Por que a reforma política não deve ser confiada apenas aos políticos

Você acredita no Brasil? Consideremos três variáveis: território, população e PIB. Pouquíssimos países possuem mais de três milhões de km2 de área (muitas delas plenamente agricultáveis e repleta de riquezas minerais); reúnem população acima de 140 milhões de habitantes e PIB acima de US$ 800 bilhões. Nesse grupo encontram-se apenas Brasil, Rússia, Índia, China e Estados Unidos[1]. Penso que temos inúmeras vantagens comparativas com os nossos companheiros de Brics, seja por buscarmos trilhar rumo a uma democracia consolidada, não termos disputas religiosas, falarmos apenas um idioma em todo o território, sermos uma sociedade rica em diversidade étnica e afastada de problemas com terroristas.

Temos nossos problemas, alguns dos quais revelados aos olhos da população apenas recentemente. Precisamos reorganizar nosso sistema político, que não vem correspondendo aos desafios para o pleno desenvolvimento socioeconômico da população brasileira. Parece-me, contudo, que são poucas as alternativas realmente válidas que vêm sendo colocadas ao debate.

Afinal, quem está pensando o país para os próximos 20 ou 30 anos? A saída pelo aeroporto, rumo aos EUA ou a Portugal, em definitivo, não me parece ser a melhor alternativa nos dias atuais, pois ainda há oxigênio para respirar por aqui e alternativas para melhorar o Brasil. Exatamente por isso, ouso fazer uma proposta para debate.

Nesse âmbito, o problema está na existência de uma abissal separação entre o povo e os políticos-partidários, entre representantes e representados, de tal modo que a expressão "ele não me representa" virou voz corrente. Porém, como sair dessa sinuca de bico? Será através da reforma política em curso no Congresso? As perspectivas são baixas, não sendo necessárias muitas explicações sobre os motivos pelos quais a classe político-partidária está desacreditada em nosso país, em todos os níveis federativos, sendo que o âmbito federal possui maior visibilidade (Congresso Nacional e Presidência da República). São tantos os envolvidos em escândalos sucessivos que a sociedade não dá mais conta de saber quem está sendo processado por qual das inúmeras operações policiais em curso e seus desdobramentos, nem consegue saber ao certo se quem está solto já esteve preso, ou vice-versa. É digna de registro a Sessão da Câmara do dia 30 de junho, em que o único presente — o único dentre 513 — foi o deputado federal Celso Jacob (PMDB-RJ), que se encontra preso em regime semiaberto, e obteve permissão da Vara de Execuções Penais do DF para comparecer ao trabalho[2]. Precisa de exemplo melhor?

Se nada for feito, seremos chamados novamente às urnas sob as mesmas regras eleitorais, ou sob um remendo delas; e isso, por certo, se revelará como um novo naufrágio de esperanças para a sociedade brasileira.

O pressuposto da proposta é que a reforma política é tão...

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