Polarizada, bélgica está há um ano sem governo

Sede das instituições da União Europeia (UE), o pequeno reino da Bélgica vive uma crise política própria. Está há um ano sem governo. Por incrível que pareça, o país funciona e a economia, aparentemente, cresce. Só não se sabe até quando o chamado governo temporário, ou "affaires courantes", no jargão oficial, poderá continuar a evitar temas espinhosos, que precisam ser conduzidos por um primeiro-ministro eleito pela maioria do Parlamento.Ontem, o rei Filipe reiterou que a missão dos dois "formadores" " como são conhecidos os representantes que ele designou para buscar um acordo de coalizão entre os partidos " é urgente. Eles têm até 13 de janeiro, sem pausa para as festas. Diferentemente do Reino Unido, onde a rainha não se intromete na política, na Bélgica o monarca tem poder constitucional para tanto. Outros cinco "formadores" tiveram a mesma tarefa ao longo deste ano, mas jogaram a toalha.Ascensão dos radicaisA Bélgica está sem governo desde 18 dezembro de 2018, quando o partido de centro-direita flamengo N&VA deixou a coalizão que estava no poder, após o país assinar, contra a vontade da legenda, o Pacto Mundial para Migração da ONU. À época, o rei optou por não antecipar as eleições previstas para maio. Mas o pleito, meses depois, tampouco foi capaz de resolver o problema. Dividido como nunca, o eleitorado não deu maioria a nenhum dos partidos tradicionais. Pelo contrário, a polarização que varre a Europa não poupou a Bélgica.Até 2014, os chamados partidos tradicionais, originados no século XIX, se alternavam no controle do Parlamento. Isso facilitava a formação de um governo que representasse a unidade nacional. Mas a fragmentação do sistema partidário e a volatilidade dos eleitores embaralhou o jogo." Eles perderam a sua fatia no percentual de votos e vivem um processo de erosão " disse ao GLOBO o professor de política da Universidade KU Leuven, Bart Maddens.O que acontece com a Bélgica não é diferente do resto da Europa. No entanto, o cenário se complica num país em que o elemento linguístico tem peso definitivo. O país, que corresponde a dois terços do estado do Rio em dimensão, é dividido em três regiões (Flandres, onde se fala o holandês; Valônia, francófona; e Bruxelas, a capital, que é bilíngue) e tem cinco parlamentos: o nacional, o de Flandres, o da Valônia, o de Bruxelas e da região onde se fala o alemão. A nova composição abre espaço para as legendas mais extremas do espectro político, a ultradireita em Flandres, e a...

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