Tecnicas quantitativas de otimizacao de carteiras aplicadas ao mercado de acoes brasileiro.

AutorSantos, Andre Alves Portela
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Quantitative Portfolio Optimization Techniques Applied to the Brazilian Stock Market

  1. Introducao

    Os modelos quantitativos de otimizacao de carteiras tem ganhado notoriedade na area de financas em virtude de sua aplicabilidade pratica nos processos de alocacao e gestao de carteiras de investimento. A abordagem da otimizacao de carteiras, proposta inicialmente por Markowitz (1952) em seu artigo seminal "Portfolio Selection", deu origem ao que hoje e popularmente conhecido como Teoria Moderna do Portfolio e analise media-variância de carteiras de investimento, transformando o processo de alocacao de ativos em um processo de otimizacao. A ideia introduzida em seu artigo e a que investidores deveriam considerar o trade-off fundamental entre retorno esperado e risco ao determinar qual a melhor alocacao de suas carteiras, escolhendo a carteira com a menor variância entre um infinito numero de carteiras que proporcionassem um determinado retorno ou, de forma equivalente, para um determinado nivel de aversao ao risco, deveriam escolher a carteira que maximizasse o retorno esperado.

    Essa abordagem revolucionou a teoria de financas ao mudar o foco da analise de investimentos da selecao de ativos individuais em direcao a diversificacao, colocando pela primeira vez em bases solidas e matematicas a relacao entre risco e retorno e mostrando que o risco da carteira nao depende apenas do risco associado a cada ativo, mas da covariância entre ativos individuais. No entanto, apesar de sua grande influencia, quase 60 anos apos a publicacao do artigo de Markowitz, ainda existe certa relutância entre gestores de recursos em adotar a estrategia quantitativa de otimizacao baseada no trade-off risco-retorno. Uma das razões e que a implementacao destas estrategias na pratica esbarra na dificuldade de se obter estimacões acuradas dos retornos esperados dos ativos e da matriz de covariâncias desses retornos. Tais estimativas amostrais sao usualmente obtidas via maxima verossimilhanca (MV), supondo retornos normalmente distribuidos. No entanto, conforme argumentam DeMiguel & Nogales (2009), embora as estimativas de MV sejam muito eficientes para a distribuicao normal presumida, seu desempenho e altamente sensivel a desvios da distribuicao empirica ou amostral da normalidade. Levando-se em consideracao as amplas evidencias na literatura financeira de que a suposicao da normalidade dos retornos nem sempre e valida, e de se esperar que as estimativas amostrais estejam sujeitas a erros de estimacao, os quais podem prejudicar a composto das carteiras obtidas com base nesses estimadores. Por exemplo, Michaud (1989), Best & Grauer (1991) e Mendes & Leal (2005), entre outros, observam que pequenas mudancas nos dados de entrada para o calculo das medias e da matriz de covariância dos retornos podem causar mudancas significativas nos pesos dos ativos das carteiras otimas. Alem disso, existem evidencias empiricas que mostram a inferioridade destas carteiras instaveis em termos de desempenho fora da amostra (DeMiguel & Nogales, 2009).

    Em virtude disso, a introducao de novos metodos para a obtencao de estimadores mais robustos para a solucao de problemas de otimizacao tem sido um dos principais topicos abordados em financas nas ultimas quatro decadas. Iniimeras solucões tem sido propostas na literatura para atenuar o erro de estimacao nas medias e/ou nas covariâncias. Jagannathan & Ma (2003) propuseram a introducao de uma restricao de venda a descoberto em carteiras de minima-variância como forma de induzir a estabilidade dos pesos. Eles argumentam que, como os erros de estimacao nas medias sao muito maiores do que os erros de estimacao nas covariâncias, a estabilidade na composto da carteira de minima-variância costuma ser maior em relacao a carteira de media-variância. Jorion (1986) propos um estimador mais robusto ao erro de estimacao para as medias, enquanto Ledoit & Wolf (2003, 2004a,b) propuseram um estimador robusto de encolhimento para a estimacao da matriz de covariância.

    Ledoit & Wolf (2004a) colocaram-se contrarios ao uso da matriz de covariância amostral para fins de otimizacao de carteiras. Os autores ressaltam que a matriz de covariância amostral classica, estimada com os retornos historicos, apresenta baixo esforco computacional e ausencia de vies, mas, em contrapartida, apresenta erro de estimacao elevado, podendo comprometer o desempenho da otimizacao media-variância. Por outro lado, o uso exclusivo de estimadores mais sofisticados reduz o erro de estimacao, mas introduz vieses. Assim, os autores sugerem a aplicacao de tecnicas Bayesianas de encolhimento para a estimacao da matriz de covariância, combinando-se a matriz de covariância amostral com um estimador estruturado, a fim de encontrar os pesos otimos da carteira com propriedades melhoradas (ver Ledoit & Wolf, 2003, 2004a,b).

