O Rábula em Ação
Autor | Pedro Paulo Filho |
Ocupação do Autor | Formado pela Faculdade de Direito da Universidade Mackenzie, foi o 1º presidente da 84ª Subsecção da Ordem dos Advogados do Brasil |
Páginas | 146-150 |
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Dotado de raciocínio rápido, em sessão do Júri, depois de uma longa arenga do promotor público, este proclamou impoluto: "Senhores do Conselho de Sentença, eu estou montado no Código Penal".
Fulminante, Quintino Cunha rebateu: "Pois Vossa Excelência fez muito mal em montar em animal que não conhece!"
Risadas na platéia, enquanto o Juiz-presidente exigia silêncio. Muito descuidado no trajar e despojado da vestimenta protocolar, Quintino não se importava em atravessar a cidade, com um pé de chinelo, a fim de aliviar os calos que o judiavam.
Certa vez, enfrentou no plenário do Tribunal do Júri um promotor que se esmerava nos trajes, muito elegante. No ardor dos debates, procurou menosprezar o rábula: "Vossa Excelência vem ao Tribunal de alpargatas! Isto, permita-me que o diga, até desmoraliza a profissão!"
Muito rápido e sem pestanejar, o advogado de defesa deu o troco: "Mas, se eu a desmoralizo com os pés, Vossa Excelência a desmoraliza com a cabeça..."
Certa feita, três portugueses assassinaram, a facadas, em Belém, um farmacêutico, que gozava de grande estima popular.
Puseram o cadáver numa carroça de lixo onde trabalhavam, passearam com ele por várias ruas da cidade e o abandonaram perto do necrotério.
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O crime revoltou a população e, horas depois, os assassino foram presos. Não houve advogado que quisesse defendê-los.
Eis que, inesperadamente, chega à cidade o rábula Quintino Cunha.
O julgamento estava marcado para três dias após a sua chegada e, afrontando a ira do povo, o rábula compareceu ao Tribunal do Júri.
O defensor quase foi linchado pela população.
O promotor público era o afamado doutor Batista Pereira e, quando a população soube que Quintino Cunha aceitara a defesa da causa, o povo queria, a todo custo, arrancá-lo do recinto do plenário.
O juiz-presidente, enérgico, determinou que os oficiais de Justiça, à força, colocassem o patrono dos réus na tribuna da defesa, revoltando os assistentes que estavam no plenário.
No tribunal a figura de Quintino era exótica e estranha, parecendo que estava embriagado.
Na verdade, ele gostava de bebidas alcoólicas de todos os tipos e apresentou-se aos jurados, maltrapilho e despenteado, olhando para um lado e outro, míope como era.
Foi incisivo: "Desejo defender os réus, senhor presidente do Júri, no plenário da culpa".
Seu verbo era admirável e a belíssima entonação de voz impressionava os presentes, que gritavam: "Lincha! Lincha! Mata!"
Aos poucos, a gritaria foi...
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