A indústria cinematográfica nigeriana
Autor | Charles Igwe |
Ocupação do Autor | Um dos maiores produtores cinematográficos da Nigéria |
Páginas | 107-124 |
A indústria cinematográfica nigeriana
*
Charles Igwe**
Dados comparativos apresentados pelo autor para a palestra
Número de filmes produzidos em 2005:
EUA — 611
Índia — 934
Nigéria — mais de 1.200
(Fonte: Cahiers du Cinema, Atlas do Cinema, 2005)
Boa noite a todos. Meu nome é Charles e acreditem em mim quando eu
digo que vim de muito longe. Eu não sou a pessoa que originalmente
deveria estar aqui. Amaka é quem inicialmente estava escalada. Amaka
é minha esposa e é a artista criativa nesse grupo. Ela é escritora e dire-
tora de alto padrão na Nigéria, provavelmente uma das melhores. Tem
sido uma pioneira na indústria. A minha atividade tem sido mais ligada
à captação de recursos, e eu também sou um pioneiro nessa indús-
ª ª ª ª ª ª ª ª ª ª ª ª ª ª ª ª ª ª ª ª ª ª ª ª ª ª ª ª ª ª ª ª ª
* Esta é uma transcrição da apresentação feita por Charles Igwe no seminário The Rise of
People’s Cinema [A Emergência do Cinema do Povo]. O evento aconteceu no dia 11 de maio de
2006 e foi organizado pelo Centro de Tecnologia e Sociedade na Escola de Direito da Fundação
Getulio Vargas, no Brasil, em parceria com o Link Centre da Universidade de Wits, na África
do Sul. Foi realizado no marco do projeto Cultura Livre, apoiado pela Fundação Ford, que visa
a discutir o papel da propriedade intelectual como um incentivo para a produção da cultura e
seu desenvolvimento. Uma das conclusões provenientes das investigações do projeto é a de que
os atuais parâmetros de proteção da propriedade intelectual são benéficos para certos tipos de
negócio, como o do cinema de Hollywood, mas não para outros. A propriedade intelectual pode
não representar um incentivo para outras formas de produção cultural, que são igualmente im-
portantes em termos econômicos e de especial relevância para o mundo em desenvolvimento.
A transcrição da palestra foi realizada por Roberta Zaluski e sua tradução por Arthur Protasio,
Eduardo Magrani e Koichi Kameda.
** Um dos maiores produtores cinematográficos da Nigéria.
108 ª Três dimensões do cinema
tria. Nós dois coordenamos o African Film and Television Programmes
Market. Além disso, também gerencio alguns outros negócios e empre-
sas relacionados à produção audiovisual. Somos donos de uma produ-
tora na Nigéria e também de uma das maiores empresas de distribuição.
Sou banqueiro por experiência e ofereço consultoria para empresas de
serviços financeiros que querem investir dinheiro na indústria cinema-
tográfica nigeriana.
Mais uma vez, estou muito feliz por estar aqui. Sinto-me honrado
por estar presente em um fórum como esse, pois valorizo iniciativas como
essa. Inicialmente há muita informação sobre o que está acontecendo e
o que tem acontecido com os filmes na Nigéria, pelo que eu não vou me
prender aos detalhes, mas irei apresentar uma visão geral da história que
nos trouxe até aqui. A indústria cinematográfica nigeriana não foi uma
indústria planejada. Nós não decidimos “em 10 anos vamos nos tornar
a maior indústria cinematográfica”. Não fizemos isso. Acho que simples-
mente aproveitamos as oportunidades conforme elas apareceram.
O momento-chave foi em 1992, mas antes disso já havia muitos
filmes sendo feitos na Nigéria. Fomos colonizados pelos ingleses e obvia-
mente os interesses cinematográficos britânicos se estenderam até o país,
e a maioria da nossa produção foi simplesmente para promover o Império
Britânico. Como essa era a única mídia de massa na época, além do rádio,
foi a mídia artificial que trouxe os filmes para o cenário nigeriano. Nos
anos 1970, havia uma empresa americana localizada na Nigéria respon-
sável pela distribuição dos filmes. Ela também coordenava os cinemas no
país. Não eram poucos os cinemas, e a maioria do dinheiro voltava para
Hollywood e servia aos outros interesses da empresa.
Mas alguns fatos específicos ocorreram entre 1970 e 1992, e nos
preparam para o que atualmente acontece na Nigéria. Não foi uma mu-
dança de um dia para o outro, e eu percebo que enquanto falo isso
e ouço tudo o que me falaram, há muitas semelhanças entre nós e o
Brasil. Na Nigéria, em 1957, foi estabelecido o primeiro serviço de tele-
visão por estação de TV da África, localizada no oeste da Nigéria. Em-
bora isso tenha ocorrido em 1957, antes disso os interesses britânicos
pela Nigéria e pela África trouxeram seus filmes e sua expertise para
o território nigeriano, permitindo que o público se familiarizasse com
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