Prefácio
| Autor | Diana Poppe |
PREFÁCIO
Uma das armadilhas da infância é que não é preciso se en-
tender para se sentir. Quando a razão é capaz de entender
o ocorrido, as feridas do coração já são profundas demais.
- Carlos Ruiz Zafón
Preparando este prefácio, não pude deixar de lembrar da pri-
meira indagação com que a psicanalista Fraçoise Dolto, inicia seu
livro “Quando os pais se separam”.1 “Será que o estado de desenten-
dimento entre os pais não abala o filho tão profundamente quanto a
separação ou o divórcio?”
A dificuldade em separar o exercício da conjugalidade da paren-
talidade, seja pelo ex-casal, seja por apenas um deles, torna-se hoje o
principal obstáculo para o exercício da corresponsabilidade parental,
e acaba, muitas vezes, por impedir a efetiva participação de ambos os
pais no processo de educação e formação dos filhos após o divórcio.
Enquanto o direito de família caminhou a passos largos para o
fim da perquirição da culpa nas dissoluções conjugais, pais eterni-
zam suas angústias com o esfacelamento de suas relações, buscando,
muitas vezes, no Judiciário, soluções para questões que transbordam
a seara jurídica.
Não raro, termos como guarda compartilhada, alienação pa-
rental, violência doméstica, entre outros, parecem adentrar no voca-
bulário do ex-casal, ainda que desconheçam a função e a finalidade
desses institutos, que passam a ser utilizados como verdadeiras
armas numa guerra em que se esquece que os filhos estão no meio do
campo de batalha. Nesse cenário, a distância entre o discurso e a ação
parece cada vez mais longínqua e o exercício de uma parentalidade
responsável e cooperativa algo quase intangível.
Esse contexto já nos evidencia a importância e a pertinência
deste livro, que reflete a bagagem, a experiência e o cuidado de uma
1. DOLTO, Fraçoise. Quando os pais se separam. Rio de Janeiro: Editora Zahar. 2. ed. 2011.
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