermediários e, por conseguinte, grande parte dos bens finais. Com o desequilíbrio da estrutura, a mão-de-obra qualificada pressiona os salários mais elevados e os custos sobem. Subindo os custos, sobe o preço de venda;

  2. Inflação de demanda: gerada pela expansão dos rendimentos. Os meios de pagamento crescem além da capacidade de expansão da economia, impedindo que esse aumento de demanda seja atendido, culminando num aumento dos preços e salários, dando origem a uma espiral inflacionária;

  3. Inflação de custos: processo inflacionário gerado pela elevação do nível dos custos de produção, formados pelas taxas de câmbio, de juros, de salários ou preço das importações;

  4. Inflação corretiva: é a inflação que o governo provoca ao congelar os preços dos aluguéis, impostos indiretos, combustíveis, energia, transportes etc., no instante em que passa a subsidiar alguns insumos, como por exemplo, o trigo, os combustíveis e os lubrificantes. Ocorre que o déficit nas empresas estatais e o aumento do dispêndio público são inevitáveis. Quando o governo acaba o congelamento corrigindo os preços (além de eliminar os subsídios) dos bens econômicos, constata-se o aumento do custo e do preço de venda de grande parte dos produtos gerados pelo sistema produtivo;

  5. Inflação importada: ocorre quando os preços dos insumos importados, que fazem parte da maior parte dos produtos, sobem. Desencadeia um processo de elevação do índice geral de preços, além de influenciar negativamente no balanço de pagamentos e, consequentemente, elevar a dívida externa; e

  6. Inflação psicológica: é outra forma pela qual o índice geral de preços pode ser afetado. Na expectativa de alta dos preços no futuro, as famílias comprarão hoje porque amanhã os preços serão mais altos. Esse tipo de inflação também sofre influência dos empresários:

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    Extremamente a inflação se apresenta como o aumento geral e cumulativo de preços. Geral no sentido de que a elevação de preço de um só produto não configura surto inflacionário. Para que exista, é indispensável que estejamos diante de um fenômeno generalizado. (MAGALHÃES, 1982, p.39)

    Com relação às explicações teóricas sobre as causas da inflação, elas seguem duas linhas de pensamento.

  7. Os ortodóxicos: também chamados de monetaristas, interpretam e combatem o surto inflacionário com medidas estritamente monetárias, porque a inflação estaria vinculada ao déficit orçamentário do governo. O ideal ortodoxo é promover um certo percentual de crescimento anual da economia acompanhado por um mesmo percentual de expansão dos meios de pagamentos. Este seria o caminho lógico para eliminar a inflação, concentrando-se no...

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