A Educação a Distância, o uso de novas tecnologias e a ênfase no audiovisual

AutorOctavio Lionel Binvignat Gutierrez
Páginas77-87

Octavio Lionel Binvignat Gutierrez. Formado na Faculdade de Ciências da Saúde na Universidade de Chile, 1977; Especialista em Antropologia Física Forense, Genética de Populações e Anatomia Humana; Mestre em Ciências pela Escola Paulista de Medicina; Doutor em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo; Doutorando em Educação pela AWU/Iowa/USA.

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1 Introdução

Progressivamente se chegou ao convencimento de que o sistema de educação em massa, tal como foi desenvolvido durante o século XX, não conseguirá defrontar aos desafios do século atual. É crucial, nesse contexto, que os docentes reavaliem constantemente suas estratégias de ensino e osPage 78 estilos de aprendizagem dos estudantes, de maneira a fazer as modificações necessárias para uma educação adequada a uma sociedade mutante. Muitos conhecimentos e habilidades emergentes e essenciais de educação não são nem conhecidas nem aplicadas pelos docentes. Entre eles, destaca-se a educação a distância.

Entre as novas tecnologias recomendadas aos docentes, mencionam-se as redes televisivas e os laboratórios de televisão interativa. O uso de redes televisivas permite a um emissor de programas educacionais enviar programações a múltiplas pessoas receptoras. A educação a distância inclui, ademais, em suas tecnologias, o uso de computadores, impressoras e modens.

Todas essas tecnologias aparecem hoje em dia como essenciais para o desenvolvimento profissional dos educadores e são elementos básicos da educação a distância, que se está constituindo, assim, numa linha de desenvolvimento central para um docente que quer se aperfeiçoar. Uma questão comum a muitos educadores é se os estudantes a distância aprendem na mesma proporção que os estudantes numa sala de aulas.

As investigações que comparam ambos os tipos de educação indicam que o ensino e o estudo a distância podem ser tão efetivos como a instrução tradicional quando os métodos e tecnologias usadas são apropriados às tarefas instrucionais, quando há um verdadeiro grau de interação estudanteestudante e quando há periodicamente estímulos desde o professor ao aluno. No entanto, muitas dúvidas e questionamentos se fazem presentes em relação ao tema, de modo que se deve caracterizar de forma plena a contextualização da educação a distância, seus problemas, conceitos, dúvidas e diferenças.

2 A educação a distância
2. 1 O renascimento

Com o objetivo de fazer chegar a educação a todo aquele que a precisa, apareceram as práticas de educação a distância. Essas práticas exigiram sempre a existência de um elemento mediador entre o docente e o discente. Geralmente, o mediador foi uma tecnologia, que foi variando em cada momento. Se historicamente nos referíamos ao correio convencional, que estabelecia uma relação epistolar entre o professor e o estudante, com o tempo fomos introduzindo novas tecnologias que, por seu custo e sua acessibilidade, permitem-nos evoluir nesta relação a distância (BATES, 1989). Conquanto Armengoli (1987) expressa suas dúvidas com respeito ao fatoPage 79 de que exista uma verdadeira teoria da educação a distância, também é verdadeiro que houve quem tentou demonstrar o contrário: que esta, ou estas, existem.

Baseando-se nesse conceito, observa-se que existe um verdadeiro acordo para estabelecer três grandes blocos de teorias ou, pelo menos, de tentativas de teorizar a base da educação a distância (MAGNEM, 1992): (a) teorias baseadas na autonomia e na independência do estudante (Delling, Wedemeyer e Moore); (b) teoria baseada no processo de industrialização da educação (Peters); e (c) teorias baseadas na interação e na comunicação (Baath, Holmberg, Sewart e outros).

Faz relativamente pouco tempo, Lucena e Fucks (2000) permitiram analisar a comparação entre algumas destas; simultaneamente, oferecem sua visão particular. No entanto, acolhendo a teoria que for, sempre aparecerão elementos comuns em todos os casos. O primeiro destes é o objeto de qualquer sistema educativo: o estudante. A análise de suas necessidades e de suas características específicas (idade, nível educativo prévio, status social, disponibilidade de tempo para o estudo, etc.) converte-se em elementos absolutamente condicionantes que, em caso de não os ter em conta, impedem definir qualquer modelo de educação a distância mediado por alguma tecnologia.

De fato, há quem objetaria que isso poderia aplicar-se à educação em geral, e assim é. No entanto, bem como na formação presencial ou convencional (HOLMBERG, 1985), por regra geral, dirige-se a um grupo, seja este homogêneo ou não. Quando entramos em contextos de educação a distância, o indivíduo foi analisado de forma segregada com respeito a seu grupo de origem, se este existe.

Um segundo elemento é o docente. É fundamental o papel que o professor desenvolve na relação com o estudante. Em realidade, existe um fato muito interessante nas teorias mais comumente analisadas: todas falam de “diálogo”, ou de um conceito equivalente, como um modelo de educação a distância. O conceito “diálogo” contribui com elementos muito enriquecedores em certos casos, mas também há ocasiões em que não contribui com praticamente nada. Somente Hiltz (1998), que mais mantém do que tenta elaborar uma teoria da educação a distância, não utiliza o terceiro elemento. E aí é onde aparece outro dos conceitos básicos: a interação. Tratando-se de modelos baseados na autonomia ou de modelos baseados na comunicação (em ambos os casos), observa-se que a interação é considerada um efeito positivo.

Analisaram-se as diferentes tipologias de interação mais habituais nas relações que se estabelecem nos modelos de educação a distância, chegando-se a propor modelos transacionais (KEEGAN, 1991), mas sempre sePage 80 realizou essa análise em um contexto onde a comunicação entre estudantes e professores era possível, mas não o era entre os próprios estudantes se não “rompessem” com a...

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