Influence of capital goods investment on economic and financial performance, as moderated by corporate governance/ Influencia do investimento em bens de capital no desempenho economico-financeiro sob a moderacao da governanca corporativa.

AutorPereira, Ana Luiza Cordeiro
  1. Introducao

    Espera-se que os investimentos sejam realizados com o intuito de ampliar o desempenho organizacional e agregar valor (Souder et al., 2016). Diante disso, Myers e Majluf (1984) ressaltam que em um mercado eficiente bastaria que os administradores aceitassem as oportunidades de investimento com Valor Presente Liquido (VPL) positivo.

    No entanto, como demonstram Fortunato et al. (2012) e Cordis e Kirby (2017) a existencia de imperfeicoes de mercado, em especial da assimetria informacional e problemas de agencia, torna necessario que os resultados advindos dos investimentos sejam investigados com maior profundidade, ja que na realidade podem nao agregar valor aos negocios.

    Nesse sentido, o presente estudo tem por objetivo verificar como o investimento em bens de capital impacta o desempenho economico-financeiro das empresas listadas na Brasil, Bolsa, Balcao (B3). Assim como, se a governanca corporativa atua como moderadora nessa relacao, amenizando os efeitos das imperfeicoes de mercado na assertividade das decisoes gerenciais, no que se refere ao desempenho das organizacoes ao realizarem investimentos em bens de capital.

    A partir dos apontamentos de Akerlof (1970), Jensen e Meckling (1976) e Ross (1977), passou-se a considerar que os agentes detem mais informacoes que os principais, e que a possibilidade de maximizacao de utilidade por ambas as partes pode resultar em acoes oportunistas por parte dos agentes que nao beneficiem os proprietarios. Ja que os gestores podem ampliar demasiadamente os investimentos a fim de ampliar seu poderio sobre o capital organizacional e buscar resultados que favorecam seus interesses proprios, o que se agrava ao considerar que os principais nem sempre recebem o mesmo nivel de informacao que seus agentes a respeito das transacoes organizacionais (Jensen e Meckling, 1976; Almazan et al., 2017).

    Nesse aspecto, como afirmam Mishra e Kapil (2017) e Prado (2019), a governanca corporativa pode ser utilizada como um mecanismo que busca um Modelo Eficiente de Mercado. Essa hipotese, fundamenta-se no fato de que a governanca corporativa busca, a partir de politicas, leis e instrucoes que influenciam o gerenciamento e controle de uma empresa, garantir transparencia no relacionamento entre as organizacoes e seus acionistas (Buallay et al., 2017; Abdalkrim, 2017).

    Silveira (2004) afirma que o desenvolvimento das pesquisas sobre governanca corporativa pode contribuir para uma diminuicao dos conflitos de agencia e tambem um aumento do acesso ao financiamento, o que impacta na diminuicao do custo de capital em um ambiente economico. Prado (2019) aponta que as boas praticas de governanca corporativa sao eficientes para amenizar diversos tipos de imperfeicoes de mercados, tais como: custos e problemas de agencia, assimetria informacional, oligopolios e monopolios, entre outras. Os quais podem interferir na decisao dos gestores na hora de definir os melhores investimentos em ativos fisicos, penalizando de forma acentuada o desempenho da empresa.

    Ademais, estudos a respeito de investimento em bens de capital--Capital Expenditure (CAPEX), sao significativos nao so para a academia, ja que, como aponta Majanga (2018), este pode ser considerado uma forma de inovacao dos processos produtivos e incremento da produtividade, principalmente em paises em desenvolvimento, onde a obtencao de tecnologia de ponta se da em sua maior parte por meio de importacoes. Isso, segundo o autor, faz com que boa parte das nacoes do mundo oferecam incentivos fiscais as empresas para realizarem investimento em ativos fixos.

    Isso pode ser percebido no Brasil, por exemplo, na Isencao sobre Produtos Industrializados tais como equipamentos, maquinas, aparelhos e instrumentos novos, e tambem pela Depreciacao Acelerada Incentivada sobre maquinas, equipamentos, aparelhos e instrumentos novos destinados ao uso na producao industrial, incorporados ao ativo fixo (Lei no. 8.191, 1991; Medida provisoria no. 2.159-70, 2001).

    Herrerias e Orts (2012) ressaltam a significancia de tais dispendios ante o desenvolvimento das nacoes. De acordo com os autores, o crescimento economico da China ocorreu somente apos 1970, quando o pais mudou o seu foco de investimento em infraestrutura e passou a investir em maquinas e equipamentos, ampliando nao so o volume produtivo, como tambem a produtividade a longo prazo.

    Assim, este estudo se justifica pelo incentivo ao investimento, que e percebido no Brasil, expresso por exemplo, pelas linhas de financiamento para compra de maquinas e equipamentos, das quais se pode citar as oferecidas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) (Associacao Brasileira da Industria de Maquinas e Equipamentos, ABIMAQ, 2019b). Alem disso, destaca-se o montante de recursos destinado ao investimento em bens de capital para as empresas brasileiras, que em maio de 2019 investiram mais de R$11 bilhoes em maquinas e equipamentos, sendo incluidas tanto as aquisicoes de bens produzidos no pais, quanto importados (ABIMAQ, 2019a).

