É preciso remontar sempre ao primeiro convênio

AutorJean-Jacques Rousseau
Páginas37-38

Page 37

Mesmo que eu conciliasse tudo quanto refutei até aqui, os fomentadores do despotismo não estariam, a propósito, mais avançados. Haverá sempre uma grande diferença entre submeter uma multidão e reger uma sociedade. No fato de homens esparsos serem sucessivamente subjugados a um único, independente do número que constituam, não vejo nisto senão senhor e escravos, e não um povo e seu chefe; é, se se quiser, um ajuntamento, mas não uma associação; não há nisso bem público nem corpo político. Esse homem, tivesse embora dominado a metade do mundo, não deixa de ser sempre um particular; seu interesse, distinto dos demais, é sempre um interesse privado. Se esse mesmo homem vier a perecer, seu império, após si, fica disperso e dividido, como um carvalho que se desfaz e tomba num monte de cinzas, depois que o fogo o consumiu.

Um povo, diz Grotius, pode entregar-se a um rei. Segundo Grotius, um povo é, pois, um povo antes de se entregar a um rei. Essa doação é um ato civil, supõe uma deliberação pública. Antes de examinar o ato pelo qual um povo escolhe

Page 38

um rei...

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT