Movimentar-seem tempos de desesperanca.

Autorda Silva, Caroline Rodrigues
CargoTexto en portugues - Resena de libro

ZIBECHI, R. Territorios em Resistencia--Cartografia politica das periferias urbanas da America Latina. Rio de Janeiro: Consequencia Editora, 2015.

Apos treze anos do Partido dos Trabalhadores no governo brasileiro (2003-2015) o pais vive um golpe democratico desde 31 de agosto de 2016, quando a presidenta Dilma Rousseff foi impedida de continuar o mandato para qual foi eleita. Durante todos esses anos, fez-se uma politica de conciliacao entre os interesses populares e os interesses das elites que causou um dano irreparavel aos movimentos sociais: esses foram perdendo sua autonomia politica e material, deixando suas referencias ideologicas e desarticulando sua forma de acao. Diante do desastre politico atual, a analise que apresentamos busca contribuir para reflexao critica sobre os novos rumos dos movimentos sociais brasileiros daqui em diante.

Raul Zibechi e um intelectual uruguaio, jornalista por formacao e um profundo conhecedor das lutas dos paises da America Latina. Parte dos movimentos sociais e dos grupos sociais em movimento para entender as transformacoes sociais, demonstra grande preocupacao com a articulacao entre os processos de resistencia, por isso, faz ao longo da sua trajetoria uma leitura conjunta das resistencias na America Latina.

O livro Territorios em Resistencia--Cartografia politica das periferias urbanas da America Latina foi escrito em 2007, quando o progressismo estava no topo, contudo so foi publicado no Brasil em 2015. Chama atencao por combinar a reflexao sobre a experiencia dos governos autoproclamados progressistas e de esquerda na America Latina com a analise do processo de resistencia das periferias urbanas durante esses governos. Parte do pressuposto que as cidades se tornaram funcionais ao processo de acumulacao do capital e, no caso das periferias urbanas, aponta que sao o novo cenario geopolitico decisivo, por serem potencias emancipatorias e nao problemas sociais (DAVIS, 2007). Logo, tanto a esquerda quanto a direita latino-americana buscam manter o controle sobre elas, seja por meio de planos militares (Rio de Janeiro e Porto Principe no Haiti, por exemplo) ou por meio de programas sociais (Brasil/ Fome Zero/ Bolsa Familia).

De acordo com o autor, estes governos resultam dos processos de luta dos movimentos sociais da America Latina que tanto acumularam experiencias institucionais--nos casos do Brasil com Lula e Dilma; Argentina com Nestor e Cristina Kirchner; do Uruguai com Tabare Vasques; do Chile com Michele Bachelet--quanto enfrentaram irrupcoes de crises politicas profundas, como e o caso do Equador com Rafael Correa, da Bolivia com Evo Morales e do Paraguai com Fernando Lugo. Independente do processo de cada pais, em todos se estabeleceram pontos de interseccao entre Estados e movimentos sociais que criaram novas governabilidades. Denominada pelo autor como "a arte de governar os movimentos", essa nova governabilidade se apoiou num conjunto de medidas que vao desde modos disciplinares tradicionais ate a adocao de politicas focadas na pobreza, estimuladas por organismos internacionais de cooperacao para o desenvolvimento. A grande dificuldade encontrada pela "arte de governar" foi escolher as ferramentas para enfrentar os movimentos sociais que estao em constante movimento, se levantando regularmente de diferentes lugares, se manifestando a partir...

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