Operadores Do Direito Meio Psicólogos

AutorLuiz Guilherme Marques
Páginas487-488
oPEradorEs do
dirEito MEio PsicóloGos
A
recente prisão de um operador do Direito acusado de pedolia tem
gerado discussões acaloradas. A maioria sugere punições duras e humi-
lhação pública do pretenso culpado.
Esse caso me fez lembrar um conto que relata que, num país antigo,
havia um penalista rigoroso, preocupado em construir presídios cada vez
mais seguros contra fugas. Em determinado dia, em que passeava tranquilo
perto da sua mansão, foi confundido pelos guardas reais com um assaltante
perigoso e acabou recolhido ao presídio. Por mais que tentasse inocentar-se,
somente daí a alguns dias foi reconhecido como sendo aquele prestigioso
homem da lei e assim foi solto. Todavia, a partir daí passou a ter uma visão
muito mais humana dos processos criminais e dos infratores.
A narrativa bíblica do “julgamento” da mulher adúltera é outro incen-
tivo à reexão sobre o risco dos julgamentos rigorosos, porque, em quase
todos os casos, parecemos, pelo menos um pouco, com os próprios réus.
Michel de Montaigne – o famoso pensador renascentista, que também
foi juiz – alertava que todas as pessoas, se fossem julgadas severamente, me-
receriam, por suas faltas reconhecidas ou ocultas, a pena de forca pelo menos
meia dúzia de vezes.
Em suma, tudo nos leva a não adotar a severidade nos julgamentos o-
ciais ou particulares, pois somente quem foi perfeito como o Cristo poderia
julgar perfeitamente. Para nós vale o alerta: “com a medida com que medir-
des os outros, também sereis medidos”...
A Psicologia tem grande contribuição a dar para o autoconhecimento,
necessário inclusive para nós operadores do Direito.
Pelo fato de sermos conhecedores das leis e da jurisprudência dos Tri-
bunais não estamos acima da condição humana. Nossas virtudes e defeitos
são os mesmos da maioria daqueles que guram nos processos como réus,
vítimas, testemunhas etc.
O fato de envergarmos uma toga ou uma beca não nos isola das nossa
próprias fragilidades, oscilações e tendências negativas. Somente a Fraterni-
dade, colocando-nos em atitude de compreensão com os outros, nos sublima
e coloca em condição de analisar as falhas alheias e orientar os faltosos para
o ajustamento necessário à boa convivência no meio social.
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