    Destaca-se ainda que embora se tenha encontrado estudos que vinculam o investimento em bens de capital a alguma metrica de desempenho economico- financeiro, isso nao se deu considerando-se a rentabilidade, liquidez, endividamento, atividade operacional, e valor de mercado de maneira holistica. E muitos dos resultados nao apresentaram significancia estatistica, impossibilitando a confirmacao de relacao entre as variaveis (McConnell e Muscarella, 1985; Fortunato et al., 2012; Alarcon e Sanchez, 2013; Saito e Padilha, 2015; Tortoli e Moraes, 2016; Fernandez-Cuesta et al., 2019; Jaisinghani et al., 2018; Chen e Chang, 2019; Moser et al., 2019). Ademais, apesar de se encontrar trabalhos que citam a governanca corporativa como potencial mitigadora das imperfeicoes de mercado, ela nao foi inserida nos modelos (Laksmana e Yang, 2015; Alexandridis et al., 2018; Jiang e Zhang, 2018; Chen e Chang, 2019)

    Os resultados deste trabalho mostraram que o investimento impacta significativamente sobre liquidez, endividamento, atividade operacional e valor de mercado. Adicionalmente, observa-se a moderacao da governanca corporativa sobre as relacoes entre investimento em bens de capital e indicadores que refletem resultados voltados para o mercado: liquidez, endividamento, e valor de mercado.

    Tais resultados podem favorecer aos gestores, que ao realizarem esses investimentos passarao a ter conhecimento dos impactos gerados, assim como os stakeholders internos e externos as empresas, acionistas que investem nas organizacoes com o intuito de ampliar sua riqueza, e o governo que incentiva o investimento, a fim de inovar e desenvolver o sistema produtivo nacional.

  2. Referencial teorico

    Para Majanga (2018), ante a gestao dos recursos financeiros de uma organizacao, o gestor possui basicamente tres possiveis decisoes: financiamento, distribuicao de dividendos e investimento. Nesse contexto, destaca o investimento, que exerce impacto na maximizacao da riqueza, ja que pode gerar beneficios as operacoes da empresa e a capacidade futura de distribuir dividendos aos investidores em suas acoes. Isso porque, investimentos com valor presente liquido positivo sao potenciais geradores de fluxos de caixa, os quais podem ser investidos nos negocios de modo a explorar oportunidades de crescimento (Souder et al., 2016). Desse modo, os governos tendem a oferecer beneficios fiscais para o investimento em ativos fixos de longo prazo (Majanga, 2018), o que faz surgir a primeira hipotese a ser testada pelo presente estudo:

    H1: Os beneficios fiscais impactam positivamente o investimento em bens de capital realizado pelas empresas listadas na B3.

    Cordis e Kirby (2017) apontam que os gerentes devem realizar novos projetos de investimento apenas se aumentarem o valor para o acionista. Fortunato et al. (2012) complementam ao afirmarem que as empresas possuem necessidade constante de investimentos, uma vez que estes podem ser realizados a fim de aumentar a producao e assim captar a demanda excedente no mercado, inovar com o intuito de reduzir custos ou alcancar ganhos de produtividade, repor equipamentos depreciados, ou ainda como forma de dificultar a entrada de novos concorrentes no mercado.

    No entanto, como mostram Cordis e Kirby (2017), existem imperfeicoes de mercado que tornam necessarias analises mais profundas acerca dos impactos trazidos pelos investimentos, ja que estes podem nao agregar valor ao buscar, por exemplo, atender interesses proprios dos gerentes, o que caracteriza um problema de agencia (Fama, 1970; Jensen e Meckling, 1976; Kayo e Fama, 1997). Almazan et al. (2017) destacam a assimetria de informacoes sobre os investimentos entre os diferentes stakeholders, de modo que os executivos detem as informacoes e as repassam aos demais. Os autores mostram que executivos sem restricoes tendem a investir demais, uma vez que niveis mais altos de investimento transmitem informacoes favoraveis a seus colaboradores, que com isso passam a ser mais produtivos. Ademais, Jaisinghani et al. (2018) destacam que certo grau de incerteza e intrinseco a qualquer projeto que envolva investimentos fixos, especialmente ao considerar ambientes altamente volateis.

    Como uma tentativa de solucionar problemas de agencia consequentes da separacao entre controle e propriedade, destaca-se a governanca corporativa que, a partir de um conjunto de restricoes as acoes dos gestores, busca reduzir a alocacao inadequada de recursos dos investidores (Shleifer e Vishny, 1997; Correa et al., 2015; Prado, 2019). Nugroho et al. (2018) identificaram que em mercados altamente competitivos, os administradores sao instigados a se envolverem em investimentos de maior risco.

    Isso, segundo os autores, acentua a importancia da governanca corporativa como moderadora das acoes dos administradores, no que tange as decisoes vinculadas a gastos de capital. Ademais, destacam que a governanca corporativa afeta positivamente o acesso ao financiamento e minimiza o que...

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