    Neste artigo buscamos examinar e comparar a aplicabilidade e o desempenho fora da amostra de diferentes tecnicas de otimizacao de carteiras com relacao ao desempenho da carteira ingenua igualmente ponderada 1/N e do indice Ibovespa. Para isso, foram utilizados os retornos de 45 ativos que fizeram parte do indice Ibovespa tanto na data inicial do periodo amostral, 02/03/2009, quanto na data final, 24/11/2011, totalizando T = 677 observacões. Empiricamente, foram empregadas matrizes de covariância estimadas com base em cinco abordagens alternativas, amplamente empregadas por participantes do mercado e academicos: matriz amostral, matriz Risk Metrics e tres diferentes estimadores propostos por Ledoit & Wolf (2003), Ledoit & Wolf (2004a) e Ledoit & Wolf (2004b), respectivamente. O desempenho fora da amostra das diferentes tecnicas de alocacao de carteiras se baseou nas seguintes medidas: retorno medio, desvio-padrâo, Indice de Sharpe (IS), turnover e custo breakeven das carteiras otimizadas e retorno acumulado em excesso ao CDI, considerando-se tambem diferentes frequencias de rebalanceamento. Os resultados obtidos indicam que as estrategias quantitativas de otimizacao representadas pelo modelo tradicional de media-variância de Markowitz e seu caso particular, o modelo de minima-variância, sao capazes de proporcionar resultados positivos tanto em termos absolutos como em termos de retorno ajustado ao risco, sobretudo quando comparados ao desempenho observado da estrategia ingenua de investimentos 1/N e do benchmark de mercado, dado pelo indice Ibovespa.

    Vale observar que estudos anteriores avaliaram o desempenho de carteiras otimizadas utilizando dados do mercado acionairio brasileiro. O trabalho de Thome et al. (2011), por exemplo, propõe a construyo de indices de variância minima para o Brasil. Os autores concluem que o indice construido com base em carteiras de variância minima irrestritas nao consegue um desempenho superior ao indice de referencia. Entretanto, os resultados das carteiras otimizadas melhoram a medida que uma restricao de alocacao maxima em cada ativo e colocada. Nesse sentido, cabe ressaltar que este trabalho difere em varios aspectos em relacao ao trabalho de Thome et al. (2011). Primeiro, a especificacao adotada neste artigo e mais flexivel, pois nao impoe uma restricao de alocacao maxima em cada ativo. Segundo, a amostra e o periodo analisado sao diferentes. Terceiro, consideramos um conjunto maios amplo de estimadores para a matriz de variâncias e covariâncias. Quarto, o algoritmo computacional utilizado para resolver o problema de otimizacao e distinto daquele usado pelos autores. Esses fatores podem explicar a diferenca entre os resultados reportados neste trabalho em relacao ao trabalho de Thome et al. (2011).

    O restante do artigo esta organizado da seguinte forma. Na secao 2, expomos as diferentes tecnicas de otimizacao de carteiras e de estimacao da matriz de covariância usadas neste estudo. Na secao 3, descrevemos os conjuntos de dados, bem como a metodologia empregada na avaliacao do desempenho fora da amostra. Na secao 4 apresentamos os resultados obtidos e, finalmente, na secao 5 expomos as consideracões finais.

  2. Otimizacao de Carteiras de Investimento

    2.1 Metodos de otimizacao de carteiras

    Esta secao buscara descrever brevemente dois modelos alternativos empregados nos procedimentos de otimizacao de carteiras de investimento, bem como a carteira ingenua, que sera usada como benchmark. Inicialmente, apresentaremos a abordagem tradicional de Markowitz com base no modelo de otimizacao por media-variância, buscando-se uma alocacao otima ao longo da fronteira eficiente que minimize o risco da carteira para um dado nivel de retorno esperado. A seguir, sera apresentado o modelo de otimizacao por minima-variância, que pode ser considerado um caso particular do modelo de media-variância, no qual a carteira otima resultante ei a de menor volatilidade. Finalmente, as duas estrateigias apresentadas acima serâo confrontadas com uma estrategia ingenua, na qual a carteira e formada atribuindo-se pesos iguais para todos os ativos.

    Carteira de media-variância

    A otimizacao media-variância de Markowitz (MEV) e a abordagem padrâo para a construcao de carteiras otimas. A suposto basica por tras desse modelo e a de que as preferencias de um investidor podem ser representadas por uma funcao (funcao de utilidade) dos retornos esperados e da variância da carteira. Santos (2010) ressalta que a escolha entre o premio de risco desejado (retorno esperado acima do CDI) depende da tolerância do investidor ao nivel de risco. Individuos menos avessos ao risco podem estar dispostos a aceitar uma maior volatilidade em suas carteiras a fim de alcancar um maior premio de risco, enquanto investidores avessos ao risco preferirao carteiras menos volateis, penalizando, portanto, o retorno esperado. Para incorporar o trade-off otimo entre retorno esperado e risco, considere o problema enfrentado por um investidor que deseja alocar sua riqueza entre N ativos de risco, procurando saber que peso [w.sub.i] deve dar a cada ativo de maneira a atingir o...

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