Oficinas de matemática na faculdade da serra gaúcha: inovando práticas no ensino superior

AutorAdriana Verza/Cesar Pandolfi/Everton Fêrrêr de Oliveira/Maria Ignez Spadari Artico/Patrícia Costa Duarte
CargoMestre em Matemática Aplicada pela UFRGS/Mestre em Engenharia de Produção pela UFRGS/Mestre em Educação pela UFSM e Coordenador da RADEPE/FSG/Especialista em Matemática e Aplicação pela UCS/Doutora em Engenharia de Produção pela UFRGS
1 Introdução

O desenvolvimento de uma proposta colaborativa visando à melhora de situaçõesproblema das práticas educativas é uma constante em todos os níveis do ensino. Vivemos um turbilhão de reformas educacionais visando à transformação do modelo educativo pautado por uma racionalidade meramente técnica, pois o desafio apresentado à sociedade e a suas instituições educacionais é transformar o ensino em uma ferramenta poderosa aos sujeitos, viabilizando a reflexão crítica e, conseqüentemente, formando pessoas mais criativas e humanizadas frente às situações cotidianas que mediam as relações interpessoais.

Nesse sentido, o ensino em todas as suas áreas tem se reconfigurado em busca de possibilidades, inclusive no ensino superior. As práticas educativas têm sido problematizadas, e a necessidade de implementar um processo inovador é, sem dúvidas, o anseio de muitas instituições de ensino superior.

A Faculdade da Serra Gaúcha (FSG) tem incentivado seu quadro docente a essa inovação, por meio da Coordenadoria Educacional e do apoio da Rede Acadêmica de Desenvolvimento Profissional e Educacional (RADEPE). Assim, busca orientar iniciativas de inovação pedagógica nos cinco cursos1 distribuídos nas Escolas Superiores2.

Este artigo apresenta um relato sobre as atividades desenvolvidas pelos professores do Curso de Administração da área de Exatas, incentivados por sua coordenação de curso e pela RADEPE, em torno da problemática dos obstáculos pedagógicos enfrentados por alunos e professores no ensino da matemática no Curso de Administração da FSG. Diante desse foco, decidiuse implementar um processo diagnóstico junto aos alunos que ingressam no Curso de Administração da Faculdade da Serra Gaúcha - FSG, na cidade de Caxias do Sul, no primeiro semestre de 2005.

O trabalho foi estruturado por meio da aplicação de um questionário aos alunos da instituição. Em seguida, tratouse da realização de análise, desenvolvimento e prática das Oficinas de Matemática. A fim de ilustrar esse processo, será apresentado o delineamento metodológico, o objetivo e a prática das oficinas.

O Projeto "Oficinas de Matemática - FSG" surgiu das necessidades básicas dos alunos em relação à matemática, desde problemas como contagem e álgebra à dificuldade de relacionar a disciplina com o cotidiano, passando pela reflexão sobre a ação dos professores do ensino superior.

A relevância do projeto está em proporcionar aos alunos melhores condições de acompanhamento e aproveitamento de todas as disciplinas, desenvolvendo habilidades matemáticas como as de estimar resultados, quantificar valores, reconhecer quantidades, entender partições e expressarse simbolicamente, dando significado ao texto matemático com o contexto real.

Muito tem sido discutido sobre a dificuldade e o despreparo atual dos alunos diante do aprendizado da matemática, mas o que efetivamente tem sido feito para diagnosticar e sanar esta problemática?

Na tentativa de ilustrar o contexto em que se busca a implementação da ação alguns levantamentos preliminares foram realizados. Isso porque a dificuldade dos alunos com relação à matemática e a definição do momento exato do surgimento desse problema na vida discente são mais trabalhosos quando o públicoalvo é adulto.

Segundo Loos (2004), Piaget afirma que é agindo sobre o meio ambiente que o indivíduo elabora os sistemas de organização de sua ação sobre o real. Todavia, as relações dos indivíduos com o meio físico não podem ser vistas como um sistema fechado, sendo a interação social uma condição necessária para essa construção. Piaget deixa transparecer a sua preocupação com a complementaridade dos processos cognitivo e social ao questionar se a lógica consiste numa organização de operações, que são definitivamente ações interiorizadas e tornadas reversíveis.

Tratar essa problemática não é tarefa fácil. Os alunos vêem de um longo período de despreparo diante do pensar críticocriativo, atropelados por calendários acadêmicos apertados e cheios de conteúdos a serem "vistos", pois é isso que na maioria das vezes ocorre: o desenvolvimento do raciocínio é substituído pelo atropelo de conteúdos maçantes e sem nenhuma ligação com a realidade cotidiana de nossos alunos.

A preocupação com a aprendizagem da matemática tem acompanhado as transformações dos seus processos pedagógicos e gerado mudanças no sentido de promover o indivíduo em diferentes dimensões, de modo que lhe seja propiciado o desenvolvimento da habilidade de identificar e resolver problemas, no contexto do meio em que atua, redimensionandoos, propondo soluções, aperfeiçoando estas e utilizandoas em novas situações, sempre com o comprometimento com a qualidade de seu saber e com valores éticos e morais (SOARES et al., 2005)

Pensar em aprendizagem matemática também é repensar mudanças nas instituições de ensino, na cultura dos professores e, principalmente, nos hábitos educacionais de nossos alunos.

Para Paulo Freire, em uma entrevista concedida a alunos da Universidade São Judas Tadeu, de São Paulo,

[...] tudo aquilo que diga respeito, direta ou indiretamente, com a formação de educando, portanto, educador também, e não apenas terá que ver apenas ou somente com a enumeração temática dos conteúdos de uma escola. Isso tem a ver quando você pensa na administração de uma escola, quando você pensa numa certa escola, mas tem que ver também, não é ainda um currículo (invisível?), mas é um currículo implícito. Não sei se eu estou... Quer dizer, não estão escritos e inscritos, alguns conteúdos que devessem permear a cotidianidade de uma escola como essa do sonho da gente. Uma escola pública... A mim interessa discutir...

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