Prefácio

AutorConrado Paulino da Rosa
Ocupação do AutorPós-Doutor em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina. Doutor em Serviço Social ? PUCRS. Mestre em Direito pela UNISC, com a defesa realizada perante a Università Degli Studi di Napoli Federico II, na Itália. Professor da Graduação e do Mestrado em Direito da Faculdade do Ministério Público ? FMP, em Porto Alegre, onde coordena os...
PáginasXV-XVIII
PREFÁCIO
“Eu nunca imaginei que fosse passar por isso...”
Essa é uma das frases mais verbalizadas por aqueles que precisam do sistema de
Justiça, principalmente no campo de ações litigiosas. Af‌inal, como pode um senti-
mento tão verdadeiro, único, e o anseio de uma construção de vida se transformarem
em um agir tóxico, inf‌lexível e destrutivo?
Talvez, adentrando em mares sobre os quais não disponho de conhecimento
teórico, o desejo de dilacerar o outro, custe o que custar, tenha como motor tão so-
mente a vontade de apagar aquilo que ainda se sente. Rasgar as fotos impressas, jogar
fora os presentes recebidos e deletar as marcas virtuais do outro não são ef‌icazes para
atender ao desejo de resolução instantânea do desgosto do f‌im do amor
No âmbito do processo civil, designamos, há muito, os participantes do processo
como “partes”. Em nenhuma outra área do Direito essa terminologia faz tanto sentido
porque, af‌inal, quem está em parte não está “inteiro”.
Essas “partes”, na trajetória do luto afetivo, infelizmente, a luta pode parecer a
melhor alternativa. Na batalha dos sentimentos, a culpabilização do outro que, inva-
riavelmente, pode denotar apenas a falta de autorresponsabilização, passa a ocupar
também o espaço da parentalidade.
Nessa doentia disputa, desviando-se daquilo que se espera em relação à pessoa
a quem se ama, os f‌ilhos são usados como telefones sem f‌io, cobradores de dívidas,
e, muitas vezes, são forçados a escolher um lado em um conf‌lito de lealdade cujas
marcas perdurarão.
A prática da alienação parental, impulsionada pelo âmago destrutivo que inde-
pende de gêneros, acaba sendo uma patologia do amor, pois mantém um discurso
aparentemente protetivo e apenas mascara um ascendente com sede: a de vingança.
Nesse verdadeiro “campo minado” que se materializa em processo nas Varas
de Família é que o saber interdisciplinar se faz imperioso, fornecendo às famílias
em litígio uma oportunidade única a quem a Constituição Federal destina proteção
especial.
Dessa forma, revelam-se a pertinência e o preciosismo da presente obra, “A
criança e o adolescente e o caminho do cuidado na Justiça”, escrita pela sabedoria
de quem desfruta de dois saberes, a Psicologia e o Direito. Há mais de vinte anos, a
autora contribui, de forma efetiva, à infância – não apenas em sua brilhante trajetória
no Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, mas também junto às famílias
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